Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, outubro 31, 2012

A criatividade vai salvar o mundo (se a burocracia não nos tirar o direito de pensar)

Em entrevista exclusiva ao Administradores.com, o sociólogo Domenico de Masi faz projeções sobre o futuro do planeta, explica por que o excesso de trabalho é negativo, critica o Google e o Facebook e, claro, culpa a burocracia pela maioria dos problemas do planeta

Por Simão Mairins, www.administradores.com

"Os burocratas são os assassinos tristes dos alegres criativos". Com essa pequena frase – tão cheia de efeito quanto de significado – o sociólogo italiano Domenico de Masi nos respondeu por que odeia tanto a burocracia. E é justamente essa repulsa a base de boa parte de seu pensamento, que o tornou uma das figuras de maior influência no mundo desde os anos 1970, quando suas obras ganharam notoriedade. Para Domenico, a burocracia gera trabalhos desnecessários, os trabalhos desnecessários nos fazem trabalhar mais, e trabalhando mais em atividades burocráticas temos menos tempo para dedicar à atividade intelectual, para ele, o motor que move o mundo (e nas próximas décadas moverá ainda mais).


O sociólogo estará no Brasil no próximo dia 5, quando fará a abertura do XXII ENBRA (Encontro Brasileiro de Administração) e do VIII Congresso Mundial de Administração, que acontece no Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao Administradores.com, ele adiantou alguns pontos que devem permear sua palestra. Ele faz projeções sobre o futuro do planeta, explica por que o excesso de trabalho é negativo, critica o Google e o Facebook e, claro, culpa a burocracia pela maioria dos problemas do planeta (lembrando que, para ele, a burocracia não é simplesmente a demora na tramitação de um documento em um órgão público, mas todas as dificuldades cotidianas que os processos - muitas vezes inúteis - que criamos no dia a dia geram para nossas vidas).

 

 

O tema de sua palestra na abertura do Enbra será "Uma era de justiça social: como promover um crescimento forte, sustentável, equilibrado e igualitário". Nossa pergunta, então, é: como, de fato, promover isso?

Nos próximos dez anos, o PIB per capita do mundo será de 15.000 dólares, contra os atuais 8.000. Mas o poder de compra no Ocidente será 15% inferior. O Primeiro Mundo vai conservar a supremacia na produção de ideias. Os países emergentes produzirão sobretudo bens materiais. O terceiro mundo fornecerá matérias-primas e mão-de-obra barata. O PIB da China será como o dos EUA, possuirá os maiores bancos do mundo e 15 megalópoles com mais de 25 milhões de habitantes. Paralelamente aos Bric (Brasil, Rússia, India e China), emergirão os Civets (Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul). Alguns países ainda pobres verão crescer a própria riqueza. Outros, já ricos, verão sua riqueza decrescer. Em ambos os casos será necessária a redistribuição igualitária (justa) do poder, da riqueza, do trabalho, do saber, das oportunidades e dos direitos.

 

Hoje, diversas empresas aclamadas no mundo, como Google e Facebook, se orgulham do fato de oferecerem aos seus colaboradores a possibilidade de desfrutarem, durante o expediente, de horas vagas, dedicadas a projetos paralelos ou atividades meramente recreativas. Isso é o princípio do ócio criativo tornando-se paradigma no mercado? De forma prática, como seu conceito pode fazer a diferença, ao mesmo tempo, para uma empresa e seus trabalhadores?

O "ócio criativo" é como chamo o trabalho intelectual que consente contemporaneamente que sejam criadas riquezas por meio do/pelo trabalho, conhecimento por meio do estudo, bem-estar por meio do jogo/da brincadeira/do lúdico. Empresas como o Google e o Facebook, unindo trabalho e recreação, satisfazem o lado infantil do trabalhador, mas não eliminam completamente os paradoxos existentes em todas as organizações empresariais gerenciadas no modo industrial. Elenco algumas:

- A oferta de trabalho diminui, a demanda de trabalho cresce e o horário de trabalho continua o mesmo ou maior. Os pais, então, trabalham 10 horas por dia e os filhos estão completamente desocupados (como é o caso da Espanha, por exemplo).

- Temos cada vez mais liberdade sexual, mas as empresas estão cada dia mais sexofóbicas.

- A produção de ideias necessita de autonomia e de liberdade, mas as empresas se burocratizam cada vez mais.

- O trabalho intelectual requer motivação, mas costuma ser conduzido sobretudo pelo controle e pelo medo.

- As mulheres estudam e trabalham melhor, mas fazem menos carreiras e têm salários menores.

 

Você faz parte de uma corrente otimista, que defende a ideia de que chegaremos a um ponto de sociedade pós-industrial dedicada ao lazer e ócio criativo. Entretanto, essa crise global parece levar a humanidade em outra direção, onde sequer o trabalho "comum" está disponível para a maior parte das pessoas. Esse cenário atual o fez em algum momento questionar suas crenças?

O ócio criativo é a modalidade com a qual podem trabalhar, estudar, brincar e viver os trabalhadores que desenvolvem atividades intelectuais — executivos, administradores, profissionais, dirigentes, jornalistas, estudantes, professores, artistas, cientistas etc. Estes trabalhadores representam agora 70% da população ativa. Sou otimista porque, graças ao progresso tecnológico, o número dos trabalhadores intelectuais aumentará sempre mais, enquanto o dos operários condenados à fadiga física diminuirá. Isto determina a passagem da sociedade industrial, que produz sobretudo bens materiais, à pós-industrial, que produz sobretudo bens imateriais (serviços, informações, símbolos, valores, estética). O ócio criativo é a modalidade com a qual trabalha e vive todo trabalhador intelectual não alienado.

 

Na Europa, economistas, governos, o BCE e bancos privados atribuem a crise, entre outras coisas, a supostos excessos de privilégios garantidos pelo estado de bem estar social. Como você vê essa questão? A busca pela qualidade de vida, a felicidade, são incompatíveis com o modelo de sociedade que o estágio atual do capitalismo impõe?

