Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, abril 30, 2014

Tim Vickery: A dificuldade dos brasileiros em aceitar críticas

TIM VICKERY
DO RIO DE JANEIRO PARA A BBC BRASIL

Turistas tiram fotos do topo do Edifício Itália, no centro de São PauloBrasileiros terão que conviver com as opiniões de estrangeiros sobre o país após a Copa

Um dos destaques da TV aberta no Brasil atualmente é um programa chamado "O Mundo Segundo os Brasileiros". Toda semana, o programa explora algum lugar do mundo do ponto de vista dos brasileiros que estão vivendo por lá. Ali eles têm a chance de contar suas histórias.

O programa é uma oportunidade para aprender muitas coisas sobre as atrações turísticas do lugar e sobre como é o dia a dia por lá, enquanto também revela muito sobre a perspectiva daqueles brasileiros que estão apresentando o local.

Em menos de dois meses, o processo irá se reverter. Pessoas de 31 nacionalidades diferentes (além de inúmeros outros "neutros") estarão acompanhando suas seleções pelo país como parte de uma experiência gigantesca e fascinante.

O produto final - assim como o troféu levantado no Maracanã no dia 13 de julho, após a final - será um O Brasil segundo o mundo- um programa que não será transmitido de uma vez em termos definitivos, mas que será transmitido nas TVs, nas rádios, nas mídias sociais e nas conversas por um sem-número de bares, cafés, restaurantes, de Sidney a Seul.

O resultado será inevitavelmente diverso, porque as pessoas que estarão fazendo o julgamento são diferentes. Esse, com certeza, é o momento apropriado para acabar com as visões infantis de um mundo "dualizado", dividido entre os "brasileiros daqui" e os "gringos de fora".

Todos os tipos da diversidade humana estarão nas ruas de 12 cidades brasileiras. É o tempo de abraçá-las. Mas abraçá-las significa aceitar uma ampla gama de opiniões diversas, e não apenas o que soar mais confortável aos ouvidos.

Os ataques e abusos recentes contra o jornalista dinamarquês Mikkel Jensen não são um sinal promissor. Ele desistiu de cobrir a Copa do Mundo depois de aprender português, viver um tempo no país e chegar a conclusão de que ele não se sentia mais confortável para fazer parte do evento.

Ele decidiu que a Copa de 2014 não estava cumprindo seu potencial social - talvez ele pensou que o torneio estava até piorando a situação nesse aspecto - e então ele foi embora para casa.

Nós podemos não concordar totalmente com a conclusão que ele tirou e com a atitude que ele tomou - apesar de eu pensar que muitos de nós que têm algum contato com esses megaeventos acabam ficando com um peso na consciência de alguma forma.

Mas o que é indiscutível é que ele tem o direito de ter sua opinião - especialmente, no caso dele, depois do tempo que ele passou observando, aprendendo e ponderando.

Jensen parece ter o melhor interesse da maioria da população brasileira no coração - seu post de despedida no Facebook fala sobre o contato que ele teve com crianças de rua em Fortaleza.

E ainda assim, muitos por aqui tentaram apresentá-lo como um "inimigo do Brasil", outra voz arrogante do rico colonialismo europeu olhando de nariz empinado para o Terceiro Mundo.

Mas há alguns pontos a serem considerados aqui. O primeiro é óbvio: as pessoas não são necessariamente ou mesmo geralmente, meros porta-vozes de sua terra nativa.

Segundo, o grande império dinamarquês não passou para a história como um dos mais tiranos e tem pouca relevância para qualquer debate sobre o Brasil.

E terceiro, milhões de brasileiros são eles próprios descendentes de europeus. Então eles também carregam consigo os pecados do colonialismo do passado? Ou nós estaríamos vendo, na verdade, o exagero de uma perversa "cultura da vítima".

Muitos brasileiros por si só parecem ter chegado à conclusão de que eles prefeririam não sediar a Copa do Mundo, que o evento está fazendo mais mal do que bem. Por que um jornalista dinamarquês não pode ter a mesma opinião?

O caso de Mikkel Jensen é um dos primeiros de muitos. Nos próximos meses, visitantes de muitos outros lugares diferentes formarão suas opiniões a respeito do Brasil - muitos deles sem investirem o mesmo tempo e fazerem o mesmo esforço que Jensen fez.

