Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, maio 30, 2013

TV Brasil paga R$ 9 milhões e transmite Série C

TV Brasil altera programação e transmitirá Mogi Mirim e Duque de Caxias

Os jogos também serão veiculados pelas oito rádios que compõem a rede pública de rádio da Empresa Brasil de Comunicação

Equipe Universidade do Futebol

A TV Brasil anunciou que fará, a partir do dia 1° de junho, a transmissão de 46 partidas da Série C do Campeonato Brasileiro. Os jogos serão exibidos pela emissora aos sábados e aos domingos.

A emissora pública transmitirá no mínimo 38 jogos da primeira fase da competição, que começa neste final de semana.

Entre os direitos de transmissão, comprados da Sportpromotion e custos de produção, o custo será de R$ 9 milhões. As informações são do Blog do Menon.

Os primeiros jogos serão Mogi Mirim x Duque de Caxias, neste sábado, às 19h, e Sampaio Correa (MA) e Brasiliense (DF) no domingo, também às 19h. Essa faixa de programação será mantida durante toda a primeira fase. A equipe terá nomes consagrados como Alberto Léo, Márcio Guedes e Orlando Duarte.

Os jogos também serão veiculados pelas oito rádios que compõem a rede pública de rádio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). São elas: Rádio Nacional de Brasília (AM e FM), Rádio Nacional AM do Rio de Janeiro, Rádio MEC AM (Brasília e Rio de Janeiro), Rádio MEC FM Rio de Janeiro, Rádio Nacional do Alto Solimões e a Rádio Nacional da Amazônia.

Na internet, os torcedores poderão acessar o portal "www.seriec.ebc.com.br" e acompanhar os melhores momentos e gols, além de saber dos resultados com a ajuda da tabela criada especialmente para o campeonato.

"A Série C tem times com grandes torcidas, que agora serão representadas na TV aberta. Faremos uma transmissão destacando a cultura regional, buscando um modelo de transmissão pública, longe do apelo comercial", explicou Carlos Alberto Gomes, gerente de esportes da EBC, que faz a gestão da TV Brasil e também das emissoras de rádio.

. Fonte: Máquina do Esporte

domingo, maio 26, 2013

Ranking divulga as 100 marcas mais valiosas do mundo em 2013

Realizada pela BrandZ, lista dos dez primeiros contam com empresas de tecnologia, telecomunicações, bebidas, fasto food, cartão de crédito e cigarro

Thinkstock

O setor de tecnologia mantém o domínio absoluto quando o assunto é valor das marcas. Apple, Google e IBM, respectivamente, ficaram na liderança do ranking "100 Marcas mais Valiosas do Mundo" da BrandZ™, encomendado pela WPP e realizado pela Millward Brown Optimor.

A Apple mantém a liderança do ranking em relação a 2012 e aumentou em 1% o valor da sua marca atingindo US$ 185 bilhões. A Google também mostrou crescimento e ultrapassou a IBM no comparativo de 2012. A marca chegou ao valor de mercado de US$ 113.669 bilhões ( A IBM caiu 3% e ficou com US$ 112.536 bilhões).

Marcas 01

No total, o valor combinado das 100 Melhores Marcas apresentou um aumento de 77% desde 2006 e valem agora US$2,6 trilhões. Apesar de não estarem entre os dez primeiros, os produtores de bebidas alcoólicas apresentaram rápido crescimento: A cerveja, bebida alcoólica mais consumida do mundo, foi a categoria de maior crescimento na classificação deste ano. As 10 principais marcas de cerveja apresentaram crescimento de +36% e combinadas valem agora $63 bilhões. O setor beneficiou-se do aumento das vendas na América Latina e na China.

De acordo com David Roth, CEO da The Store da WPP, "o destaque do ranking deste ano é o retorno sobre o investimento que as marcas trazem para as empresas. Mostra que as marcas fortes geram um crescimento da parcela de mercado e do lucro por permitirem um sobrepreço e um retorno maior para os acionistas". 

Eileen Campbell, CEO global da Millward Brown, empresa de pesquisa de marcas, acrescentou: "A valorização da marca e outras medidas que mostram retorno sobre o investimento de marketing dão aos marqueteiros um voz mais forte nos conselhos das empresas, garantindo que o marketing seja melhor compreendido e considerado como um elemento fundamental para o sucesso comercial e financeiro".   


      
Posição    em 2013

Categoria

Marca

Valor    da marca 2013 (US$M)

Mudança    no valor da marca

Posição    em 2012

1

Tecnologia

Apple

185.071

+1%

1

2

Tecnologia

Google

113.669

+5%

3

3

Tecnologia

IBM

112.536

-3%

2

4

Fast    Food

McDonald's

90.256

-5%

4

5

Bebidas    não alcoólicas

Coca-Cola

78.415

+6%

6

6

Telecomunicações

AT&T

75.507

+10%

8

7

Tecnologia

Microsoft

69.814

-9%

5

8

Cigarro

Marlboro

69.383

-6%

7

9

Cartões    de crédito

Visa

56.060

+46%

15

10

Telecomunicações

China    Mobile

55.368

+18%

10

Confira o ranking completo aqui: http://www.millwardbrown.com/BrandZ/Top_100_Global_Brands.aspx

(Administradores.com)

Seminário de árbitros começa no Rio

Seminário de árbitros começa no Rio

Com a chegada dos últimos representantes neste domingo, a equipe de 52 árbitros que foram selecionados como candidatos para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, iniciou seus trabalhos, no primeiro seminário de preparação em solo brasileiro, no Rio de Janeiro.