O welfare — bem-estar social — é a criação mais nobre da sociedade europeia. Na Alemanha, Inglaterra, nos países escandinavos, onde o Estado gasta mais com o welfare e o bem-estar é mais garantido, os balanços do Estado são mais saudáveis e regulares. Na Grécia, Itália, Espanha e Portugal, onde o Estado gasta menos com o welfare e o bem-estar é menos garantido, os balanços do Estado também estão em déficit. O atual modelo capitalista é baseado na falsa certeza de um crescimento infinito, de um consumismo exagerado, de uma competitividade selvagem. Neste capitalismo, a economia tem vantagem sobre a política, as finanças têm vantagem sobre a economia, a tática tem vantagem sobre a estratégia. É necessária a elaboração de um novo modelo de sociedade no qual a política tenha a responsabilidade por um longo tempo, a economia se interesse por um tempo a médio prazo e a finança fique rigidamente restrita em operações de curto espaço de tempo.

 

Você é um crítico ferrenho da burocracia. Por quê?

Os burocratas são os assassinos tristes dos alegres criativos.

 

Você acredita que hoje, mais do que em qualquer outra época, o mundo é de quem tem boas ideias? Por quê?

A sociedade pós-industrial é baseada na projeção do futuro. O futuro se projeta com fantasia e de forma concreta. Isto é, com criatividade e sabedoria.

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terça-feira, outubro 30, 2012

Responsabilidade social: alguns entendem, muitos falam, mas poucos colocam em prática

A maioria das corporações possui missão e valores disponíveis e acessíveis aos seus colaboradores, seja em seu site, em cartazes fixados nos murais ou em cartilhas explicativas. Porém, mais do que disponibilizar essas informações, as empresas devem facilitar o entendimento desses conceitos

Por Luiz Gabriel Tiago , Administradores.com
Toda empresa tem a obrigação de oferecer um ambiente de trabalho saudável para seus colaboradores, com infraestrutura satisfatória, ambientes físicos limpos, manutenção das dependências sempre em dia e, principalmente, a garantia de um bom relacionamento interpessoal entre as equipes – visando a qualidade de vida dentro e fora da empresa.
A maioria das corporações possui missão e valores disponíveis e acessíveis aos seus colaboradores, seja em seu site, em cartazes fixados nos murais ou em cartilhas explicativas. Porém, mais do que disponibilizar essas informações, as empresas devem facilitar o entendimento desses conceitos, pois são eles que mantêm vivos a essência da corporação e o engajamento individual de seus profissionais.
 
Alguns valores são comuns entre as empresas, como a ética, a atitude, o comprometimento, o engajamento, a responsabilidade, entre outros. Mas, e a sustentabilidade? Quantas dessas empresas ainda ignoram a necessidade da preocupação com a sociedade e a preservação do meio ambiente? E quem deveria dar o primeiro passo ao "fazer o bem" dentro do ambiente profissional: as lideranças ou os liderados?
Na verdade, qualquer um pode iniciar uma campanha que envolva o engajamento com causas ambientais. Isso é iniciativa e proaatividade! É importante dizer que a educação ambiental começa dentro de casa quando ensinamos nossos filhos a não jogar lixo pelas ruas, não sujar áreas de preservação ambiental, reaproveitar insumos ou materiais para reciclagem, não desperdiçar água ou energia elétrica, enfim, atos simples e que podem/devem ser migrados quando somos contratados por qualquer empresa – engajada nisso ou não.
Os líderes devem estar aptos a conscientizar suas equipes a colaborar com os programas e projetos adotados na empresa, visando assim a preservação dos recursos naturais. Isso é uma questão de capacitação, e bons treinamentos colaboram para esse "despertar" individual que pode se espalhar pelos corredores. Quando uma pessoa se envolve em uma iniciativa de corpo e alma, acaba "contaminando" os outros colegas. Portanto, não é tempo de desperdiçar energia nas empresas. Todos são agentes potenciais de transformação!
Costumo dizer que não existe empresa rica em comunidade pobre. Essa afirmação está baseada nos princípios de uma gestão realmente "gentil" e transformadora. Seriam idiossincrasia e antagonismo grandes considerar os resultados como satisfatórios se em minha volta existem a pobreza, a desigualdade social, o desemprego e a falta de infraestrutura básica. Nossas empresas têm, sim, o dever de considerar seu entorno e se responsabilizar por isso. Não ouso dizer que a empresa "x" é a única responsável por exterminar toda a miséria em seu entorno, mas exerce papel fundamental sobre isso.
Adotei algumas ações sustentáveis em meus programas de treinamentos e palestras para as empresas que desejam capacitar e informar seus colaboradores. Uma delas foi trocar as apostilas impressas por CDs, já que a quantidade de papel utilizada nos encontros era muito grande. Em 2011, 6.000 pessoas em todo o Brasil participaram do treinamento "Gentileza Estratégica nas Empresas", recebendo cada um o material didático com 20 páginas de folha sulfite. Em 2012, com a adoção da sustentabilidade, deixamos de "jogar" na natureza mais de 120.000 impressões que seriam, sem dúvida, descartadas logo após o evento (aproximadamente 600 kg – quase 1 tonelada).
A responsabilidade social e comunitária engloba ações simples do dia a dia que todos podem contribuir. Por exemplo, contratar mão de obra local, desenvolver programas de interação empresa X comunidade, investir em organizações locais filantrópicas ou do terceiro setor ou, simplesmente – acreditar na solidariedade.
Os pilares de uma empresa gentil são responsabilidade social, preocupação com o meio ambiente natural, qualidade de vida dos colaboradores e gestão estratégica. Ou seja, abraçar todos os valores que uma corporação busca para atingir a sua saúde financeira e social. Preocupar-se com o capital humano interno e externo é garantia de sucesso; sucesso duradouro e não passageiro, como a vida.
Luiz Gabriel Tiago  é escritor, palestrante e consultor em treinamentos. Conhecido como Sr. Gentileza, aborda em suas apresentações, cursos e treinamentos a gentileza no ambiente profissional, qualidade no atendimento e capacitação profissional. Ganhador do Prêmio "Ser Humano 2012", da ABRH, com o melhor treinamento do Brasil, Sr. Gentileza é autor de dois livros e diariamente dá dicas sobre os Princípios da Gentileza em seu sitewww.srgentileza.com.br. 
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A formação de jornalistas esportivos

Saber somente as regras e conhecer bem as táticas não são sinônimos de entender como o jogo funciona

Guilherme Costa / Universidade do Futebol

 

Não conheço nenhum segmento profissional que atraia pessoas com perfis tão diferentes quanto o jornalismo esportivo. A despeito de ser repleta de problemas – e qual não é, afinal? –, essa seara ainda é vista como uma opção de unir paixões, um cotidiano sem rotina e a chance de formar opiniões.

