Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, dezembro 13, 2015

Marcos Vicente, presidente em exercício da CBF com a palavra

Presidente da CBF em exercício, o advogado Marcos Vicente
 (Fonte: Folha de São Paulo)
A derrota para a Alemanha na semifinal da Copa de 2014 expôs ao mundo o perigoso estágio de paralisia, letargia e atraso do futebol brasileiro. Nos impôs a busca urgente de caminhos que devolvam à nossa seleção a primazia da genialidade e a exclusividade da arte ao jogar o mais belo e completo dos esportes. Afinal, futebol é arte, é gênio e é sinônimo de Brasil. 
Não se troca governo, não se exorciza os fantasmas do esporte nem se conserta as mazelas de gestões infelizes atropelando leis e ritos. Agir assim é ilegal e ilegítimo, tanto na política quanto no futebol. Fora das regras, tudo é jogo sujo. 
O futebol brasileiro mudará a partir da base, representada por centenas de ligas amadoras que sustentam competições envolventes, pelos clubes e pelas federações estaduais. Modernizaremos a gestão da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em quatro eixos. 
O primeiro é intensificar a capacitação de treinadores, preparadores físicos, supervisores e dirigentes de clubes e federações, processo que já iniciamos. 
Em segundo lugar, priorizar a capacitação e o treinamento do quadro de árbitros e assistentes, seguindo com rigor as normas da Fifa. 
O terceiro eixo é criar os campeonatos brasileiros sub-15 e sub-17 e o Brasileiro sub-20 de seleções estaduais. Isso assegura as "certidões de nascimento" dos atletas na base e fortalece ligas amadoras, clubes e federações. 
E em quarto lugar, internacionalizar, de fato, o futebol brasileiro. Transformar nossos torneios em produtos atrativos para o mercado internacional dará nova fonte de recursos para os clubes. 
A final da Major League Soccer (MLS), a principal liga de futebol dos EUA, foi transmitida para cem países. Há quatro anos a MLS pagava a quem desejasse transmitir seus jogos. Em 2016 as transmissões da liga americana renderão US$ 1 bilhão –algo em torno de R$ 3,9 bilhões. Já nossos clubes penam para fechar suas contas, honrar contratos, investir na base e rolar dívidas. 
Ter clubes fortes, com melhores elencos, fortalece as federações e atrai público. Vender as competições brasileiras para o exterior gerará novos recursos que terão de ser revertidos integralmente para os clubes que disputam os campeonatos de cada série. 
Bem gerido, o futebol é um grande e lucrativo negócio. Nos EUA, os empreendimentos que orbitam em torno dele representam 3,5% do Produto Interno Bruto. Aqui, o futebol não representa sequer 0,25% do PIB. Ainda assim, temos cerca de 300 mil pessoas envolvidas diretamente com ele. O peso de nossa atividade na geração de riquezas é ínfimo ante seu potencial. 
Profissionalizaremos o espetáculo dentro e fora de campo. Não é possível fazer isso sem restaurar a força e o prestígio dos clubes, sem investir na base e sem fortalecer as nossas federações. 
Sem olhar para os adolescentes que batem nas portas dos clubes aos 13 anos, sem lhes dar a "certidão de nascimento" para o mundo do futebol já ali, sem federá-los aos 16 anos, seguiremos assistindo ao êxodo de talentos para centros em que são tratados com mais profissionalismo e onde os contratos são mais rentáveis.O tripé transparência, gestão e resultados está em implantação na CBF e será a pedra de toque do novo futebol brasileiro. Faremos isso respeitando os limites que a interinidade me impõe. 
Mergulhei de cabeça no planejamento, nos problemas, nas contas e nos contratos do futebol brasileiro. Críticas virão e serão ouvidas, porém não dialogaremos com preconceitos nem com interlocutores que defendam a quebra de princípios legais que regem a vida associativa. 
Iremos à base buscar o sopro de genialidade e de renovação que nos trarão a tão sonhada sexta estrela, mudando de vez o perfil do futebol brasileiro. 
Queremos fazer do Brasil, novamente, uma constelação do esporte no mundo. 
MARCUS VICENTE, 61, é presidente interino da CBF - Confederação Brasileira de Futebol e deputado federal licenciado (PP-ES)

segunda-feira, novembro 30, 2015

Futebol como vetor de desenvolvimento de um país

por Amir Somoggi 
Essa semana o Lance! vai publicar um extenso material especial sobre a gestão da Premier League. Todos os dados e análises vão comprovar que o intenso processo de profissionalização do mercado inglês, somado à globalização da competição, a transformaram em uma potência econômica.
O que mais impressiona na pujança da Premier League é o quanto seus 20 times participantes impactam em toda a cadeia produtiva do futebol do seu país.
Segundo estudo da empresa EY da Inglaterra, a liga graças ao seu forte desenvolvimento, produz um gigantesco impacto para o PIB. A análise aponta que a competição é responsável por 6,2 bilhões de libras para a economia do país.
Pelos meus cálculos representa impressionantes 0,31% do PIB do Reino Unido.
footballstadium4