O Seminário marca mais uma etapa crucial na caminho em direção à Copa do Mundo, que os árbitros que iniciaram em setembro de 2012, em Zurique.

Vindos de 46 países, os juízes farão uma série de trabalhos teóricos, testes clínicos e exercícios físicos, até o dia 31 de maio, graças à presença de instrutores de arbitragem da FIFA e vários outros profissionais de áreas tais como médica, tecnologia, fisioterapia, comunicações e administrativa.

A cerimônia de abertura e apresentação teve lugar nesta manhã de domingo, e contou com o Coordenador-Chefe de arbitragem da FIFA, Massimo Busacca, que foi árbitro em duas Copas do Mundo.

"Estamos agora na fase final, importante, a mais intensa deste processo que nos levará até a Copa do Mundo em 2014. Os árbitros tem de ser exatamente como a energia que temos quando estamos no Brasil! Aqui se joga futebol a toda hora, e em qualquer lugar! Por isso, com essa paixão no ar, com essa energia, quero que os árbitros respirem futebol, comam futebol. Vocês são o que há de melhor hoje no mundo da arbitragem! E serão cobrados para serem os melhores em campo, na Copa das Confederações e na Copa do Mundo!", explicou Busacca.
 
Representando o Comitê de Organização Local, o CEO, Ricardo Trade, acolheu os árbitros internacionais, dizendo: "O 
Brasil está em uma nova era. Em todas as áreas, estamos vivendo um novo momento. Estamos criando um novo padrão para termos a melhor qualidade de gramado nos estádios. E isso, para que os árbitros possam ter o melhor, para desenvolver seu trabalho."
 
Trade, que veio pessoalmente conhecer os árbitros antes de embarcar para Brasília para um evento-teste oficial no Estádio Nacional Brasília Mané Garrincha, disse: "Teremos a honra de inovar, nessa Copa das Confederações, pois haverá em nossos estádios a Tecnologia da Linha de Gol, e para que esse processo funcione do melhor modo possível, nós do COL, faremos o necessário, tudo mesmo, para que os árbitros possam ter as condições necessárias de tomarem suas decisões em campo, do melhor modo possível!"
 
O tetracampeão Bebeto, membro do COL, emocionou-se ao ouvir as palmas dos árbitros, e contou um pouco de sua história como atleta com a camisa do 
Brasil: "Recebo todos vocês como amigos, como os mais importantes visitantes em meu país. Sempre tive um relacionamento excelente com os árbitros. Sempre tentei ser um exemplo, tanto dentro como fora do campo. Eu e Ronaldo, que está comigo no COL, estamos fazendo o que podemos para assegurar que os campos neste eventos da FIFA, sejam perfeitos. E com a colaboração de vocês, árbitros, que a Copa das Confederações será um grande cartão de visita, um aperitivo do que acontecerá na Copa do Mundo em 2014. Desejo sucesso e saibam que vocês são importantes, vitais para o desenvolvimento de uma boa partida de futebol!"
 
Quem encerrou a série de discursos para os árbitros foi Ron DelMont, Diretor-Executivo do Escritório da Copa do Mundo FIFA 
Brasil 2014: "Os árbitros que estão no Brasil hoje são o símbolo da paixão e do talento, da seriedade e da capacidade, destes profissionais que farão destes eventos FIFA noBrasil, uma grande festa do futebol. Vamos fazer o máximo para vocês dirigirem as partidas no campo de jogo. E nós, dirigentes, temos que fazer exatamente o que vocês, árbitros, fazem no gramado: temos de saber controlar, temos de estar focados, nos desconectar da fatos que nos rodeiam e entregar o melhor resultado possível. Vocês são os dirigentes no gramado e eu desejo a todos vocês muito êxito no Brasil!"
 
Dez árbitros dos que estão presentes no 
Brasil
 já foram escolhidos para dirigir os jogos da Copa das Confederações em Junho. A lista completa pode ser encontrada no site: www.FIFA.com

(Fifa.com)

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Especial: a importância da formação do treinador de futebol

Espanha faz sucesso no mundo e condiciona títulos e formação de jogadores ao longo processo de qualificação dos gestores técnicos de campo

Equipe Universidade do Futebol

A Espanha fez história na edição de 2012 da Eurocopa. Na realidade, assinou com letras douradas mais um capítulo no processo que a consolida como a maior força do futebol mundial. Dois anos antes, na África do Sul, a equipe comandada por Vicente Del Bosque vencera de maneira inédita a Copa do Mundo, título que já sucedera o triunfo da equipe comandada por Luis Aragonés no principal torneio entre seleções do Velho Continente, em 2008.


 

Se traçarmos um paralelo, esta geração pode ser comparada ao Brasil durante a “Era Pelé”, podendo até ser considerada superior, pois, entre as vitórias nos Mundiais de 1958 e 1962, o melhor resultado da equipe canarinho foi um segundo lugar no sul-americano, em 1959.

No mesmo momento em que a supremacia da Fúria é destacada, o Brasil cai para o 13º lugar no ranking dos melhores do mundo, em atualização feita em novembro de 2012.