Algumas dessas opiniões podem não valer nada. Outras merecerão pelo menos uma reflexão. Algumas podem ser bastante ofensivas. Todas fazem parte do processo pelo qual o Brasil escolheu passar: o de ser anfitrião para o mundo inteiro.

Os 20 anos que passei aqui me levaram a concluir que a única relação madura possível com o Brasil é uma de amor e ódio.

Conforme o planeta começa a conhecer o país melhor como consequência da Copa, parece-me que alguns dos simples mitos sobre o Brasil, tanto os bons quanto os ruins, podem dar lugar a visões mais elaboradas sobre os pontos positivos e negativos do país.

Seria legal se as muitas versões do "Brasil Segundo o Mundo" pudessem homenagear a capacidade dos brasileiros a tolerar opiniões de pessoas que têm perspectivas diferentes, mesmo que ouvi-las pode às vezes machucá-los por dentro.

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segunda-feira, abril 28, 2014

CBF apresenta maior faturamento de sua história

Turbinada por Copa, entidade alcança 452 milhões de reais de receita em 2013

O presidente da CBF e do COL, José Maria Marin, com o presidente da Fifa, Joseph Blatter

O presidente da CBF e do COL, José Maria Marin, com o presidente da Fifa, Joseph Blatter (Alexander Hassenstein/Fifa/Getty Images)

A Confederação Brasileira de Futebol apresentou a maior receita da sua história: 452 milhões de reais, no ano passado. De acordo com estudo do consultor de marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi, a entidade que regula o futebol brasileiro viu seus lucros crescerem a partir de 2007, ano em que o Brasil foi escolhido como sede do Mundial deste ano. A análise leva em conta os dados registrados pela CBF nos últimos 11 anos – desde 2003, o único ano em que a confederação teve prejuízos foi em 2006, um ano antes da escolha do anfitrião da Copa de 2014.

Os 452 milhões de reais em receita representam uma evolução de 18% em relação a 2012. Desde 2003 a receita da entidade cresceu 310%. O estudo mostrou que as receitas que mais cresceram no último ano foram os direitos de transmissão (170%), seguido das partidas realizadas (37%) e patrocínios (27%). Desde 2007, o apoio de patrocinadores cresceu 328% e os direitos de transmissão 950%. Em 2013 a despesa total da CBF chegou a 396 milhões de reais, com destaque para os gastos administrativos e com a realização de competições. Antes de o país ganhar o direito de receber o Mundial, o ano mais produtivo para a entidade havia sido 2003 – com apenas 5 milhões de reais de lucros.

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CBF - economia 01CBF E 02CBF - E03CBF - E 04

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sexta-feira, abril 25, 2014

Pressionar a bola = desviar a atenção da equipe para a bola e não para o jogo

Existem várias razões para uma sequência ofensiva resultar em gol no futebol

 

Rodrigo Azevedo Leitão / Universidade do Futebol

                                                           

A ideia para o texto dessa semana era gerar um debate mais detalhado sobre o conceito geral de “intensidade de jogo” – tanto que escrevi uma boa quantidade de parágrafos sobre o assunto.

Porém, inspirado por uma ótima e interessante conversa com mais dois amigos do Café dos Notáveis (mister Grizalios Galbes e mister LossTche) – conversa que dessa vez, pelas circunstâncias, ocorrera fora do Café – resolvi abordar outro assunto, não menos interessante!

A conversa permeou, com uma série de questões sobre o jogo de futebol, a pressão sobre a bola e sua relação com os gols sofridos por uma equipe durante uma partida.

Como tenho um acervo de dados coletados para investigação do tema, resolvi fazer uma reflexão a partir deles e da conversa.

Então vejamos...

Existem várias razões para uma sequência ofensiva resultar em gol no futebol.

Da mesma maneira existem muitas outras para que a defesa sobressaia ao ataque durante uma partida, e para que, portanto, uma sequência ofensiva não resulte em gol.

Dentre as sequências que resultam em gols temos um grande número delas que são oriundas de uma situação de bola parada (tiro de canto, tiro livre direto ou indireto, e também, por que não, arremesso lateral).