Para chegar a essa conclusão, como em outros estudos de impacto econômico a empresa utilizou em sua metodologia de cálculo as receitas diretas geradas, receitas indiretas e impactos induzidos.
A Premier League gera 3,3 bilhões de libras diretamente, 2,0 bilhões de libras indiretamente e mais 0,9 bilhão de libras induzidos.
Segundo a EY, a Premier League oferece um grande retorno para o Governo, já que somente em impostos e contribuições sociais são 2,4 bilhões de libras produzidos. Esse valor é gerado pela cadeia produtiva associada à competição. Isso representa 39% do impacto econômico total calculado. Em impostos direitos foram 1,3 bilhão de libras, enquanto que os indiretos e induzidos somaram 1,1 bilhão.
vImpacto
A competição gera mais de 103 mil empregos. Isso demonstra o caráter empregador do futebol, já que grande parte dos empregos não são diretos. Quanto mais a liga se profissionalizou mais a cadeia produtiva se beneficiou. O impacto dos empregos é alto, pois gera renda e consequentemente aumento no consumo.
empregos
Alguns fatores foram determinantes para o sucesso econômico da competição. Um sem dúvida o investimento contínuo em infraestrutura de estádios, com alto grau de utilização. A liga tem 96% de ocupação de seus jogos e gera 616 milhões de libras com suas 380 partidas.
Outro foi a busca intensiva de aquecimento de demanda da competição, tanto no mercado doméstico, quanto internacionalmente. A liga fatura somente com direitos internacionais de transmissão um valor incrível de 722 milhões de libras por ano.
A divisão igualitária dos direitos de TV também foi um fator crítico de sucesso para o êxito, bem como a conversão do interesse e intensa audiência em reais oportunidades comerciais. A Inglaterra hoje colhe frutos de decisões acertadas no passado.
No Brasil não há dados conclusivos sobre quanto os 20 clubes da série A impactam em toda a cadeia produtiva do futebol brasileiro e no PIB. Os 20 maiores clubes somados faturam R$ 3,1 bilhões, 0,06% do PIB do Brasil em 2014. As receitas dos clubes não crescem há 3 anos.
Poderíamos produzir para a economia muito mais que o dobro disso, se seguíssemos o modelo inglês. O que precisamos é sair da estagnação com estratégias de longo prazo e vontade política para mudar.

quarta-feira, setembro 02, 2015

A elitização do futebol: ingresso brasileiro é o mais inacessível do mundo


A elitização do futebol: ingresso brasileiro é o mais inacessível do mundo

Torcedor que ganha salário mínimo precisa trabalhar 11 horas para entrar no estádio, enquanto o alemão leva menos de duas