Mas o que tem de especial a equipe que mescla jogadores consagrados como Casillas, Albiol, Iniesta, Xavi, Fernando Torres, Fàbregas, Xabi Alonso, Sérgio Ramos, etc. (todos campeões europeus quatro anos atrás), e novatos como Jordi Alba, Juan Mata, Javi Martinez, Pedro Rodrigues, etc., com média de idade inferior a 24 anos? Será uma sorte de campeão? Um presente do destino que reuniu estas pérolas em uma mesma geração? Para o Técnico espanhol Vicente Del Bosque, os resultados não são mera coincidência e o caminho é muito mais trabalhoso do que se pensa.

“O nosso sucesso não é uma coincidência e tem origem em muitas coisas: na estrutura do futebol, nas academias e na formação dos treinadores. Os clubes [espanhóis] estão empenhados na formação de jovens. Antes viajávamos para França, Rússia e Alemanha para procurar talentos nas suas academias”, referiu o selecionador espanhol ao site da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).



 

Na mesma linha, Ginés Melendez, diretor-técnico da RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol), crê que o segredo do sucesso do futebol espanhol tem um ponto crucial que não começou no campo, mas sim nas salas de aula:

Para se ter a noção da dimensão que envolve a formação espanhola é só observarmos os dados: na temporada 2010/2011, a RFEF emitiu mais de 53 mil licenças para treinadores futebol e futsal que realizaram os cursos dos quatro níveis propostos pela federação espanhola.

Isso permite supor que, na Espanha, cada escolinha de futebol e futsal, equipe de iniciação ou alto rendimento possui um profissional formado sob a chancela da federação espanhola.

É importante salientar que aqui tomamos a Espanha apenas como um recente exemplo de sucesso, porém este trabalho de formação vem sendo realizado em todo continente europeu como mostraremos durante o especial.

Os dados apresentados chamam a atenção para uma nova realidade no cenário futebolístico mundial, no qual, devido à profissionalização do esporte, ao aumento e desenvolvimento das demandas atreladas ao jogo e ao contexto que o envolve, o cargo de treinador exige capacidades e qualidades não contempladas apenas pelo contato significativo com a modalidade como ex-jogador.

Para isto existe hoje a necessidade fundamental dos profissionais que objetivam trabalhar no futebol buscarem uma formação de qualidade. E é necessário dedicar-se com o intuito de melhorar sempre as metodologias de treino, a capacidade de liderança e muitas outras capacidades que fazem diferença no caminho para o sucesso.

Como comenta Tostão, ex-jogador e colunista esportivo: "É essencial uma formação acadêmica para ex-jogadores e outros profissionais. Para ser um bom técnico de futebol, o ideal é unir a experiência do passado a uma formação técnica e teórica", atesta Tostão, ex-jogador e colunista esportivo.

Patric Bonie, diretor técnico da Federação Irlandesa de Futebol, segue com a mesma ideia: "Começar por baixo, de preferência jovem, num clube onde ainda seja também jogador. E, depois, fazer um curso de treinador baseado na prática porque, embora a experiência enquanto jogador ajude, as técnicas de treino não se aprendem do ar. Tem de se realizar os cursos, de forma a estar preparado para o dia em que se assuma um importante cargo de treinador e para a inerente pressão".

José Mourinho, um dos treinadores mais vitoriosos da história do futebol afirma ainda, que não ter sido jogador de futebol profissional o ajudou em seu trabalho como treinador, porém reitera a necessidade de vivenciar o ambiente desse esporte não contemplado em toda a magnitude nos livros:
 




José Mourinho e a necessidade da relação entre teoria e prática para a formação do treinador de futebol

 

A ideia que o treinador deve ter uma formação de qualidade também é compartilhada por alguns profissionais no Brasil, como é o caso do diretor das categorias de base do São Paulo Futebol Clube em depoimento para a Universidade do Futebol.

Com base neste polêmico e complexo assunto, a Equipe Universidade do Futebol preparou um especial com o tema: “A importância da formação de treinadores de futebol.”

Este especial tem o intuito de gerar reflexões a partir de algumas questões norteadoras como: qual é o atual estágio da formação desses profissionais em alguns dos principais países continente europeu? Qual a importância do processo? E no Brasil, em que estágio estamos? Qual é a opinião de treinadores e estudiosos do futebol a respeito do assunto?

Essas são algumas das perguntas que buscaremos responder neste especial.

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O conhecimento complexo e a volta ao passado: os vários caminhos para o sucesso

"Não consigo conceber hoje tomadas de decisão e/ou planos de ação que considerem conhecimentos de uma área só"

Rodrigo Azevedo Leitão / Universidade do Futebol

Apesar de já ter discorrido sobre o tema desta semana, faço-o novamente porque infelizmente – em minha opinião – o assunto tem sido retomado (acreditem!) com mais frequência do que eu poderia imaginar a essa “altura do campeonato”.

Existem muitas maneiras de se chegar ao sucesso. No que diz respeito à preparação desportiva do futebolista, a história tem nos mostrado que os caminhos são muitos para alcançá-lo.

A evolução do conhecimento, a exposição a problemas similares e frequentes na prática do treinamento desportivo e o estreitamento e desaparecimento das fronteiras científicas e tecnológicas, têm trazido à tona a ideia geral de que o aperfeiçoamento de soluções diferentes pode trazer resultados igualmente bons na preparação de jogadores de futebol (formação, desenvolvimento e aperfeiçoamento).

Seja no Brasil, observando as distintas ideias e concepções culturais regionais para a forma de se jogar, ou no mundo, tentando entender o sucesso dinâmico que se alterna pelo futebol italiano, francês, holandês, espanhol e mais recentemente alemão, fica cada vez mais claro que não há fórmulas mágicas, ou certos e errados.