Analisando jogos dos Campeonatos Paulista 2013 e 2014, Brasileiro 2013, Mundial de Clubes da FIFA 2013, UEFA Champions League 12/13, além das Copas do Mundo FIFA de Futebol 2006 e 2010 – e mais especificamente analisando os gols que não resultaram de jogadas de bola parada – coisas interessantes puderam e podem ser observadas no que diz respeito aos gols feitos.

E ainda que, como escrevi logo acima, sejam inúmeras as razões para uma sequência ofensiva resultar em gol (e agora falando pontualmente de situações de “bola rolando” e não bola parada), há pelo menos oito coisas (razões) que parecem ser comuns em uma grande parte das jogadas em que o desfecho é o gol.

E como essas oito razões podem gerar um grande, profundo e rico debate, vou me concentrar, para ser breve hoje, especialmente em uma delas – talvez por ser a mais “aceitável”: trata-se da pressão sobre a bola por parte da equipe que defende e sofre o gol.

Na “grande maioria” dos gols sofridos pelas equipes com bola rolando, uma, ou mais de uma vez na jogada que resultou em gol, há ausência de pressão defensiva sobre o portador transitório da bola.

E quando analisamos a “não pressão” nas jogadas de gol, considerando regiões do campo das equipes entre a linha 4 defensiva e a linha de fundo, a tal “grande maioria” bate os 90%.

Isso não quer dizer, que na maioria das vezes que uma equipe não consegue exercer pressão sobre a bola, ela estará propensa a sofrer um gol em uma sequência ofensiva adversária. Não!

O que isso quer dizer, é que em uma sequência que resulta em gol, é comum que a pressão sobre a bola esteja, em um grande número de vezes, ausente.

Qual a diferença?

A diferença é que NÃO exercer pressão ativamente, continuamente e instantaneamente sobre a bola, NÃO é garantia para a equipe que se defende, de que ela sofrerá um gol!

Claro!

Apesar de, em grande parte das sequências que resultam em gol não haver, em algum momento, pressão sobre a bola, em tantas outras que não resultam em gol, também pode ser constatada, um grande número de vezes, a ausência de pressão!

No entanto, pelo mesmo viés observacional, e com pauta nos mesmos dados dos jogos das competições mencionadas e analisadas, é plausível afirmar que manter pressão constante sobre a bola pode minimizar em muito, os riscos de que uma equipe sofra um gol em um jogo.

É bom lembrar, ainda que eu já tenha mencionado anteriormente, que sequências ofensivas que resultam em gols satisfazem um certo número de condições, além da condição “falta de pressão sobre a bola”!

Então, em outras palavras, não pressionar, não potencializa necessariamente as chances de uma equipe sofrer gols, mas por outro lado, manter a bola sob pressão pode minimizar as chances de que o gol aconteça!

Isso pode ser explicado e entendido se partirmos da ideia de que pressionar a bola não significa necessariamente atacar o portador dela para roubá-la diretamente!

Pressionar a bola, na essência, significar fazer com que a posse por parte da equipe adversária fique instável, na iminência do descontrole. É fazer com que o portador direto da bola e seus companheiros concentrem-se totalmente na bola e não no jogo!

Quando os jogadores de uma equipe que tem a posse da bola são levados a “olhar” mais para a bola e menos para o jogo, precisarão ser excepcionalmente mais hábeis para tomarem decisões vantajosas para a equipe dentro do jogo.

Sob pressão terão de ser mais rápidos para encontrarem as melhores alternativas. Em uma sequência ofensiva que sofre pressão constante, ter cada vez mais a bola aumenta a chance de tê-la cada vez menos na mesma sequência.

Então, seja ela curta, ou longa (a sequência ofensiva), na somação da série de ações que a compõe, as chances de êxito serão menores, porque as exigências estarão aumentadas, tanto na organização do espaço, e na velocidade das decisões, quanto nas ações propriamente ditas!

A ausência de pressão não dá garantias de que o adversário não irá errar sua ação com bola.

E os erros da equipe que está com a bola, mesmo sem sofrer pressão, são mais comuns do que se pode imaginar!

Vale aqui destacar que nos jogos dos campeonatos que foram observados, a incidência de erros sem pressão, principalmente na região entre linha 4 e linha de fundo, foi muito maior em jogos envolvendo equipes brasileiras do que envolvendo equipes europeias (por uma série de fatores que precisariam de um outro texto para serem debatidos).

Por hoje é isso...

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