"Eu abriria mão de tudo isso". Ouço isso recorrentemente de pessoas que estão em situação estável na carreira, mas insatisfeitas com a atual posição, e que veem no jornalismo esportivo uma chance de guinada.

Uma das coisas mais legais de dar aulas de jornalismo esportivo é ver o quanto as pessoas que se interessam pela área têm origens diferentes. O segmento parece comportar tudo, desde aqueles que sempre sonharam com isso até os que enxergaram aí um meio de redirecionar a carreira.

Com os megaeventos esportivos que o Brasil receberá nos próximos anos, então, o segmento passou a ser ainda mais atraente. Até para pessoas que não são naturalmente apaixonadas por esporte, mas consideram o segmento promissor em função do calendário de curto e médio prazo no país.

O curioso é que eu sempre considerei a paixão como o maior elo entre os profissionais e postulantes a vagas em jornalismo esportivo. Nos últimos tempos, porém, nem isso tem sido um fator comum a todos os que tentam enveredar por esse caminho.

Se o elã não é o único requisito básico no jornalismo esportivo, o que sobra, então? Com base empírica, posso dizer que as características comuns a todos na área são a vontade de opinar e a impressão de conhecer. Afinal, todo mundo acha que entende de esporte.

Esse é um problema muito maior do que o jornalismo, na verdade. É algo que atinge até as pessoas que estão no meio e que vivem o esporte. Tê-lo como assunto cotidiano, saber as regras e conhecer as táticas não são sinônimos de entender como o jogo funciona.

Independentemente da modalidade, o esporte tem atletas que sabem resolver problemas e sabem os melhores caminhos em cada situação. Só não sabem por que escolheram aquela solução ou aquela rota. Também é assim no jornalismo.

Pense em quantas vezes você leu, ouviu ou viu alguém dizendo que "o time A está melhor em campo porque finalizou mais". Ou então descrevendo todos os movimentos de um lance para relatar o que acabou de acontecer.

Em geral, descrições de movimentos ignoram o mais relevante em um lance: os porquês. É fácil dizer que um atacante driblou dois marcadores, invadiu a área e finalizou no canto esquerdo do goleiro. Difícil é explicar a quem acompanha o jogo o motivo de aquilo ter acontecido. Mesmo se o motivo for simplesmente o improviso.

Essa transição da opinião pura para uma análise fundamentada é o que separa a maioria dos postulantes ao jornalismo esportivo dos que realmente desempenham bem a profissão.

Entender os porquês do jogo – qualquer jogo – exige um grau muito maior de atenção. Paulo Vinícius Coelho, comentarista dos canais "ESPN", certa vez comparou a atenção que as pessoas dedicam ao futebol com o grau de concentração que elas têm no cinema.

No cinema, não há nada além do filme. Isso permite, por exemplo, que alguns diretores escondam informações ou até homenagens em algumas cenas. Nos Estados Unidos, esses elementos são chamados de Easter Eggs.

Se houvesse Easter Eggs no futebol, sou capaz de apostar que eles seriam pouco notados pelo público em geral. Há um teste de atenção no site de vídeos YouTube que mostra um pouco disso. Jogadores de basquete trocam passes, e o objetivo do exercício é dizer quantas vezes a bola muda de mãos. Veja a avaliação aqui: http://tinyurl.com/2zwhrf.

E aí? Você fez o teste? Acertou o número de passes? É óbvio que esse é um exemplo extremista e que uma situação assim nunca aconteceria em um jogo de futebol profissional. Também é óbvio que o grau de atenção ao lance que acontece em primeiro plano nunca é tão alto quanto o que dedicamos quando seguimos a movimentação da bola no vídeo do YouTube. Tente pensar, porém, no quanto você não tem o hábito de olhar um jogo de futebol de forma sistêmica.

O problema é que você pode ter esse hábito. Um profissional, não. O jornalista que se contenta com o que vê e com o que faz parte do cenário comum a ele perde a chance de fomentar discussões sobre o que realmente importa e estabelecer debates que enriqueçam a análise do jogo.

PS: Como tantos amigos e colegas de profissão, aprendi a ler jornalismo esportivo com exemplares do "Jornal da Tarde". Foi ali que eu tive as primeiras noções de estilo, jargões e do quanto essa área admite visões dicotômicas. Foi ali que eu tive a certeza de que jornalismo esportivo era o que eu queria para mim. O veículo surgiu nessa área e foi sinônimo de excelência durante muitos anos. Entretanto, não foi só o esporte que perdeu com a morte do “JT”. Toda a sociedade perde com um veículo a menos para se manifestar, e isso é muito triste.

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segunda-feira, outubro 29, 2012

Seedorf critica cai-cai e cobra lealdade de jogadores brasileiros

Meia holandês diz que o hábito de atletas no Brasil de se jogarem ao chão para cavar faltas e pênaltis e frequente atos de ludibriar os árbitros é um problema a ser corrigido
Equipe Universidade do Futebol

Após quase quatro meses de participação no Campeonato Brasileiro, o holandês Clarence Seedorf já identificou os principais defeitos dos jogadores que atuam no Brasil.

E, para ele, o maior deles é o hábito de os atletas brasileiros se jogarem ao chão para cavar faltas e pênaltis e que a vontade de ludibriar os árbitros é um problema a ser corrigido.

A lealdade entre os jogadores em campo é importante para manter o profissionalismo do jogo, na opinião do meia botafoguense.

"O futebol tem uma importância enorme socialmente falando e os jogadores precisam ser mais leais. Ser malandro parece um pouco demais. É importante que haja solidariedade, que sejam honestos. A Uefa combate isso há uns cinco, seis anos. Entro em campo para fazer o meu melhor e com o pensamento de que quem se sair melhor vai vencer. Um precisa do outro", afirmou em entrevista à TV Globo.