O que existe é aquilo que funciona melhor ou pior em determinado ambiente, o que pode trazer resultados mais rapidamente ou não em determinada realidade, o que pode potencializar o ganhar ou o perder.

Pois bem, mas ainda que isso tudo seja assim, é importante ressaltar e lembrar sempre que, circunstancialmente, são muitas as variáveis que complexamente se envolvem com problemas e soluções, êxitos e insucessos.

Isso quer dizer que ainda que sejam muitas as possibilidades para superar os mesmos desafios, é importante que essas possibilidades estejam intimamente conectadas com a evolução do conhecimento, com o desenvolvimento do mundo e com a inegável contribuição que a ciência e experiência prática diária dão para entendimento do passado, compreensão do presente e planejamento para o futuro.

É óbvio que não serve ao futebol (ou a qualquer outra coisa) a verdade científica produzida dentro das salas de aula das universidades ou dos seus laboratórios de pesquisa, se essa verdade estiver desconectada do mundo real e dos seus problemas reais (como não é incomum).

Mas é óbvio também que não serve o discurso viciado e vazio de que aquilo que sempre deu certo em 1970 (80 e/ou 90 – porque não no início dos anos 2000), servirá ainda hoje, absolutamente, sem adaptações ou transformações.

O treino físico de outrora, por exemplo, não pode mais ser o treino físico de hoje. O treino técnico-tático de outrora não pode mais der o treino técnico-tático de hoje. O treino psicológico de outrora não pode mais ser o treino psicológico de hoje.

Venho da Fisiologia e Bioquímica do Exercício e do Esporte (ainda ministro uma disciplina de pós-graduação nessa área). Venho do Treinamento Desportivo, da Pedagogia do Esporte. Estudei Psicologia. Me aprofundei em conhecimentos das Ciências Exatas e da Filosofia Humana. Sou Professor de Educação Física. E quero mais! Tudo isso porque sempre acreditei na necessidade da compreensão de diversas coisas para saber um pouco de todas elas e entender bem o que eu concluísse ser essencial.

Não consigo conceber hoje tomadas de decisão e/ou planos de ação que considerem conhecimentos de uma área só.

Não consigo conceber hoje o desconhecimento sobre qualquer variável que esteja presente em determinada área de atuação.

Não consigo conceber hoje a ignorância sobre o Todo e de suas Partes...

Ainda que mudanças sejam difíceis, mais ainda é se desprender da burrice que nos cega a olhos bem abertos que enxergam apenas uma direção...

Que sobrevivam os jogadores de futebol!
 

PS - Gostaria de aproveitar e agradecer publicamente o apoio tecnológico e operacional da ClanSoft, e o seu pronto atendimento no desenvolvimento de ferramentas específicas, de grande utilidade didático-pedagógica, no aplicativo Tactical Pad para uso desse treinador que vos escreve. Obrigado!

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quinta-feira, maio 23, 2013

Emídio Marques, instrutor da Fifa

Ex-árbitro faz uma análise sobre o desenvolvimento da função e o processo de profissionalização

Artur Capuani e Bruno Camarão

 

 

O Brasil participa ativamente das discussões sobre os meandros da arbitragem internacional. Anualmente, nas reuniões da International Board, órgão que regulamenta as regras do futebol e aprova as leis do esporte, um ex-árbitro brasileiro, que esteve em diversos jogos importantes nas principais competições, está presente e dá o olhar sul-americano sobre o tema. Trata-se de Emídio Marques de Mesquita.

Árbitro de futebol de 1968 até 1993, desde a Liga Municipal de Futebol de Jacareí, passando pela Liga Joseense de Futebol de São José dos Campos, federações paulista e goiana de futebol, até chegar à CBF, Conmebol e Fifa, ele traçou sua carreira nos campos de maneira coordenada.

Mesquita é engenheiro civil e professor, capacidades que o permitiam executar sua grande vocação. Não como uma espécie de hobby ou pensando no ambiente para promoção econômica e política. Fosse dessa maneira, jamais seria alçado ao posto de instrutor de arbitragem da Fifa, entidade que rege a modalidade no mundo.

"Divido a carreira do árbitro em três momentos: ele apita onde deixam, apita onde ele quer, e apita onde ele gostaria. Quando chegar à plenitude, é necessário ter consciência e retornar para casa, não sendo apenas mais um", afirmou nesta entrevista concedida à Universidade do Futebol.

Antes, ele carregou o apito em quadras de basquetebol, de 1957 até 1968, atuando no departamento de Educação Física e Esportes de São Paulo, FIBA, CBB, FPB, Confederação Brasileira de Desportes Universitarios e Circuito de Baloncesto Superior de Puerto Rico. E não tem dúvidas em garantir que o esporte coletivo mais popular também é o mais fácil de ser arbitrado.

Por que, então, os árbitros erram tanto? O experiente árbitro aponta que muitos de seus companheiros simplesmente estão deixando de lado a singularidade das ações, tornando-se mais mediadores e relações públicas do que qualquer outra coisa. Vide a Copa do Mundo de 2010...

"O maior problema que observamos durante o Mundial na África do Sul em termos de arbitragem foi na parte psicológica, na área do sentimento. Qualquer atividade humana pode ser programada sem o envolvimento do sentimento. O futebol, não", apontou Mesquita, citando alguns acontecimentos pontuais.

Para ele, no Brasil, o esporte dito profissional é dirigido amadoristicamente por elementos passionais e inconsequentes. Essa relação entre árbitros e administradores, o papel da mulher no futebol, as particularidades do treinamento e a razão pela qual não se profissionaliza a função também são abordados com mais profundidade a seguir.