TEXTO: RODRIGO CAPELO INFOGRÁFICO: GIOVANA TARAKDJIAN
28/08/2015 - 08h01 - Atualizado 28/08/2015 13h20
Assine já!
Profut, sancionado por Dilma Rousseff no início deste mês, determina que clubes de futebol, aqueles que decidirem renegociar suas dívidas fiscais com o governo, mantenham "oferta de ingressos a preços populares". Não especifica nem quantos bilhetes, nem a que preço. Mas devia. O ingresso brasileiro é o mais inacessível do mundo para a camada socioeconômica mais baixa da população.
Quantas horas uma pessoa que receba um salário mínimo precisa trabalhar para comprar o tíquete mais barato? A conta, aqui, foi feita por Oliver Seitz*, brasileiro que leciona administração esportiva na University College of Football Business em Londres: divide-se o salário mínimo pela carga horária de trabalho de cada país, depois pelo preço do ingresso mais baixo disponível. Vamos nos restringir aos campeões da última temporada, até porque o jogo do último colocado naturalmente tem menos demanda do que o do primeiro.
Um torcedor brasileiro precisa trabalhar dez horas e 18 minutos para comprar um ingresso, o mais barato, do Cruzeiro. Se o sujeito quiser ir ao Mineirão todo domingo, agora que o time não disputa mais a Copa do Brasil, precisa dedicar quase um quarto da carga de trabalho semanal só para comprar a entrada. Sem considerar transporte, talvez estacionamento, alimentação dentro ou fora do estádio. Um alemão, no lado oposto, tem de ficar na labuta uma hora e 48 minutos para assistir a uma partida do Bayern de Munique.
Talvez a Alemanha não seja a comparação mais justa, porque lá existe a filosofia de perder alguma receita no fim da temporada em prol de uma arena plenamente ocupada. Mas o Brasil é menos acessível do que todos os outros principais países do futebol.
Um francês, no país que tem uma das cargas de trabalho mais baixas da Europa, trabalha duas horas e 36 minutos para ver o Paris Saint-Germain. Um inglês, no território onde a camada mais pobre da população vê futebol pela TV a cabo e ingressos são reconhecidamente caros, leva seis horas e 18 minutos por uma partida do Chelsea. Até argentinos e portugueses, em economias bambas, têm de trabalhar menos para assistir a Racing e Benfica.
Esta análise não pode considerar só o valor do tíquete, mas o poder de compra da população. E elitização se mede não com números médios de preço do ingresso e renda do torcedor, mas mínimos. 
Comparação dos preços de ingressos dos campeões das principais ligas do mundo em 2014 (Foto: Infográfico: Giovana Tarakdjian)
Cruzeiro, por acaso, está bem perto da média da primeira divisão brasileira: 11 horas e oito minutos de trabalho por um ingresso. Alguns demandam um pouco menos, outros muito mais. O mais legal é que, a partir da comparação do futebol brasileiro com as principais ligas europeias, é possível determinar um valor acessível para o cidadão menos endinheirado: R$ 20,63, ou quatro horas e 15 minutos de trabalho com um salário mínimo por mês.
Comparação dos preços de ingressos da primeira divisão do futebol brasileiro em 2015 (Foto: Infográfico: Giovana Tarakdjian )
O ideal, para um estádio de futebol, é que o preço do ingresso seja alto suficiente para que o mandante consiga dinheiro para investir em atletas, mas baixo suficiente para que o estádio esteja totalmente ocupado. O futebol inglês pode se dar ao luxo de cobrar mais caro pelo tíquete porque, afinal, lá os campeões têm 100% dos lugares preenchidos. No Brasil, onde a média nacional fica na casa dos 40%, a maior parte das arquibancadas que fica vazia todo jogo poderia ser ocupada pela camada mais pobre da população. Aquela que, antes da modernização dos estádios forçada pela Copa do Mundo, normalmente comparecia toda quarta e domingo para apoiar o time. Maximizaria, inclusive, as receitas. Um bom negócio para todos.
Não quer dizer que todos ingressos devam custar 20 pratas. Nem que, se custassem, estádios seriam preenchidos. Há mais variáveis que atraem ou afastam torcedores: desempenho do time, ídolo(s), acesso à arena, segurança, conforto, dia, horário, clima, fase do campeonato, se são pontos corridos, se é mata-mata. Mas é fato que o preço é um fator determinante. Tanto que o São Paulo, em 2013, quando baixou preços de ingressos de R$ 26 para R$ 11, em média, aumentou a média de público do Morumbi de 8.500 para 29.800 por jogo. O erro são-paulino, o mesmo cometido pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) no Campeonato Cariocade 2015, foi fixar a quantia em um teto (o valor do bilhete mais caro), e não trabalhar a precificação a partir de um piso (o do mais barato).
Arena lota de baixo para cima. Quando começam as vendas, primeiro esgota o setor que tem entradas mais baratas. Depois, o seguinte. Depois, o seguinte. Se a primeira faixa de preço é cara demais para o torcedor que ganha um salário mínimo, ela é ocupada por outro, e este deixa de pagar pelo setor seguinte. O resultado é que, na hora do jogo, as arquibancadas mais salgadas, geralmente as que ficam visíveis durante a transmissão da partida pela TV, ficam às moscas. O Corinthians passa por isso em Itaquera. Atlético-MG e Cruzeiro, no Mineirão. O Palmeiras, no Allianz Parque. Em resumo: estádio precisa ser setorizado, e as faixas de preço dos ingressos precisam atender a todo tipo de público, do popular à elite, até encher a casa.
O cartola vai argumentar, como já faz, que o preço mínimo precisa ser alto para privilegiar o sócio-torcedor e incentivar a adesão ao programa. Só que para o fulano que ganha R$ 788 por mês gastar R$ 30 só para ter preferência na compra de ingressos, ou desembolsar para lá dos R$ 100 mensais para conseguir 25%, 50% ou 75% de desconto e ainda ter que pagar pelos bilhetes, tampouco é acessível. Também tem a meia-entrada, outro complicador, um problema de toda casa de entretenimento, do cinema e ao concerto musical. Mas nem assim se pode ignorar: futebol está caro demais.
Depois de longas discussões entre CBF, clubes e Bom Senso FC, deputados federais e senadores, esses responsáveis por representar a população brasileira, concordaram com um Profut que agrada a todos, menos ao torcedor. A CPI do Futebol do senador Romário (PSB-RJ) foi para cima dos sigilos bancário e fiscal de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, mas tampouco deu atenção a um dos poucos legados da Copa, a reconstrução dos estádios brasileiros e a consequente exclusão dos cidadãos mais pobres. A considerar que o salário mínimo deveria ser de R$ 2.088,20 para igualar o poder de compra do brasileiro ao do estrangeiro, e que isso nocautearia de vez a economia, tampouco pode-se esperar por uma "ajuda" de Dilma. É isso, torcedor. Conforme-se em ver teu time pela televisão aberta.
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*Oliver Seitz é PhD em indústria do futebol e professor de administração esportiva da UCFB em Londres (oliver@brain.srv.br).