"Jogar-se no chão para o árbitro entender mal a jogada é uma malandragem. Complica a vida da arbitragem, que já trabalha em um nível de velocidade extremo. Transmitimos coisas para as crianças e ganhar fazendo as coisas de forma correta é melhor. Não precisa de malandragem para ganhar. É uma coisa habitual de vários jogadores que pode ser atacada para passar valores positivos", completou.

O experiente jogador holandês, que já jogou em times de cinco países diferentes, acrescentou ainda que não respeita este perfil de atleta "malandro".

"Os jogadores [do Brasil] deveriam ser mais leais, não ficar caindo, se jogando. Malandragem eu não respeito", finalizou.

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Santander reduz aporte, mas segue com Libertadores

MAURO ZAFALON
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

Corinthians é o atual campeão da Copa Libertadores - Fonte: Divulgação

 

 

Diferentemente do que foi veiculado na imprensa, o banco Santander permanecerá, sim, sendo parceiro da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). A única alteração será que a empresa não terá mais o title sponsor da Copa Libertadores, ou seja, deixará de colocar seu nome na nomenclatura oficial da principal competição de clubes da América do Sul.

 

“O Santander informa que continuará como patrocinador da Copa Libertadores, deixando apenas de fazer parte do naming rights da competição. O Banco acrescenta ainda que a parceria com a Conmebol permanece forte, já que a instituição também é a patrocinadora da Recopa, Copa Sul-Americana e Copa América. A estratégia do Santander é consolidar a sua imagem como o banco do futebol latino-americano”, esclareceu a companhia, por meio de comunicado oficial.

 

Desse modo, o Santander segue os passos da Toyota. A fabricante japonesa de automóveis possuiu o title sponsor  da Copa Libertadores de 1998 a 2007. Após este período, seguiu como patrocinadora do torneio. A montadora asiática tem vínculo com a entidade esportiva até hoje.

 

A aposta no futebol latino-americano é importante para o banco espanhol, uma vez que seus concorrentes também estão associados a eventos esportivos. O Itaú é parceiro da Copa do Mundo de 2014, enquanto o Bradesco apoiará os Jogos Olímpicos de 2016.

 

O envolvimento da instituição financeira com o esporte vai além da relação com a Conmebol. O Santander ainda tem o ex-jogador Pelé e o atacante Neymar, do Santos e da seleção brasileira, como embaixadores. 

sábado, outubro 27, 2012

Santander finda aporte à Libertadores, diz jornal

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

 

 

A Copa Libertadores vai mudar de nome. Segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, o torneio perderá em 2013 o patrocínio do banco Santander, que atualmente detém cota de title sponsor do evento.

 

O contrato da instituição financeira com a competição sul-americana foi assinado no fim de 2007, com validade até este ano. Nesse período, o torneio foi chamado de Copa Santander Libertadores.

 

O banco substituiu a montadora Toyota, que deteve o title sponsor do evento de 1998 a 2007. O Santander também é responsável pela premiação dada ao melhor jogador de cada edição da Libertadores.

 

Quando foi assinado, o contrato fez parte de um reposicionamento global do Santander. Na época, o banco resolveu concentrar esforços no binômio formado por futebol e automobilismo.

 

No futebol brasileiro, o Santander tem como embaixadores o ex-jogador Pelé e o atacante Neymar, do Santos e da seleção nacional. Nos próximos anos, rivais diretos do banco vão patrocinar megaeventos no país: o Itaú é parceiro da Copa do Mundo de 2014, e o Bradesco será um dos investidores dos Jogos Olímpicos de 2016.

 

Com a saída do Santander, segundo a “Folha de S.Paulo”, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) já começou a prospectar parceiros. A meta da entidade é anunciar um novo title sponsor no dia 20 de dezembro, em reunião do conselho executivo da instituição.

 

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quinta-feira, outubro 25, 2012

Por que estádios tão vazios? Os 100 clubes com maior média de público no mundo

Entre os 10 primeiros, nove são europeus, sendo cinco alemães, dois ingleses e dois espanhóis
Fernando Pinto Ferreira* / Universidade do Futebol

A Pluri apresenta nesta semana a segunda parte da série “Por que estádios tão vazios?”, em que será abordada a crise de público do futebol brasileiro. Neste relatório apresentamos o ranking dos 100 clubes com maior média de público no mundo.

Para fazer este ranking analisamos a última temporada completa de cada um dos principais campeonatos nacionais. Não foram considerados os campeonatos continentais, regionais ou copas nacionais.

Alemanha, o "País do Futebol"?

- A Europa domina com folga o ranking dos 100 clubes com maior média de público do mundo. São europeus os oito primeiros colocados, e 78 dos 100 maiores;

- O alemão Borussia Dortmund é o clube que mais leva torcedores ao estádio em todo o mundo. Na última temporada da Bundesliga, a média foi de 80,6 mil pessoas por jogo, com 100% de ocupação do estádio. Todos os jogos com ingressos esgotados por antecipação;

- Em seguida aparece o Manchester United com 75,4 mil/jogo e 99% de ocupação. E na terceira posição, o Barcelona, com 74,6 mil/jogo, mas “apenas” 75% de ocupação do Camp Nou;

- Entre os 10 primeiros, nove são europeus, sendo cinco alemães, dois ingleses e dois espanhóis. O primeiro não europeu da lista é o América do México, nono colocado com a incrível média de 53,8 mil torcedores por jogo;

- Apenas três clubes brasileiros aparecem na lista: Santa Cruz, o 39º com 36,9 mil torcedores por jogo, o Corinthians (65º), com 29,4 mil/jogo e o Bahia (100º), com 22,7 mil/jogo. 

Outros brasileiros que aparecem na lista ampliada dos 200 com maior público são: São Paulo (112º, 21,5 mil), Flamengo (135º, 19 mil), Internacional (143º, 18,2 mil), Coritiba (147º, 18,1 mil), Vasco (172º, 16,9 mil) e Grêmio (184º, 16,4 mil).

