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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, agosto 24, 2015

Brasileirão é o mais equilibrado do mundo

POR JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, GUILHERME DUARTE E RODRIGO BURGARELLI, de “O Estado de S.Paulo”
Que o Campeonato Brasileiro é equilibrado, todo torcedor intui. Afinal, foram seis campeões diferentes em dez anos. Mas que o Brasileirão é o mais equilibrado entre os principais campeonatos de pontos corridos do mundo, só a estatística poderia confirmar. E confirmou.
Em estudo inédito, o Estadão Dados comparou 65 disputas: as últimas cinco edições de 13 torneios nacionais distintos. Nenhum outro campeonato tem uma simetria tão grande no desempenho dos times quanto o do Brasil. O equilíbrio é evidente no gráfico que ilustra esta reportagem. A curva que simboliza as últimas cinco edições do Brasileirão é a mais simétrica. Lembra um morro cujas encostas têm a mesma inclinação em ambos os lados, culminando em um ponto médio bem centralizado.
Significa não só que a distribuição dos times na tabela de classificação é equilibrada, mas que a distância entre os primeiros colocados e a média – assim como entre primeiros e últimos – é menor do que em outros torneios por pontos corridos.
A curva dos campeonatos nos quais poucos times se distanciam dos demais, como o espanhol, têm o lado dos líderes mais longo e com uma inclinação muito mais suave do que o lado dos lanternas. Isso acontece porque Barcelona e Real Madrid vencem muito mais vezes do que os demais, alcançado taxas de aproveitamento (pontos conquistados em relação ao total de pontos possíveis) mais próximas de 100% do que, por exemplo, o campeão brasileiro. Na última década, Barça ou Real levaram a taça nove vezes.
Para além da comparação visual, há uma medida estatística do equilíbrio – ou desequilíbrio – entre os times de cada campeonato: a assimetria (“skewness”, em inglês). Quanto mais próximo de zero é o valor, mais simétrico é o campeonato.
A assimetria média do Brasileirão é 0,15, enquanto em La Liga (Espanha) ela chega a recordes 1,07. Pode-se dizer que o torneio espanhol é sete vezes mais desequilibrado do que o brasileiro. Na prática, um campeonato equilibrado significa que mais equipes têm chance de disputar as primeiras colocações e levarem o título.
A tendência dos torneios mais simétricos é que a definição do campeão e dos primeiros colocados ocorra mais tardiamente na disputa. Do mesmo modo, a briga entre os lanternas para não ser rebaixado vai até as últimas rodadas.

Foto: Infográfico Estadão/ Fonte: Estadão Dados
SEGUNDO LUGAR
Dos 13 campeonatos nacionais por pontos corridos analisados, o Russo ficou em segundo lugar entre os mais equilibrados, com valor 0,24. Mesmo assim, tem um desequilíbrio 58% maior do que o Brasileirão. Em terceiro lugar ficou o Holandês, com 0,33. Os campeonatos Italiano e Francês ficaram em 6º e 7º lugares, respectivamente, com uma assimetria parecida entre si, mas três vezes maior do que a do Brasileirão.
Os campeonatos Inglês (9º) e Alemão (10º) se equivalem em desequilíbrio entre as equipes que os disputam, com medidas de assimetria de 0,62 e 0,63, respectivamente. O da Alemanha é assimétrico por causa do predomínio do Bayern de Munique, que levou o título cinco vezes na última década. Entre os ingleses, porque apenas três times se alternaram como campeões nos últimos dez anos: Chelsea, Manchester United e Manchester City.
FORA DA CURVA
Entre os torneios europeus, só um se compara em desequilíbrio ao Espanhol. O Campeonato Portuguêstem assimetria de 0,92 – só 14% menor que a dos vizinhos. Como na Espanha, dois times monopolizam o campeonato: só Benfica (três vezes) e Futebol Clube do Porto (sete vezes) foram campeões na última década.
Entraram na conta os principais campeonatos por pontos corridos do mundo: Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha, França, Holanda, Portugal, Rússia, Turquia – além de torneios fora da Europa, como os do Japão, África do Sul e China.
Foram excluídos torneios que misturam pontos corridos a outros sistemas de competição, como mata-mata (caso do Campeonato Mexicano), ou que têm dois turnos com campeões distintos (abertura e clausura), como os da Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Colômbia, pois as estratégias de competição mudam.