segunda-feira, agosto 24, 2015

Brasileirão é o mais equilibrado do mundo

POR JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, GUILHERME DUARTE E RODRIGO BURGARELLI, de “O Estado de S.Paulo”
Que o Campeonato Brasileiro é equilibrado, todo torcedor intui. Afinal, foram seis campeões diferentes em dez anos. Mas que o Brasileirão é o mais equilibrado entre os principais campeonatos de pontos corridos do mundo, só a estatística poderia confirmar. E confirmou.
Em estudo inédito, o Estadão Dados comparou 65 disputas: as últimas cinco edições de 13 torneios nacionais distintos. Nenhum outro campeonato tem uma simetria tão grande no desempenho dos times quanto o do Brasil. O equilíbrio é evidente no gráfico que ilustra esta reportagem. A curva que simboliza as últimas cinco edições do Brasileirão é a mais simétrica. Lembra um morro cujas encostas têm a mesma inclinação em ambos os lados, culminando em um ponto médio bem centralizado.
Significa não só que a distribuição dos times na tabela de classificação é equilibrada, mas que a distância entre os primeiros colocados e a média – assim como entre primeiros e últimos – é menor do que em outros torneios por pontos corridos.
A curva dos campeonatos nos quais poucos times se distanciam dos demais, como o espanhol, têm o lado dos líderes mais longo e com uma inclinação muito mais suave do que o lado dos lanternas. Isso acontece porque Barcelona e Real Madrid vencem muito mais vezes do que os demais, alcançado taxas de aproveitamento (pontos conquistados em relação ao total de pontos possíveis) mais próximas de 100% do que, por exemplo, o campeão brasileiro. Na última década, Barça ou Real levaram a taça nove vezes.
Para além da comparação visual, há uma medida estatística do equilíbrio – ou desequilíbrio – entre os times de cada campeonato: a assimetria (“skewness”, em inglês). Quanto mais próximo de zero é o valor, mais simétrico é o campeonato.
A assimetria média do Brasileirão é 0,15, enquanto em La Liga (Espanha) ela chega a recordes 1,07. Pode-se dizer que o torneio espanhol é sete vezes mais desequilibrado do que o brasileiro. Na prática, um campeonato equilibrado significa que mais equipes têm chance de disputar as primeiras colocações e levarem o título.
A tendência dos torneios mais simétricos é que a definição do campeão e dos primeiros colocados ocorra mais tardiamente na disputa. Do mesmo modo, a briga entre os lanternas para não ser rebaixado vai até as últimas rodadas.

Foto: Infográfico Estadão/ Fonte: Estadão Dados
SEGUNDO LUGAR
Dos 13 campeonatos nacionais por pontos corridos analisados, o Russo ficou em segundo lugar entre os mais equilibrados, com valor 0,24. Mesmo assim, tem um desequilíbrio 58% maior do que o Brasileirão. Em terceiro lugar ficou o Holandês, com 0,33. Os campeonatos Italiano e Francês ficaram em 6º e 7º lugares, respectivamente, com uma assimetria parecida entre si, mas três vezes maior do que a do Brasileirão.
Os campeonatos Inglês (9º) e Alemão (10º) se equivalem em desequilíbrio entre as equipes que os disputam, com medidas de assimetria de 0,62 e 0,63, respectivamente. O da Alemanha é assimétrico por causa do predomínio do Bayern de Munique, que levou o título cinco vezes na última década. Entre os ingleses, porque apenas três times se alternaram como campeões nos últimos dez anos: Chelsea, Manchester United e Manchester City.
FORA DA CURVA
Entre os torneios europeus, só um se compara em desequilíbrio ao Espanhol. O Campeonato Portuguêstem assimetria de 0,92 – só 14% menor que a dos vizinhos. Como na Espanha, dois times monopolizam o campeonato: só Benfica (três vezes) e Futebol Clube do Porto (sete vezes) foram campeões na última década.
Entraram na conta os principais campeonatos por pontos corridos do mundo: Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha, França, Holanda, Portugal, Rússia, Turquia – além de torneios fora da Europa, como os do Japão, África do Sul e China.
Foram excluídos torneios que misturam pontos corridos a outros sistemas de competição, como mata-mata (caso do Campeonato Mexicano), ou que têm dois turnos com campeões distintos (abertura e clausura), como os da Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Colômbia, pois as estratégias de competição mudam.