- Por outro lado, há 10 clubes mexicanos entre os TOP 100;

- Dos 100 clubes da lista, 89 disputaram a primeira divisão de seus campeonatos Nacionais. O Santa Cruz, é o único clube dos TOP 100 que não disputou ao menos a segunda divisão, o que aumenta ainda mais a importância de seu feito. Entre os 11 que não estavam na disputa da 1ª divisão de seus campeonatos, aparecem (além do Santa Cruz): cinco clubes da segunda divisão inglesa, quatro da segunda divisão alemã e um da "Segundona" espanhola;

- O time de 2ª Divisão com maior média de público no mundo foi o Entraicht Frankfurt, com 37,3 mil torcedores por jogo, pouco acima dos 36,9 mil do Santa Cruz; 

- A Alemanha possui a maior quantidade de clubes entre os TOP 100: 22. Todos os clubes alemães que disputaram a Primeira Divisão estão entre os TOP 100, além de outros quatro que disputaram a divisão de acesso da Bundesliga;

- A Inglaterra aparece na segunda posição, com 20 clubes entre os TOP 100, seguido pela Espanha com 12 e o México com 10;

- O Brasil é apenas o 10º, com 3 clubes entre os TOP 100;

- Borússia Dortmund e Bayern de Munique são os dois clubes com maior ocupação dos seus estádios: 100%; 

- Entre os 20 clubes com maior percentual de ocupação dos estádios, estão nove da Inglaterra, oito da Alemanha, dois da Holanda e um dos Estados Unidos. Todos têm mais de 95% de ocupação média.

A seguir, o ranking:










*Economista, Especialista em Gestão e Marketing do Esporte e Pesquisa de Mercado
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quarta-feira, outubro 24, 2012

O desafio de contratar: como os clubes se viram na luta por atletas

Das dicas de amigos ao uso de softwares, clubes têm estruturas muito diferentes para sobreviver em um mercado que vive revolução