Universidade do Futebol - Primeiramente, fale um pouco sobre sua formação acadêmica e a experiência como árbitro e coordenador de arbitragem ao longo de sua carreira.

Emídio Marques de Mesquita -
 Quando eu tinha 11 anos de idade realizei um teste biométrico em que foi detectada uma lesão em meu coração. Ficou avaliado que eu teria apenas seis meses de vida. Com isso, não pude participar da prática esportiva nas aulas de Educação Física em meu colégio. Sem poder jogar basquete, eles me deram um apito e esse apito mudou a minha vida. Graças a esse erro médico comecei a apitar muito cedo em confrontos entre os colégios locais.

Em 1957 fui assistir aos jogos regionais do Vale do Paraíba em Mogi das Cruzes e, por acaso, acabei apitando uma partida. Depois eles me pediram para voltar e eu aceitei. Em seguida, o departamento de Educação Física local abriu um curso de arbitragem em que eu e mais 20 árbitros fomos selecionados para apitar os jogos abertos do interior em Santo André.

Logo depois, fui convidado para apitar pela Federação Paulista. Já com 16 anos, o Brasil me propôs para ser árbitro internacional de basquete. Como não existia uma idade limite e não me aceitavam como árbitro internacional, acabei apitando todos os jogos possíveis até chegar às Olimpíadas de Tóquio, onde atuei na final do basquete entre Estados Unidos e Rússia.

Minha transição para o futebol aconteceu quando fundei a primeira escola de arbitragem para futebol, em Jacareí, na Liga Municipal de Futebol. Até lá eu só apitava na várzea, pois era um autodidata. Mas foi durante uma crise da arbitragem paulista na Era Pelé, quando o Corinthians perdeu o título estadual para o Santos e exigiu uma reformulação no quadro de árbitros para que participasse da edição seguinte, que eu realizei o curso da Federação Paulista de Futebol. Em janeiro de 1968, um grupo de escoteiros com árbitros selecionados dos demais esportes, liderados por Arnaldo César Coelho, comandaram o Campeonato Paulista. 

Mais tarde, quando a CBD (entidade que comandava cerca de 20 modalidades esportivas), atendendo a uma resolução da Fifa, criou a primeira relação nacional de árbitros, a primeira comissão nacional de árbitros e o Campeonato Brasileiro, eu passei a exercer minha função em âmbito nacional.

Com a criação da categoria de árbitros aspirantes à internacional, para forçar a classe a manter um bom nível, acabei evoluindo para esta categoria, atuando na Libertadores, em amistosos e nas Eliminatórias da Copa do Mundo.



 Durante entrega de prêmios para destaques de edição do Campeonato Paulista, Emídio Marques de Mesquita (no alto, à esquerda) é eleito o melhor árbitro da competição

 

Universidade do Futebol - Como se dá a relação entre a Fifa e a International Board, desde a sua criação?

Emídio Marques de Mesquita - A International Board foi criada antes da Fifa, há 124 anos, em uma taverna com representantes de Escócia, Inglaterra, Suécia e Países de Gales. Nesta reunião foi adotada a regra de Cambridge como um padrão internacional. Mais tarde, em 1913, nove anos após sua criação, a Fifa acabou entrando como quinto elemento deste sistema, que realizava apenas uma reunião anual, diferente das duas realizadas atualmente.

Na verdade, a International Board não está registrada em nenhum cartório no mundo. Ela é apenas um estatuto.

Nas reuniões ministradas em março, chamadas de Assembléias Gerais, são convocados quatro delegados de cada membro. Ou seja, 16 britânicos e mais quatro da Fifa. Em outubro, tendo a Fifa como sede fixa, é realizada a Reunião de Trabalho com apenas um representante de cada membro. Nestas discussões, cada membro apresenta suas propostas para a alteração da regra com a devida justificativa, que entra em votação.

A partir da gestão de João Havelange, a Fifa passou a arcar com todas as despesas das reuniões.



Mesquita compôs quadro internacional da Fifa e hoje atua como instrutor de arbitragem da entidade: contato com Havelange e Blatter

 

Universidade do Futebol - Os equívocos da arbitragem na Copa do Mundo da África do Sul fizeram retornar a pressão pela introdução de inovações tecnológicas que venham a minimizar os erros de arbitragem. Qual a sua opinião sobre o tema? Quais os benefícios e desvantagens que esta medida pode trazer à modalidade?

Emídio Marques de Mesquita - Porque não se chegou uma conclusão até hoje, por exemplo, na introdução de um sistema que detecte a entrada da bola no gol? Por uma razão simples. No tênis a bola atinge uma superfície plana; no futebol, é vertical. Tentaram com o chip na bola, mas não foi suficiente. No Campeonato Mundial Sub-17, no Peru, houve uma tentativa frustrante deste sistema.

Quando começou o futebol, não havia rede e existia um assistente para avaliar se a bola tinha realmente entrado no gol. Com a chegada das redes, eles viraram bandeirinhas. Agora, Platini está promovendo a volta destes, o que aumenta muito o custo. 

Sobre a utilização de replays pela arbitragem, a International Board não aceita, pois não se pode utilizar este mecanismo em todos os jogos do mundo. Portanto, é uma proposta natimorta.

O que não está previsto na regra tem que estar administrativamente contido no regulamento das competições. Assim, ele complementa as regras no aspecto administrativo. E o que não está previsto nos dois, deve aparecer nos códigos judiciais esportivos.