Foto: Infográfico Estadão/ Fonte: Estadão Dados

Em 2009, o torneio mais acirrado
Desde o início da disputa do Brasileirão por pontos corridos, em 2003, nenhuma edição do campeonato foi tão equilibrada quanto a de 2009. A disputa nesse ano foi tão acirrada que o campeão (o Flamengo, no caso) conseguiu apenas 15 pontos a mais do que a média dos times do campeonato. Esse recorde não é apenas brasileiro, mas também internacional: não houve campeonato nacional mais disputado que esse em nenhuma das 65 edições analisadas pelo Estadão Dados.
Naquele ano, tanto o campeão como os classificados para a Copa Libertadores só foram decididos na última rodada. Três times chegaram ao último jogo com chances de ser campeão, o que foi inédito na história do Brasileirão: Flamengo, Internacional e São Paulo. Todos os três jogaram em casa e ganharam seus respectivos jogos, mas foi o time carioca que se consagrou campeão por já estar dois pontos na frente dos seus adversários.
Outra curiosidade desse campeonato é que ele foi o único na era dos pontos corridos em que o campeão só chegou ao topo da tabela na penúltima rodada. Antes do Flamengo, cinco outros times lideraram a tabela. Quem esteve lá por mais tempo foi o Palmeiras, que liderou por 17 rodadas, mas acabou o campeonato fora até da zona de classificação da Libertadores, com péssimo desempenho na reta final.
DRAMA ATÉ O FIM
O Campeonato Brasileiro de 2009 foi o mais dramático da história dos pontos corridos, mas está longe de ser uma exceção. O equilíbrio entre os times tem sido a regra. Desde 2006, quando o campeonato passou a ter 20 equipes, a diferença de pontos entre o campeão e a média de todos os times do torneio é de apenas 23 pontos. Por comparação, no campeonato espanhol a distância média que separa o ganhador do título da média do campeonato é de 43 pontos. Ou seja, a distância é quase o dobro em comparação ao campeonato brasileiro.
MENOR DIFERENÇA
Quando são analisados os dados dos 13 maiores campeonatos nacionais de pontos corridos do mundo nos últimos cinco anos, o Brasil é o segundo país com a menor diferença média entre o aproveitamento do líder e a média dos outros times.
O campeão brasileiro ganhou apenas 21% mais pontos do que a média do campeonato. A diferença só não é menor do que no Japão, onde é de 20%.
Metodologia contempla taxa de aproveitamento dos clubes
O equilíbrio nos campeonatos nacionais de pontos corridos para cada país foi calculado pelo Estadão Dados a partir de um estudo preliminar do economista do Banco Mundial Branko Milonovic. Para isso, foi utilizado o conceito de “taxa de aproveitamento”, que corresponde ao número de pontos conquistados por um time dividido pelo total de pontos possíveis.
No Campeonato Brasileiro, a pontuação máxima que um time pode atingir é de 114 pontos, caso ganhe e conquiste os três pontos em cada uma das 38 partidas disputadas. Um exemplo é o Cruzeiro na vitoriosa campanha de 2014, que registrou o aproveitamento recorde dos últimos cinco anos de 70% ao marcar 80 pontos no campeonato nacional.
Nos gráficos que ilustram essa página, a taxa de aproveitamento dos clubes está representada no eixo horizontal. Quanto mais à direita, maior o aproveitamento das equipes. Já o eixo vertical se refere à concentração de times naquela faixa de aproveitamento. Assim, o ponto em que a curva é mais alta revela qual é a pontuação mais comum atingida pelos times naquele campeonato.
Os cálculos foram feitos usando os dados dos últimos cinco campeonatos finalizados.

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Benê Lima