Foto: Infográfico Estadão/ Fonte: Estadão Dados

Em 2009, o torneio mais acirrado
Desde o início da disputa do Brasileirão por pontos corridos, em 2003, nenhuma edição do campeonato foi tão equilibrada quanto a de 2009. A disputa nesse ano foi tão acirrada que o campeão (o Flamengo, no caso) conseguiu apenas 15 pontos a mais do que a média dos times do campeonato. Esse recorde não é apenas brasileiro, mas também internacional: não houve campeonato nacional mais disputado que esse em nenhuma das 65 edições analisadas pelo Estadão Dados.
Naquele ano, tanto o campeão como os classificados para a Copa Libertadores só foram decididos na última rodada. Três times chegaram ao último jogo com chances de ser campeão, o que foi inédito na história do Brasileirão: Flamengo, Internacional e São Paulo. Todos os três jogaram em casa e ganharam seus respectivos jogos, mas foi o time carioca que se consagrou campeão por já estar dois pontos na frente dos seus adversários.
Outra curiosidade desse campeonato é que ele foi o único na era dos pontos corridos em que o campeão só chegou ao topo da tabela na penúltima rodada. Antes do Flamengo, cinco outros times lideraram a tabela. Quem esteve lá por mais tempo foi o Palmeiras, que liderou por 17 rodadas, mas acabou o campeonato fora até da zona de classificação da Libertadores, com péssimo desempenho na reta final.
DRAMA ATÉ O FIM
O Campeonato Brasileiro de 2009 foi o mais dramático da história dos pontos corridos, mas está longe de ser uma exceção. O equilíbrio entre os times tem sido a regra. Desde 2006, quando o campeonato passou a ter 20 equipes, a diferença de pontos entre o campeão e a média de todos os times do torneio é de apenas 23 pontos. Por comparação, no campeonato espanhol a distância média que separa o ganhador do título da média do campeonato é de 43 pontos. Ou seja, a distância é quase o dobro em comparação ao campeonato brasileiro.
MENOR DIFERENÇA
Quando são analisados os dados dos 13 maiores campeonatos nacionais de pontos corridos do mundo nos últimos cinco anos, o Brasil é o segundo país com a menor diferença média entre o aproveitamento do líder e a média dos outros times.
O campeão brasileiro ganhou apenas 21% mais pontos do que a média do campeonato. A diferença só não é menor do que no Japão, onde é de 20%.
Metodologia contempla taxa de aproveitamento dos clubes
O equilíbrio nos campeonatos nacionais de pontos corridos para cada país foi calculado pelo Estadão Dados a partir de um estudo preliminar do economista do Banco Mundial Branko Milonovic. Para isso, foi utilizado o conceito de “taxa de aproveitamento”, que corresponde ao número de pontos conquistados por um time dividido pelo total de pontos possíveis.
No Campeonato Brasileiro, a pontuação máxima que um time pode atingir é de 114 pontos, caso ganhe e conquiste os três pontos em cada uma das 38 partidas disputadas. Um exemplo é o Cruzeiro na vitoriosa campanha de 2014, que registrou o aproveitamento recorde dos últimos cinco anos de 70% ao marcar 80 pontos no campeonato nacional.
Nos gráficos que ilustram essa página, a taxa de aproveitamento dos clubes está representada no eixo horizontal. Quanto mais à direita, maior o aproveitamento das equipes. Já o eixo vertical se refere à concentração de times naquela faixa de aproveitamento. Assim, o ponto em que a curva é mais alta revela qual é a pontuação mais comum atingida pelos times naquele campeonato.
Os cálculos foram feitos usando os dados dos últimos cinco campeonatos finalizados.

segunda-feira, agosto 03, 2015

As contradições entre a exportação e a manutenção de jogadores no Brasil


            
Saída de jogadores para o exterior é recorde em 2105 
No primeiro semestre de 2015, de 1º de janeiro a 16 de julho, a saída de jogadores do futebol brasileiro para o exterior teve uma movimentação de 355 profissionais, o maior número desde 2011. Já os valores chegam a US$ 98,8 milhões de dólares, cerca de R$ 306 milhões de reais. Os números da Diretoria de Registro e Transferência da CBF mostram o cenário da janela semestral dos últimos cinco anos, com o detalhamento por tipo de negociação, com vários fatores influenciando os rumos desse mercado:
  • Proibição da FIFA quanto à participação de terceiros nos diretos econômicos de jogadores; 
  • Regras para cadastro de intermediários, com exigências de vários documentos para habilitação; 
  • Fair Play Financeiro, incluído no Regulamento Geral do Campeonato Brasileiro, que prevê a possibilidade de punição a quem atrasar o pagamento; 
  • Teto salarial em diversos clubes, que precisam pagar dívidas e reduzir o valor investido no futebol; Alta do dólar. 

Em junho de 2011, um dólar valia  R$ 1,60. Em junho deste ano, estava valendo R$ 3,10. O mercado de saída do primeiro semestre de 2011 movimentou 146,7 milhões de dólares, algo em torno de R$ 234 milhões. Em 2015, o valor registrado foi de US$ 98,8 milhões de dólares. Pode parecer menos, mas, considerando a cotação atual do dólar, são R$ 306 milhões.
A saída de jogadores do Brasil para o exterior (1º de janeiro a 16 de julho) gerou US$ 98,8 milhões de dólares, equivalentes a 355 transferências, sendo 188 jogadores livres – negociados após fim do contrato com clube brasileiro -, 96 por empréstimo. 32 vendidos e 39 com prorrogação de empréstimos. 
Fonte: Tribuna da Bahia

sábado, agosto 01, 2015

Fatores metabólicos na fadiga do jogador

Mark Hargreaves, da Universidade de Melbourne 
A produção aumentada de ATP por meio das vias metabólicas oxidativa e não-oxidativa no músculos esquelético é essencial para manutenção da força e energia durante o exercício
 