Por exemplo, a regra do jogo não diz que o campo tem que ter grama, ou que o árbitro deve usar um apito. Esses pontos devem estar estabelecidos no regulamento da competição.

Quanto à parte disciplinar, a Fifa tem o seu código internacional, mas cada entidade tem a sua. Na Copa do Mundo, com dois cartões amarelos um jogador é suspenso. Já no Campeonato Brasileiro, que segue as normas da CBF, são necessários três.

Universidade do Futebol - De que maneira o senhor avalia a participação dos árbitros durante a Copa do Mundo de 2010?

Emídio Marques de Mesquita - Tudo o que aconteceu serve como parâmetro de avaliação. Mas cabe uma pergunta mais genérica, a todos: por que os árbitros erram?

Dividimos a arbitragem em quatro pedestais: a parte técnica, a parte física, a parte administrativa e a parte psicológica. A primeira se refere às regras, aos regulamentos e aos códigos. É a própria razão.

O maior problema que observamos durante o Mundial na África do Sul em termos de arbitragem foi na parte psicológica, na área do sentimento.

A parte administrativa já está na internet, como informação. A parte física é mantida por conta do planejamento realizado pela Fifa e seus critérios pré-estabelecidos.

O torcedor não aceita que o árbitro erre, pois ele só vê o lado do time dele no jogo. A imprensa é tendenciosa. Aceitamos que o erro sempre irá existir, dentro de alguns limites. O que nós não aceitamos é o dolo. E estudamos mecanismos para tentar fazê-lo errar menos.

Fato novo é aquilo que aconteceu pela primeira vez e você não sabe como resolver. O grande problema dessa Copa: a bola entrou [jogo entre Inglaterra e Alemanha]. Todos estavam treinados para aquele momento, mas os dois responsáveis pelo lance não viram. O mesmo vale para o jogo entre Argentina e México.

Houve uma falha de razão na mecânica de arbitragem e uma falha de sentimento. Toda ação determina uma reação, e a situação determina a ação. Se existe uma manifestação coletiva, e não apenas uma reclamação particular, a percepção fica clara.

Na minha vida, tive três fases simultâneas. Uma fase como engenheiro, outra como professor, e outra como árbitro. Essas três se interligavam de uma mesma forma: que se dane o mais próximo. E este era eu.

Se um funcionário da obra dormisse durante o expediente e depois pudesse cobrar as horas de serviço, ele o faria; se o aluno colasse durante a prova e depois pudesse reivindicar uma boa nota, ele o faria; assim como o jogador, se pudesse fazer um gol de mão, ele faria.

Sempre tive que sobreviver a esses três pontos de pressão com naturalidade. As pressões existentes são internas e externas: do jogador para o árbitro, do banco de reservas para o árbitro, da imprensa e da torcida para o árbitro.

Esse universo mexe com o sentimento. Qualquer atividade humana pode ser programada sem o envolvimento do sentimento. O futebol, não. No Brasil, costumo dizer, esse esporte é dito profissional, dirigido amadoristicamente por elementos passionais e inconsequentes. Se fosse minha empresa, teria de fechar ontem, pois só daria prejuízo. E é uma realidade que já perdura 50 anos.




Rossetti e assistente são pressionados por jogadores no duelo entre México e Argentina e Neuer observa bola ultrapassando a linha em chute de Lampard; erros no Mundial são explicados

 

Universidade do Futebol - O senhor acredita que a formação de árbitros ligados às ciências humanas possa minimizar o número de problemas e, consequentemente, a resolução destes durante uma partida de futebol?

Emídio Marques de Mesquita - A Universidade Federal do Paraná foi a primeira a tratar sobre esse tema da formação acadêmica. Criou-se um curso elitista de arbitragem. Eles achavam que se todos os árbitros tivessem um título universitário, seria criada uma nata privilegiada, e os problemas estariam resolvidos.

Não, o árbitro de sucesso não é aquele que está na universidade, mas o que está no povo. É aquele que sabe resolver um problema. A figura do árbitro nasceu justamente diante desta necessidade, baseado na confiança e na independência.

Esse cidadão é aquele que tem uma média nos quatro aspectos principais. Não posso ter um grande fundista, e um péssimo psicólogo. Ele tem de ter um denominador comum. E o grande árbitro é aquele que tem uma regularidade de atuações, nas quais ele consegue suplantar os atos novos e resolver os principais problemas.

Só há um problema quando você pode resolvê-lo. Toda vez que isso não é possível, o problema não pertence à sua esfera. O problema não existe quando não há respostas. O homem que sabe resolver suas adversidades familiares e cotidianas é o homem ideal à arbitragem.

Quando ele tem sua personalidade formada e sua atividade profissional não interfere na arbitragem, ele está pronto para ser um árbitro de sucesso. Por conta disso consideramos que a idade ideal para todo árbitro internacional é entre os 35 anos e os 45 anos. Ele está na plenitude de sua realização profissional e maduro o suficiente para exercer a nova função.

Hoje o futebol possui uma velocidade diferenciada. E nosso questionamento não se baseia mais na avaliação física, mas na faixa etária justamente por conta disso. Aquele de 46 anos muitas vezes se acomoda e acredita que possui direitos adquiridos, sem nada mais a crescer.

Arbitragem não é hobby e nem emprego: é vocação. Ela está condicionada àqueles dois postulados, que são a confiança e a independência.