Por Alexandre Alliatti / Rio de Janeiro
Dezenove clubes contrataram jogadores depois de o Campeonato Brasileiro ter começado. Alguns complementaram seu elenco com um par de peças, outros taparam buracos nascidos de transferências, muitos redesenharam a composição de seu vestiário. Não foram poucos: 19 entre 20 participantes. Diz a matemática que resta uma exceção. E a exceção lidera a disputa.
O Fluminense não contratou ninguém. Todas as figuras que atualmente vão a campo com a camisa tricolor já eram do clube antes do início do Brasileirão. E isso não é gratuito, ocasional - pelo contrário. É um processo racional, que parte de duas pontas que se entrelaçam para minimizar a margem de erro nas escolhas tricolores: a formação de uma estrutura profissional voltada ao processo de contratações e o aporte financeiro para concretizar as ambições. Simplificando: não basta ter dinheiro e não saber contratar; e pouco adianta saber contratar se não tiver dinheiro para isso.
Esta reportagem analisa como os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro contratam e como funciona o mercado no qual eles agem. No infográfico abaixo, clicando em cada escudo, o leitor terá um resumo da política e dos mecanismos usados por cada equipe para buscar reforços, além de uma lista dos atletas adquiridos depois de o Brasileirão ter começado - e a situação de cada contratação no elenco.
A pesquisa indica que contratar não é difícil. Difícil mesmo é contratar bem. E contratar bem pede uma estrutura voltada para isso. Dentro deste panorama, surge a notícia boa e a notícia ruim. Primeiro a boa: os clubes brasileiros já perceberam que é fundamental profissionalizar a caça por reforços. A ruim: é um processo que ainda engatinha em boa parte das equipes do país.
Casos e acasos
Tite e Edu Gaspar (Foto: Daniel Augusto Jr. / Agncia Corinthians)Edu Gaspar, gerente de futebol do Corinthians
(Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians)
Não existe um padrão na tática de contratações dos clubes brasileiros. Há casos e casos - ou acasos. Os procedimentos vão de métodos quase científicos a opiniões absolutamente pessoais. Pegando o exemplo de dois dos maiores clubes do Brasil, Corinthians e Vasco, é possível notar a diferença na filosofia - e na capacidade de investimento.
O Corinthians, quando percebe que um jogador de seu banco de dados pode tapar um buraco do elenco, vai em busca de vídeos de quase duas dezenas de jogos dele. Cada observador, em uma equipe coordenada pelo gerente de futebol Edu Gaspar, assiste a duas partidas (de diferentes dificuldades, em diferentes momentos) do atleta e faz um relatório a partir daí. Os dados são cruzados. Deste cruzamento, conclui-se se é um nome a ser aprovado ou não.
Já o Vasco, quando precisa de um boleiro, fica refém de opiniões - vale ressalvar que o clube está reformulando seu departamento de futebol. É muito comum empresários perceberem as carências do elenco e venderem seu peixe à diretoria, que vai aprovar ou não a sugestão. Parte do elenco é formada assim. De resto, vai do gosto dos dirigentes e da comissão técnica. Eles fazem suas observações e ouvem dicas de amigos para contratar determinado jogador. Não há, no clube carioca, o mesmo método do oponente paulista. E nem é necessariamente uma questão de visão de futebol. É de dinheiro mesmo.
- O Vasco, no momento, não tem essa rede. Os jogadores nos são oferecidos. Sabemos que é muito importante, mas demanda algum investimento - comenta Daniel Freitas, diretor executivo de futebol do clube cruz-maltino.
Criar uma rede de potenciais contratações, monitorar os jogadores, analisar sua linha evolutiva em campo, observar números, estudar seu histórico - é tudo um processo de profissionalização, que visa a diminuir a margem de erro na aquisição de atletas (veja abaixo um exemplo simplificado do processo de contratações). Mas o futebol não é uma ciência exata. Por mais forte que seja o filtro adotado pelos clubes em suas análises, erros acontecem. E a opinião de diretores e treinadores está sempre presente, influenciando no processo.
Info FLUXOGRAMA CONTRATACOES (Foto: infoesporte)
Alguns clubes acabam atrelados ao conhecimento de dirigentes. Em 2006 e 2010, o Inter ganhou suas duas únicas Libertadores. Na primeira, tinha Fernando Carvalho como presidente e Vitório Piffero como vice de futebol. Na segunda, tinha Vitório Piffero como presidente e Fernando Carvalho como vice de futebol. Não é coincidência. Enquanto formava uma base profissional, a instituição se aconchegava na boa noção dos dois cartolas. Um caso exemplar: na primeira fase da Libertadores de 2006, Carvalho, em conversa informal com repórteres, disse que um carequinha do Libertad, do Paraguai, vinha sendo o melhor jogador da competição. Um ano depois, a diretoria colorada soube que o jogador estava acertado com o Grêmio. E mandou um representante às pressas para furar o rival e fechar com o atleta na Argentina. Guiñazu é titular absoluto do Inter desde então.
O problema é quando acontece o contrário. Se o dirigente entende de futebol, ótimo; se não sabe patavinas do assunto, o clube corre risco de se lascar. Em 2004, o Grêmio, com estádio próprio, com torcida participativa, com camisa forte, foi lanterna do Brasileirão, nove pontos atrás do penúltimo. Jogadores e treinadores se sucederam ao longo do campeonato - em vão. Menos de três anos depois, o Tricolor estava em uma final de Libertadores - com o mesmo estádio, a mesma torcida, a mesma camisa. A diretoria é que era outra.
O método empírico, baseado na vivência dos dirigentes, segue preponderante em clubes como Flamengo, Palmeiras e Náutico. Corinthians, Botafogo, Fluminense, Inter e Coritiba são casos de administrações que avançam para se desprender do cartolismo. E muitos outros estão no meio do caminho, adotando métodos para contratações, mas ainda dependentes dos pitacos de diretores.
Um novo jeito de contratar
RODRIGO CAETANO (Foto: Edgard Maciel de S/Globoesporte.com)Diretor Rodrigo Caetano é o núcleo de processo de
profissionalização no Flu (Foto: Edgard Maciel)
Faz pouco tempo, não mais do que cinco anos, que ganhou corpo um novo filão no mercado brasileiro: o de diretor executivo. Trata-se de um profissional pago para organizar a casa. É um funcionário com atribuições administrativas - recebe salário para cumprir determinadas tarefas, e auxiliar nas contratações costuma entrar no pacote.
Estes profissionais encabeçam um processo de migração no futebol brasileiro. Os clubes, no esquema do Maria-vai-com-as-outras, aos poucos vão trocando a gestão política pelo comando profissional em seus departamentos de futebol. Ao perceber que os adversários estão modificando suas estruturas e tendo resultados com isso, os dirigentes se obrigam a adotar medida semelhante. Consequência: aos poucos, as decisões deixam de ser exclusividade dos dirigentes políticos (presidentes, vices e diretores de futebol) e passam a ser mais compartilhadas por executivos de futebol.
A diferença entre um e outro é o preparo. O dirigente político costuma ser indicado por um gosto pessoal do presidente - e a torcida fica à mercê das opiniões dele. É um sujeito que geralmente gosta de futebol, que é apaixonado pelo clube, mas que não tem um método em suas observações - e não recebe um tostão pelo trabalho. O executivo traz a reboque a ideia de uma gestão mais ampla. Tem (ou deveria ter) cursos de gestão esportiva em seu currículo. É por causa dele que proliferam pelos principais clubes figuras como as do analista de desempenho, do observador de adversários e do olheiro - e ações como o scout.