INTRODUÇÃO 
A adenosina trifosfato (ATP) é a fonte imediata de energia química para a contração muscular. Como os depósitos intramusculares de ATP são pequenos, a regeneração contínua de ATP é fundamental para a manutenção da produção de força muscular durante o desempenho sustentável no exercício. Em condições de produção de muita energia (como aquelas observadas durante o exercício de sprint de alta intensidade), isso é obtido por meio da produção não oxidativa de ATP (anaeróbica) seguido de uma quebra de creatinafosfato (PCr) ou da degradação do glicogênio muscular em lactato. 
Quando há uma baixa produção de energia para desempenho prolongado de endurance, o metabolismo oxidativo ou aeróbico dos carboidratos (glicogênio muscular e glicose presente no sangue) e de lipídios (ácidos graxos derivados de depósitos de triglicérides, nos músculos ou no tecido adiposo) oferece praticamente todo ATP necessário para processos celulares que dependem de energia dentro do músculo esquelético. Esses processos metabólicos e sua importância durante o exercício já foram bem descritos (Covle, 2000; Sahlin et al., 1998). 
Atenção considerável foi dada aos mecanismos potenciais de fadiga responsáveis pelo declínio da força e/ou da produção de energia pelo músculo esquelético durante o exercício e o papel que os fatores metabólicos desempenham nessas alterações. Esses fatores metabólicos podem ser categorizados de forma abrangente como a depleção de substratos de energia (ATP e outros compostos bioquímicos utilizados na produção de ATP) e acúmulo de derivados metabólicos (Tabela 1).
Para ler o artigo na íntegra, basta clicar aqui.
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quinta-feira, julho 30, 2015

Série B vai à Globo por dinheiro da Série A e limite a Flamengo e Corinthians

Camila Mattoso, de São Paulo (SP), do ESPN.com.br

Um grupo de representantes da Série B vai se reunir com a Globo na quinta-feira da próxima semana para pedir mudanças ao futebol brasileiro. Presidentes do América-MG, do Náutico, do Paysandu e do Atlético-GO estarão presentes no encontro. A pauta envolve uma série de assuntos, mas o principal será sobre as cotas de televisão.
ESPN.com.br teve acesso ao estudo feito pelos dirigentes sobre o tema, apresentado nesta terça-feira na CBF, que mostra todo o cenário da divisão do dinheiro da TV no Brasil e no mundo. O documento destaca o abismo que existe entre a primeira e a segunda divisão e propõe alterações: além de pedir uma redistribuição para a Série B, a proposta atinge também a Série A.
De acordo com a pesquisa feita por esses clubes, há três grupos no futebol atualmente: 
- Grupo I: clubes com contrato de longo prazo com a TV, que inclui a maioria dos times da Série A e tem um valor total de R$ 930 milhões, estimado.
- Grupo II: clubes que disputam a Série A em 2015, com contrato de um ano com a TV e tem um valor total estimado em R$ 100 milhões.
- Grupo III: clubes que disputam a Série B em 2015, com valor total de R$ 51 milhões (cada um ganha R$ 3 milhões).
Clubes da Série B fizeram um estudo sobre o tema das cotas de televisão© ESPN.com.br Clubes da Série B fizeram um estudo sobre o tema das cotas de televisãoDiante deste cenário, o grupo propõe algumas sugestões, que vão diretamente contra a situação que hoje tem Flamengo e Corinthians, os que mais recebem da Globo.
A partir de 2016, os dois passarão a ganhar R$ 170 milhões ao ano, cada um. Juntos, portanto, R$ 340 milhões. O valor que a dupla tem direito representa 26% do total que a TV paga aos 18 times que faziam parte do Clube dos 13.
a) Limitar o percentual do time que mais recebe em relação ao total em no máximo 10%;
b) Limitar a razão do time que mais recebe em relação ao time que menos recebe em 4 vezes;
c) Limitar o percentual da soma dos cinco times que mais recebem em no máximo 40%;
d) Limitar o percentual da soma dos dez times que mais recebem em no máximo 65%.
Além desses itens, a proposta dos clubes da Série B é para que a negociação com a TV volte a ser feita em conjunto, após o contrato vigente, e não mais separadamente, como acontece hoje em dia. 
Enquanto os atuais acordos não acabam, o grupo formado pelos times da segunda divisão pedem mudanças imediatas para conseguirem se ajeitar. 
a) Manter o valor de R$ 3 milhões para cada clube;
b) Acrescentar um valor de R$ 100 mil para cada posição no ranking dos 17 clubes, ou seja, o último do ranking recebe R$ 100 mil, o penúltimo R$ 200 mil, assim sucessivamente até o primeiro, que receberá R$ 1,7 milhão, para a temporada 2015.
c) Acrescentar da mesma forma acima um valor de R$ 100 mil de acordo com cada posição do último campeonato da Série B, para a temporada de 2015.
"Nós apresentamos hoje um estudo. O grupo foi criado há um tempo e essa foi a primeira vez que encontramos todos os clubes da B desde então. Foi a formalização da existência desse grupo", afirmou Glauber Vasconcelos, presidente do Náutico, em contato com a reportagem.
"Há muitos assuntos para serem tratados. A questão dos estádios, a questão dos horários de jogos e uma série de outras coisas. Claro que o tema das cotas de TV é muito importante e vamos já chegar com uma sugestão para eles. Fizemos um estudo grande sobre o assunto e estamos bem embasados", acrescentou Mauricio Sampaio, presidente do Atlético-GO.

sexta-feira, julho 10, 2015

Gol da Alemanha: Com US$ 60 milhões repassados pela Fifa, CBF entregou apenas um dos 16 centros de treinamento previstos