Divido a carreira do árbitro em três momentos: ele apita onde deixam, apita onde ele quer, e apita onde ele gostaria. Quando chegar à plenitude, é necessário ter consciência e retornar para casa, não sendo apenas mais um.

Universidade do Futebol - Qual a diferença entre o árbitro e o "apitador"?

Emídio Marques de Mesquita - O apitador é aquele que saiu da escola e apita de uma forma inconsequente. O árbitro é aquele que toma uma decisão que pode desagradar ao mundo todo, menos à sua consciência.

Entre ambos, existe o relações públicas, o mediador. É aquele que aplica cartão para o jogador de um time e para o outro, ele é o bonzinho, sempre querendo estar em evidência nas escalas para ser prestigiado.

Os erros no último Mundial estiveram muito ligados à postura "mediadora" da maioria dos árbitros. Desagradaram a sua consciência, apitaram roboticamente, e geraram uma grande frustração. Este tem que ir pra casa.

Universidade do Futebol - Existe um modelo de treinamento específico realizado para os árbitros de futebol?

Emídio Marques de Mesquita - Quando eu atuava, cada país tinha no máximo sete árbitros internacionais. Estes funcionavam como árbitros e juízes de linha, que era a terminologia da época. A partir de 1990 após o Mundial na Itália, alterou para 10 árbitros e mais 10 árbitros assistentes, cada qual em sua função específica. A cabeça foi disciplinada.

Naquela época, a idade máxima era 50 anos - agora, 45 anos. Além disso, o referencial era o teste de Cooper, dos 12 minutos. Hoje é o teste no campo, andando, trotando e correndo. Muito mais difícil e exigindo bem mais fisicamente.

O trio também era misto em termos de nacionalidade. Agora, o idioma é o mesmo, sendo que todos têm de saber falar o inglês. Houve, consequentemente, uma diminuição dos erros, apesar de não ser o ideal. Por quê?

O problema não está quando a bola está parada, mas quando ela está em movimento. A velocidade do árbitro é uma, e a da bola é outra. O árbitro anda no mínimo a 2 metros por segundo de velocidade. Quando trota, vai a quatro metros por segundo. Num sprint, a sete metros por segundo. O tempo da bola é imprevisível.

O referencial é: árbitro e bola têm de correr na mesma direção, sendo que o ser humano precisa manter uma distância razoável do objeto, para não atrapalhar o desenvolvimento das ações.

Quanto menos interrupção houver, melhor o jogo. Temos de estudar, então, esse sincronismo entre todos os árbitros do mundo, algo muito difícil. NBA e FIBA, por exemplo, já conseguiram essa homogeneidade. O futebol, não.



No basquete, Mesquita deu seus primeiros passos como árbitro principal; dificuldades são maiores do que no futebol, acredita ele

 

Universidade do Futebol - Como é feita a análise do desempenho dos árbitros e a interação com ele, após a atuação em uma partida oficial?

Emídio Marques de Mesquita - Todo trabalho pressupõe que se tenha um controle. E o árbitro tem de saber que está sendo avaliado, para ter um retorno. Eu analiso o trabalho dele de acordo com alguns critérios específicos.

Nota 10 é excelente. Nove é ótimo; oito é muito bom; sete é bom; seis é mais que regular; cinco é regular; quatro é mais que sofrível; três é sofrível; dois é mais que insuficiente; um é insuficiente; e zero é nulo

São seis aspectos. Primeiro, a personalidade (peso 1). Tenho de responder se o árbitro foi imparcial ou não. Aquele ponto como ele se livrou das reclamações de jogadores, banco e público, por exemplo. Necessito escrever a razão de determinada atribuição, ponto a ponto.

Segundo ponto é a parte física (peso 2). Analiso a sincronia do árbitro com o jogo, o modo como ele se situa nas jogadas. Sempre justificando.

Terceiro ponto, de peso maior (peso 3), é a aplicação das regras do jogo. Ele tem de ter uniformidade de critérios para que os envolvidos tenham uma noção de como se desenvolverá o duelo. A aplicação da lei da vantagem também se insere nesse quesito. O árbitro é o guardião da regra, ele tem o poder disciplinar, e não é o juiz da questão.

Quarto ponto é a mecânica de arbitragem. A forma como o quinteto se realiza. No meu tempo, o árbitro assistente discordava bastante de você. Hoje, parece que é proibido se pensar diferente. Erra-se igual em detrimento do conserto do erro. O peso é dois.

O resultado final resulta em uma média - é o espelho da atuação do árbitro. Mas os jogos são diferentes. Tenho de ver o grau de dificuldade da partida, em si, com pontos extras conferidos ao árbitro. Cada um dos itens é justificado. Não é possível se manipular a informação.

No relatório, ainda cito três pontos positivos e três pontos negativos da atuação do árbitro. Mando o documento para a Fifa, que tira uma cópia e envia diretamente para a residência do envolvido na partida.




"Nunca me preocupei em agradar ninguém. E esse tipo de atitude me fez chegar aonde eu cheguei, sem hipocrisia, com o coração"
 
 

Universidade do Futebol - A medida mais interessante para reeducar o árbitro quando ele comete uma sequência de erros é o afastamento dele?

Emídio Marques de Mesquita - Sim, mas a punição do árbitro tem de ser intramuros. Ele não pode ser meramente exposto e tem de passar por uma reciclagem específica. Seja em termos técnicos, físicos ou psicológicos.

Universidade do Futebol - Como o senhor vê o papel da mulher dentro do mundo da arbitragem? Quais são as diferenças em relação à situação masculina?