A imponência destas novas estruturas depende do interesse do clube em bancá-las. O Fluminense decidiu pagar o preço. Rodrigo Caetano foi contratado como diretor executivo a peso de ouro no ano passado - com salário similar ao dos principais jogadores do elenco. Estava no Vasco, e antes trabalhou no Grêmio. Este ano, foi eleito o melhor executivo do país por empresas de marketing e negócios no esporte. Abaixo dele, o Tricolor estabeleceu uma estrutura de oito pessoas responsáveis pela análise de jogadores que podem ser contratados. Uma delas é Marcelo Teixeira, gerente de futebol, que trabalhou no Manchester United e tem um forte banco de dados, com informações detalhadas de mais de 500 jogadores.
Ter estes profissionais permite que o Fluminense adote estratégias parecidas com a do Corinthians (são os dois mais recentes campeões brasileiros): forma um painel de opções, baseado em análises de diferentes profissionais, e joga estas alternativas em um funil até encontrar o nome que melhor complemente características técnicas, táticas, físicas e comportamentais para o espaço carente no elenco. Assim, o clube pode fazer contratações pontuais, respaldado pela injeção financeira de sua patrocinadora, a Unimed. O Flu tem saúde no cofre para manter seus jogadores. Por isso, não precisa repor vendas. Está aí o porquê de ser o único clube que não contratou ninguém durante o Brasileirão.
- Em 2012, ainda reduzimos nosso elenco, para que jogadores não-utilizados de forma frequente dessem espaço a jovens. Com nosso patrocinador, mantivemos o elenco, renovamos o contrato de quase a totalidade dos jogadores. Com isso, os que vieram, vieram para resolver - explica Rodrigo Caetano.
O Botafogo tenta adotar modelo parecido, mas com suas particularidades - está longe de ter o mesmo dinheiro do rival. Se no Fluminense a figura-chave é Rodrigo Caetano, no Alvinegro as decisões sobre contratações passam por Anderson Barros, gerente de futebol do clube, também um dirigente remunerado. Abaixo dele, há um departamento de análise e estatística, que ajuda a monitorar possíveis reforços e a dissecar atletas que entrem na alça de mira do clube.
relatrio de contratao do Botafogo (Foto: Anlise e estatstica do BFR)Exemplo de parte de relatório feito pelo Botafogo ao abservar um atleta (Foto: Análise e estatística do BFR)
O Coritiba vai no mesmo embalo. Tem Felipe Ximenes, executivo de futebol, na coordenação de uma equipe que conta com dois ex-jogadores do clube, Pachequinho e Márcio Goiano, como observadores. Eles têm participação direta na formação do elenco. Atletas como o volante Sérgio Manoel e o lateral-direito Ayrton chegaram ao clube assim.
- A gente tem um grupo de funcionários do departamento de captação, observação e scout que acaba mapeando várias regiões do Brasi. Não é fácil, porque concorremos com outros clubes. Temos que chegar na frente, para na hora de trazer esse atleta, não ter outro clube em cima. Também fazemos observações ao vivo, in loco, e vamos colhendo informações. Temos parceiros que nos trazem alguns detalhes. Nós vemos do que o elenco necessita, o perfil de atleta, aquilo que a gente imagina como bom jogador para o clube - diz Pachequinho.
Outros clubes adotam departamentos parecidos, mas que não estão necessariamente focados em contratações. Eles auxiliam - porém, mais para abastecer algum dirigente do que para sugerir alternativas a ele. São os casos, por exemplo, da Central de Dados Digitais do Grêmio e do Departamento de Análise e Desempenho do Bahia.
Zinho no treino do Flamengo (Foto: Mrcio Alves / Ag. O Globo)Zinho trabalha sem presença de um vice de futebol
no Flamengo (Foto: Márcio Alves / Ag. O Globo)
É interessante observar também que a figura do executivo começa a eliminar a presença do vice-presidente de futebol em alguns clubes. No Flamengo, não houve um substituto para Paulo César Coutinho, demitido em setembro. Zinho, diretor remunerado, é quem cuida das contratações. No Grêmio, o cargo político está vago desde que Paulo Pelaipe assumiu como executivo de futebol, em agosto do ano passado. Na contramão, está o Inter, que tinha tanto o cargo político quanto o profissional até Fernandão, diretor-técnico, virar treinador do time. Restou Luciano Davi como vice-presidente de futebol - e responsável por negociações, consequentemente. A gerência de futebol está vaga.
Enquanto uns eliminam opiniões, outros agregam. O caso do Santos é único. A Vila Belmiro tem uma espécie de colegiado, com nove integrantes, que delibera sobre as contratações do clube. As negociações são decididas por maioria. O presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro tem poder de veto.
- O Santos tem um modelo de gestão pioneiro no futebol brasileiro, com um Comitê de Gestão formado por sete pessoas de perfis complementares, mais presidente e vice-presidente. As contratações passam pelo Comitê e são decididas de maneira majoritária, mas com a chancela do presidente, que tem poder de veto, já que novos reforços envolvem não apenas questões técnicas, mas financeiras, de filosofia do clube e de planejamento. Geralmente, os nomes são definidos pela comissão técnica e pelo departamento de futebol. As condições gerais são passadas ao Comitê, que analisa a operação como um todo - explica o presidente do Peixe.
Alternativas
Em um mercado competitivo, os clubes buscam alternativas para formar bons elencos sem gastar muito. Claro, nem sempre dá certo. Bahia, Sport e Náutico, por exemplo, entram em um grupo de equipes que precisam esperar o mercado esfriar para partir em busca de boa parte de seus reforços. Afinal, eles não têm dinheiro para competir com concorrentes de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que por vezes começam a montar seus elencos ainda na temporada anterior - o São Paulo, por exemplo, já tenta contratar Aloísio, do Figueirense, para 2013.
Com menos força, clubes de mercados menos abastados acabam contratando atletas com o campeonato em andamento. Desde que começou o Brasileirão, o Sport buscou 16 jogadores, entre apostas e atletas experientes, mas pouco aproveitados em seus clubes. Demorou para pelo menos alguns deles, casos de Cicinho e Hugo, engrenarem - e o time pernambucano luta contra o rebaixamento. Sem poder competir de igual para igual no momento mais quente das disputas por atletas, resta o que sobrou no mercado, e aí o risco é maior. No Bahia, foram 12 contratações, e apenas Neto é titular. Já o Náutico buscou 13 reforços desde a primeira rodada - entre eles, Kieza, principal jogador da equipe.
- Há momentos em que o mercado fica muito aquecido, e os clubes de menor investimento têm dificuldades. Não pode ir quando está aquecido, porque não vai ter sucesso. Vai ter que esperar desaquecer - resume Paulo Angioni, gerente de futebol do Bahia.
O Figueirense, por anos, usou como estratégia se unir ao empresário Eduardo Uram, um dos principais do país, para formar seu grupo de atletas. O atual elenco tem 12 jogadores ligados ao agente. Mas isso tem um preço. Quando os atletas se destacam, a porta de saída fica mais aberta. No momento, a parceria vive momento de turbulência, já que a administração do clube quer liberdade para negociar com outros grupos ou empresários.
Leandro Damio, Coreia do Sul x Brasil (Foto: Agncia Reuters)Damião vai parar na Seleção depois de trabalho
de prospecção do Inter(Foto: Agência Reuters)