 Bruno Marinho e Leo Burlá
Como herança por ter sido sede da Copa de 2014, a Fifa anunciou que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teria U$ 100 milhões de dólares (cerca de R$ 321,5 milhões) para investir no legado do futebol nacional. Em outubro, a entidade comunicou que destinaria 60% destes recursos para a construção de 16 centros de treinamento. Mas, passados oito meses, pouco aconteceu e a Alemanha ampliou a goleada. No país que humilhou o Brasil na semifinal da Copa, são 366 centros de desenvolvimentos de jovens que trabalham para manter a hegemonia germânica no futebol. 
Por aqui, a entidade só finalizou a compra de um terreno em Rondônia, e busca locais em outros cinco estados que não receberam o Mundial. Nas outras nove cidades que receberão os centros, nada avançou. Pronto mesmo só o de Belém, que foi inaugurado à época da Copa de 2014. O acordo com a Fifa é que todos estejam funcionando até o final de 2018. 
Na ótica da CBF, estes equipamentos terão um caráter social, ainda que as federações possam usar os espaços como forma de fomento ao futebol de cada um dos estados contemplados. 
- A CBF criou um projeto e haverá uma metodologia que será implementada junto com alguns projetos da Fifa já existentes para categoria de base, e outros que serão criados e adaptados - explicou Dino Gentille, diretor de Legado da CBF. 
Embora disponha de uma soma considerável - que é repassada gradativamente pela Fifa - os impostos são grandes vilões. Na transferência de recursos para a infraestrutura, há uma cobrança de 42% de tarifas. Está sob responsabilidade da CBF comprar o terreno, licitar, contratar e executar a obra. 
- A CBF contratou uma empresa de gerenciamento que encaminha os projetos para as construturas que participam de uma licitação aprovada pela Fifa. Nenhum projeto chegou a esta etapa ainda - disse Gentille. 
A previsão é que 4,8 mil crianças e jovens usufruam do investimento e, quem sabe, sirvam grandes clubes e a seleção brasileira no futuro. 
Por ora, as futuras fábricas de talentos seguem com os seus motores desligados.