Emídio Marques de Mesquita - O problema da mulher está totalmente desvirtuado no Brasil. No mundo existe futebol feminino, e aqui o desenvolvimento da modalidade é muito pequeno. Por conta disso, elas foram colocadas para trabalhar em meio aos homens.

A natureza biológica da mulher é diferente da do homem. O teste físico da mulher é diferente do homem. A cabeça da mulher é diferente da do homem. São estranhos no ninho.

Nós estamos andando na contramão do mundo. Jogos masculinos somente são dirigidos por homens, assim como são as mulheres quem arbitram os jogos femininos.

A mulher tem uma visão periférica melhor do que o homem. Por causa da procriação, da cria. Assim, ela é melhor assistente do que o homem e tem a visão de conjunto. Geralmente, comete menos erros quando atua nessa função.

Universidade do Futebol - O senhor teve um início de carreira ligada ao basquete. É possível traçar um paralelo entre modalidades diferentes e as peculiaridades em cada tipo de arbitragem? Qual esporte é mais difícil de ser apitado?

Emídio Marques de Mesquita - O esporte mais difícil de apitar chama-se pólo aquático. Fora da piscina, você tem de ter noção da "sacanagem" que está ocorrendo embaixo da água. O requisito para ter um grande árbitro dessa modalidade é que ele tenha sido jogador de pólo aquático. O mesmo não vale para o basquete e para o futebol.

Um ex-jogador de basquete ou futebol vai com o apito na boca e a cabeça de atleta. O jogo conduzido por esses árbitros acaba tendo um grau de intensidade tão grande, fazendo-os perder o controle. São permitidas determinadas ações faltosas, por exemplo, que eles consideravam normais.

Dos esportes coletivos, de quadra, o mais difícil de apitar é o voleibol. O árbitro fica estático e tem de analisar situações à distância em que é necessário criar uma uniformidade de critérios para não desarmonizar o jogo. Ele exige uma concentração e uma disciplina muito grandes.

Como não existe a vantagem no basquete e no voleibol, estes árbitros permanecem com o apito na boca. Diferentemente do futebol. Ele entre para deixar de apitar e permitir a fluidez do jogo.

A primeira coisa que ele tem de fazer é ver. A segunda, interpretar. A terceira, sentir. A quarta, analisar. E a quinta, emitir um sinal. Se um desses tópicos não acontecer em uma fração de segundo, o raciocínio dele está errado.

Tive uma experiência na final da Copa Intercontinental de Clubes de 1971, entre Panathinaikos, da Grécia, e Nacional, do Uruguai. Ouço um barulho, mas não vi o lance. Senti que o jogador havia quebrado a perna. Me virei, e apliquei o cartão vermelho ao adversário que estava próximo, em pé.

No jantar, à noite, o húngaro Puskas, que era treinador do Panathinaikos, dirigiu-se até mim e me disse que pensava que eu estava louco por ter expulsado o jogador. "Como você o expulsou?". E eu respondi: "pelo barulho". Isso é sentir. Analisar é o princípio da ação e reação. A situação determina a ação, e não o inverso.

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Universidade do Futebol - Mesmo com toda a importância que tem o futebol na atualidade, a arbitragem ainda não pode ser considerada como profissão, já que são necessárias atividades paralelas para garantir o sustento de um árbitro. Quais as dificuldades criadas com esta situação? O que pode ser feito para alterar este contexto?

Emídio Marques de Mesquita - Na última Copa do Mundo, ao pé da letra, tínhamos apenas um árbitro profissional, ligado à federação inglesa, que é o Howard Webb. Em 1995, o Blatter enviou uma circular para todos os países do mundo, à época eu estava na CBF, para que pensássemos sobre a profissionalização da arbitragem. Em 15 anos não se encontrou uma solução, por vários aspectos.

A legislação trabalhista na Argentina é diferente da encontrada no Brasil, que também é diferente da inglesa. E surge uma pergunta: quem é o patrão do árbitro?

A Fifa diz que apenas usa os árbitros das entidades associadas a ela. A CBF, por exemplo, diz que tem a relação anual dos árbitros, e usa os representantes das federações estaduais. Estas dizem que formam os árbitros, sendo intermediárias de um campeonato que ela organiza, com o administrador de um condomínio, que são os clubes.

Pela legislação brasileira, a relação entre empregado e empregador é a carteira de trabalho, com diversas especificidades. Não existe na legislação brasileira, entretanto, a profissão "árbitro de futebol". O Ministério do trabalho apenas dá ao sindicato as cartas sindiciais, mas não há uma lei singular.

Onde está o árbitro? O lado do qual ele veio não o aceita. Onde ele está, também não é aceito. Até agora não se encontrou uma resposta.

Dos 208 países filiados à Fifa, quantos têm condições de profissionalizar essa função? Peguemos os principais europeus, sul-americanos e asiáticos. Não passamos de 11 com essa possibilidade. Portanto, é exceção. O problema é insolúvel. E se mexer nisso, mexe com a independência.

No momento em que o árbitro necessita receber pelo seu serviço, ele passa a ser um mediador e se importar apenas com a próxima escala.

Para ter independência, eu tinha de ter o meu ganha-pão, proveniente da engenharia e do corpo docente. Do contrário, seria um mero fabricador de resultados. Nunca me preocupei em agradar ninguém. E esse tipo de atitude me fez chegar aonde eu cheguei, sem hipocrisia, com o coração.