O Inter é especialista em outra fatia do mercado de prospecção: a de jogadores em vias de migrar para a turma dos adultos. Ninguém no Brasil sabe captar tão bem quanto os colorados aqueles atletas que precisam de uma última lapidada antes de ir para o elenco profissional. São jovens de 16, 17, 18 anos, que já se destacam por seus clubes. Eles chegam ao Beira-Rio com salários representativos para a idade, recebem um ou dois anos de aprimoramento no último estágio da base (juniores ou time B) e aí vão para o grupo principal. A seleção brasileira hoje tem três jogadores com patamar de titulares que passaram por esse processo em Porto Alegre: o volante Sandro (agora no Tottenham, da Inglaterra), o meia Oscar (vendido para o Chelsea, também da Inglaterra) e o atacante Leandro Damião.
- A gente tem nossa equipe sub-23, a equipe B, que disputa campeonatos profissionais. Temos um setor de captação muito forte. São oito observadores. Fazemos análises do plantel, as carências, e olhamos atletas que possam suprir isso. No primeiro semestre, analisamos quase todos os Estaduais. Agora, olhamos as Séries D, C e B - explica Jorge Macedo, coordenador geral das categorias de base do clube gaúcho.
Cerca de 20 jogadores chegam anualmente ao Beira-Rio por meio dessa prospecção de jogadores em vias de integrar o elenco profissional. Alguns são espionados desde muito cedo - caso de Oscar, observado desde os 14 anos. Quando estes atletas encontram espaço no time principal, o clube ganha fôlego financeiro para investir em jogadores consagrados - como D'Alessandro, Dagoberto e Forlan, por exemplo. Clubes como o Fluminense começam a usar estratégia parecida.
Tecnologia encurta caminho para contratações
Wyscout. Soccerassociation. MF10players. Os três termos podem soar estranhos para os leigos, mas fazem parte do dicionário de parte dos responsáveis por contratações nos principais clubes brasileiros. São os nomes de sites especializados em otimizar o processo de observação de jogadores. Eles formam um banco de dados com informações detalhadas sobre atletas de tudo que é canto. Dirigentes remunerados mergulham nas páginas em busca de detalhes sobre boleiros que possam interessar ao clube para o qual trabalham.
montagem contrataes (Foto: Reproduo)Exemplos de sites que auxiliam no monitoramento de possíveis reforços (Foto: Reprodução)
Os três sites citados acima são usados diariamente por Cícero Souza, executivo de futebol do Sport, e por outros responsáveis por contratações no futebol brasileiro. Um deles, o MF10players, fala português. Foi lançado em maio e já tem como clientes três clubes da Série A: Grêmio, Inter e Ponte Preta, além de executivos (caso de Cícero) e empresários que trabalham com futebol. Foi criado por dois jovens gaúchos: um especialista em informática, Marcelo Nadler, e outro acostumado a transitar no futebol, Martin Carvalho, ex-jogador de Inter e Vasco, filho de Fernando Carvalho.
O Wyscout também é assinado por Botafogo e Corinthians, além de uma penca de clubes estrangeiros - alguns dos maiores da Europa entre eles. A assinatura mensal do pacote completo custa R$ 1,8 mil mensais. O Soccerasssociation é mais barato: R$ 650,00 por três meses.
O GLOBOESPORTE.COM teve acesso à área de assinante do MF10players. É uma mistura de agenda com ferramenta de busca. O sistema permite que se filtre a situação de jogadores de acordo com a necessidade do clube. Se, por exemplo, o Flamengo quiser um meia argentino entre 22 e 25 anos que atue na primeira divisão de seu país, poderá fazer a busca. Em um clique, terá 68 opções. Caso se interesse, por acaso, por Luis María Lagrutta, do Atletico Rafaela, terá acesso a uma página com a lista das últimas partidas do jogador e o histórico da carreira dele, subdividido por minutos jogados, quantidade de partidas, número de vezes em que foi titular, frequência com que entrou no decorrer do jogo ou foi substituído e montante de gols e cartões (veja o exemplo aqui).
Links de vídeos do jogador acompanham a página. O assinante pode criar listas com atletas que caiam em sua raia de interesse - e comparar os prós e contras de cada um a partir dela. Assim, forma uma agenda pessoal de contatos. E já tem em mãos boa parte das informações necessárias para decidir se vale a pena contratar ou não o jogador.
Existem outros sites e programas. O Coritiba usa um chamado Prozone. Ele tem o incremento de aspectos táticos - costuma ser usado por analistas de desempenho para observar adversários e até o próprio time. Uma ferramenta de acompanhamento em tempo real dá ao assinante uma noção imediata do desempenho de determinado jogador na partida que ele está disputando no momento.
Até a seleção brasileira utiliza recursos assim. No caso, não para contratar jogadores, mas para observar aqueles na mira do treinador para futuras convocações. A estratégia começou com Dunga e continua com Mano Menezes. O site utilizado por eles é o ISB, da Alemanha, que teve o ex-presidente do Flamengo Luiz Augusto Veloso como representante no Brasil.
Concorrentes e aliados
O aquecimento do mercado brasileiro fortaleceu a presença de empresas que são, ao mesmo tempo, aliadas e concorrentes dos dirigentes. Grupos empresariais perceberam que poderiam lucrar com o futebol. E passaram a agir nos mesmos moldes de um clube: procurando, contratando e vendendo.
É o caso da Traffic. Antes especializada em marketing esportivo, ela criou, em 2005, o Desportivo Brasil, um clube-empresa que reúne os jovens atletas nos quais se interessa. Dali, eles são repassados a outros clubes. E isso rende lucro.
A descoberta e posterior negociação de jovens atletas foi, por anos, o melhor filão da Traffic. Mas o panorama mudou, e a empresa se viu obrigada a focar em duas outras frentes: a representação de jogadores e a intermediação em negociações. Como os clubes brasileiros passaram a girar mais dinheiro, os elencos ficaram mais exigentes, com contratações pesadas. Encaixar jogadores jovens nos clubes virou tarefa complicada. O jeito foi entrar na roda dos negócios mais caros mesmo.
conca china (Foto: Reproduo / Sina.com)Conca na China: negociações interessam aos
investidores   (Foto: Reprodução / Sina.com)
Mas a mão que afaga é a mesma que apedreja, parafraseando o poeta Augusto dos Anjos. Uma empresa não entra no mercado para rasgar dinheiro. Se a Traffic ajuda a colocar, por exemplo, Conca no Fluminense, vai querer vender o jogador quando pintar uma negociação boa. Foi o caso da proposta da China por ele. Se ela firma uma parceria como a que colocou Ronaldinho no Flamengo, vai querer ver perspectiva de futuro lucro. Uma confusão jurídica rompeu a relação entre a empresa e o Rubro-Negro sete meses depois da chegada do meia-atacante ao Rio de Janeiro.
É a lógica do mercado. E aí os interessem se confundem. A Traffic tem oito observadores que analisam jovens jogadores e concorrem com os clubes por eles. Estes mesmos clubes, tempos depois, podem precisar dela para ter determinado atleta. E fica ciente de que em seguida poderá perder este reforço, porque vê-lo estacionado por muito tempo em um mesmo local não costuma ser o mais interessante para o parceiro do clube. Não por acaso, o investimento em jogadores já rendeu cerca de R$ 180 milhões à Traffic.
Há outros casos. A Brazil Soccer, empresa do empresário Eduardo Uram, passou a coordenar o Tombense, clube mineiro que acaba de subir para a primeira divisão. O banco BMG age em duas frentes: ou como forte financiador de contratações, ou como patrocinador. E há ainda a DIS, braço esportivo do Grupo Sonda, que costuma ter pesada participação em jogadores de alguns dos principais clubes brasileiros - casos de Inter e Santos, especialmente. A saída turbulenta de Paulo Henrique Ganso da Vila Belmiro para o São Paulo teve a influência do grupo comandado por Delcir Sonda. Chegou um momento em que clube e empresa não se entenderam mais, e as mãos que antes afagaram passaram a trocar pedradas - e a oferecer até ameaças jurídicas.
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