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domingo, junho 28, 2015

Reinaldo Carneiro Bastos promete dividir melhor as cotas do Estadual

ENTREVISTA

REINALDO CARNEIRO BASTOS

Presidente da FPF 
 
Na ampla sala de espera do elegante prédio da Federação Paulista de Futebol (FPF), na Barra Funda, em São Paulo, enquanto aguardava o presidente Reinaldo Carneiro Bastos, um homem grisalho, no sofá do outro lado, viu o bloco de notas do Estadão e perguntou. “Você tá fazendo reportagem sobre o quê?”. Explico que é um especial sobre as dificuldades que os times do interior de São Paulo vêm passando. Ele estava ali pelo Batatais Futebol Clube. “A Federação tem de fazer algo, se não a gente vai desaparecer”, disse. A conversa é interrompida pelo assessor de imprensa da FPF. O presidente está pronto para atender a reportagem.
No fundo do grande aposento revestido em piso de mármore, num pequeno planalto, espera Reinaldo Carneiro Bastos, ao lado de sua ordenada mesa de trabalho. Aos 62 anos, foi o vice que esperou mais tempo para se sentar na cadeira passada em 5 de maio deste ano por Marco Polo Del Nero, hoje presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Entre um compromisso e outro, foram 20 minutos de conversa com o ex-dirigente e conselheiro vitalício do Esporte Clube Taubaté. A maioria, senão todos, dos dirigentes dos clubes de interior procurados pela reportagem depositaram esperanças no novo mandatário da FPF. Eles acreditam que, por sua origem taubateana, Carneiro estenderá a mão para tirar os clubes do buraco.
“O futebol vai mudar”, sentenciou o cartola. Ele fala pausadamente, com modos contidos e uma voz baixa. Não tira em momento algum os olhos do interlocutor. Mede cada uma de suas palavras, como se as estivesse pronunciando em um discurso previamente escrito. “A Federação e os clubes têm de sair da zona de conforto, têm de se reinventar. As leis estão aí. Não fomos nós que as fizemos. Tem de recolher seus impostos em dia, pagar salário em dia, resolver seu passado trabalhista, seus problemas fiscais. Eles existem.” E fez um alerta: “Não tem mais como passar a mão por cima. Em conjunto, a Federação e os clubes têm de se reinventar.”
Muitos presidentes de clubes com os quais conversei depositam esperanças na sua gestão pelo fato de o senhor ter presidido o Esporte Clube Taubaté. Por onde começar?
Conheço razoavelmente bem a condição dos times do Interior, mas não se iluda achando que essa situação é só lá. O País vive um momento difícil. É um momento difícil do futebol paulista, do futebol brasileiro. Não é time da capital e time do interior; é em geral. A Federação vai agir e trabalhar onde for necessário para capacitar os clubes, na gestão e na transparência, porque isso vai trazer fontes diferentes de recursos. E para quem não está investindo no futebol porque não acredita, a gente tem de mostrar sinais claros de que nós estamos trabalhando nisso.
Quais são esses sinais?
Já estamos trabalhando para as competições de 2016. Vamos criar formas para que os clubes consigam se autossustentar. E nós vamos lá cobrar. Nós vamos estar juntos dos clubes organizados, primeiramente. E vamos ajudar a organizar os demais. Quem não tiver essa consciência vai ter de esperar, se organizar para participar de competições. Foi uma amostra esse ano. A segunda divisão encolheu: tínhamos 52 pretendentes e 30 estavam capacitados para disputar. Foi o primeiro passo, um passo pequeno, porque só se ateve aos regulamentos, aos estatutos e à legislação vigentes. Quem atendeu o que existe está jogando. Quem não atendeu, não está jogando. Sem nenhuma exceção. Nós não trabalhamos na gestão neste ano. Nós não temos nenhuma expectativa na Federação de que vamos resolver todos os problemas imediatamente. Depende muito dos clubes.
O senhor mencionou formas de melhorar a gestão dos clubes. Quais são esses procedimentos e ferramentas?
Nós podemos montar uma diretoria que ajude os clubes na sua gestão, desde a confecção do seu balanço, orientar o clube a ter um planejamento do que vai fazer no ano que vem, ter um orçamento, como tem de pagar seus funcionários, seus impostos. Vai acontecer já em 2016 tudo isso certinho? Não. Nós vamos dar passos na velocidade em que a gente não precise recuar. E vamos trabalhar para que a gente aumente a receita dos clubes, e que eles saibam como usar essa receita.
Os dirigentes e torcedores dos 11 clubes do interior com quem conversei disseram que as cotas pagas pela Federação não ajudam muito.
A distorção da Série A1 para a Série A2 é muito grande. Não há planejamento que resista a você cair de uma cota para quase sem cota. A cota do A2 corresponde a 6% da cota da A1. Se eu tiver uma promessa, um jogador, não posso fazer um contrato de três anos com ele, porque se eu cair, não pago. Então a gente precisa encostar, diminuir essa diferença para pelo menos 30%. Óbvio que quando você cai da A1 para a A2 seu recurso diminui, mas tem de haver pelo menos o mínimo para se organizar. Isso vai de divisão por divisão. A gente não tem uma expectativa de que será feito tudo para todos de uma hora para outra. O foco principal é diminuir o abismo da A1 para a A2.
E em seguida?
A partir da organização dos clubes - e organizar não significa que vai sobrar dinheiro - é mostrar a forma mais adequada de gastar.
Até porque já há uma dívida grande acumulada…
Exato. Já tem um passado, muitos já têm um passado (devedor). Isso passa muito, na parte fiscal, pelo financiamento na lei dos clubes que está sendo discutida em Brasília. Muitas dessas atitudes estão em compasso de espera, porque os clubes precisam saber como vão se comportar diante da dívida fiscal. Tem muito clube que, pela lei que está lá hoje, não adianta aderir, porque não cumpre. Há assuntos que não têm como a Federação agir, porque dependem dessa parte fiscal. Os clubes vão ter de melhorar a gestão, e a Federação vai ajudar para que isso ocorra.
A partir de sua experiência como dirigente de um clube do interior, o que o senhor pensa que pode ser aproveitado enquanto gestão de um time como o Taubaté, por exemplo?
Passa muito por premiar o critério técnico. Nós estamos estudando uma forma de redividir as receitas e dar uma parte disso para a premiação. Normalmente, você dividia entre os quatro grandes e os outros 16. Neste ano, de uma forma ainda tímida, nós premiamos do primeiro ao 16º. A ideia é aumentar o porcentual de divisão do dinheiro pela competência do time. Porque o clube vai jogar o campeonato inteiro pensando que quanto mais à frente ele estiver, maior será a receita dele. Nós estamos trabalhando muito para que haja mais transmissões de TV na Série A2.
Com relação ao calendário de competições, conversei com vários presidentes de times e eles questionaram o fato de ter apenas três meses de campeonato e 12 meses de contas para pagar…
A solução aí é um trabalho que já está sendo feito com a CBF de se conseguir mais vagas da Série D, e a Copa Paulista, no segundo semestre, dar uma vaga na Série D. O clube só joga, só arruma patrocínio e só gera receita se disputar competição que valha alguma coisa. A vaga da Copa do Brasil, que já tem na Copa Paulista, não é uma competição que seja um atrativo. O atrativo é ele ter - também no segundo semestre - uma opção de começar a sua história nos campeonatos nacionais.
Muita gente tem medo de que daqui a algum tempo não haja mais Campeonato Paulista, pois os times do interior estão desaparecendo.
Os clubes do interior não estão desaparecendo, estão trocando. Então, saem antigos, clubes tradicionais, e entram novos. Qual é a diferença de um clube tradicional e de um novo? O novo não tem passado - dívida trabalhista, dívida fiscal. A Ferroviária fez uma campanha brilhante. O que aconteceu? Seu estádio foi a leilão, a Prefeitura desapropriou, fez uma arena, o clube joga lá e quitou seu passado. O que aconteceu? Não tem dívida. Ali não vai se enganar mais, não. A Federação vai fazer muito mais pelos clubes, mas vai cobrar. E não é cobrar para atrapalhar, mas para ajudar.
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