Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, maio 31, 2010

João Carlos Bouzas, professor da UFV
Doutorado apresenta estudo em parceria com o Sportv sobre os CTs dos principais clubes do país
Bruno Camarão

Espaço de excelência do departamento de futebol do Atlético Mineiro, a Cidade do Galo é o melhor centro de treinamento entre os clubes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 2010. A avaliação compõe um ranking desenvolvido a partir de estudos científicos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), capitaneados por João Carlos Bouzas Marins e Próspero Brum Paoli.

O projeto foi uma iniciativa do Sportv, canal especializado em esportes do sistema Globosat, em parceria com o Curso de Especialização em Futebol da instituição de ensino mineira. Os pesquisadores elaboraram um caderno de apreciação, utilizando critérios objetivos para estabelecer as agremiações com as melhores estruturas de concentração, preparação e reabilitação.

“Foi elaborado um instrumento constando uma avaliação de mais de 400 itens que devem estar presentes em um CT. O total de pontuação possível a ser atingido corresponde a 4.274 pontos. Esses elementos foram divididos em quatro principais eixos temáticos com pesos diferentes”, explicou Bouzas, nesta entrevista concedida por e-mail à Universidade do Futebol.

Metade dos pontos está ligada a aspectos da infraestrutura, mesmo. Recursos humanos (20%), recursos materiais (20%) e operacionalização e logística (10%) selam o parâmetro de medida, a qual foi baseada em elementos referenciais bibliográficos existentes sobre instalações esportivas internacionais, experiência profissional dos avaliadores e uma série de normativas.

O Atlético Mineiro recebeu 3.538 pontos, seguido do Atlético-PR, com 3.509. A Cidade do Galo foi usada durante as Eliminatórias pela seleção brasileira, como concentração, antes do jogo com a Argentina. Já o CT do Caju, do clube paranaense, acolheu a delegação chefiada por Dunga antes da viagem à África do Sul, para a disputa da Copa do Mundo, nesta semana.

A Toca da Raposa II, do Cruzeiro, foi considerado o terceiro melhor CT, com 3.465 pontos, seguido de São Paulo e Santos, com 3.447 e 3.142, respectivamente. O lanterna no ranking foi o Grêmio Prudente, que recebeu apenas 395 pontos. Já o penúltimo colocado foi o Ceará, recém-egresso à Série A Nacional, com 1.705.

Diante de hipotéticas contestações em relação à colocação final dos clubes, Bouzas está amparado pela sua trajetória. Graduado em Licenciatura em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (1985), com mestrado na área pela mesma UFRJ (1993), possui também doutorado em Actividad Física y Salud - Universidad de Granada (2003) e em Bases Fisiológicas de La Nutrición - Universidad de Murcia (2000).

Atualmente é coordenador do Curso de Especialização em Futebol (www.ufv.br/des/futebol), editor chefe da Revista Brasileira de Futebol (www.rbfutebol.com.br) e diretor do Laboratório de Performance Humana – Dep. Ed. Física – UFV. Experiente, Bouzas possui ênfase em Nutrição Esportiva, atuando principalmente em performance humana, treinamento desportivo, avaliação física, hidratação e desidratação.

“É necessário buscar uma fórmula de equilíbrio, e para isto é fundamental ter um profissional responsável com conhecimento técnico, capacidade de gestão, relacionamento interpessoal e ética, de forma a propor uma filosofia de trabalho voltada para o sucesso”, acrescentou Bouzas, que esmiuçou a sua metodologia do trabalho, traçou uma comparação com estruturas europeias e falou sobre modelo de gestão.

Universidade do Futebol – Ao lado do professor Próspero Brum, você desenvolveu um trabalho pioneiro de avaliação dos Centros de Treinamentos dos clubes de futebol que estão na Série A do Campeonato Brasileiro em 2010. Como surgiu a ideia desse projeto?

João Carlos Bouzas – A proposta inicial foi feita por dois jornalistas do Sportv – Rafael Correa e Ligia Carriel – que mantiveram contato buscando uma avaliação imparcial feita por profissionais do meio acadêmico, sem envolvimento com o futebol profissional.

Os jornalistas justificaram a escolha de meu nome, tendo em vista o trabalho desenvolvido nos últimos anos como coordenador do curso de especialização em futebol da UFV, por ser o editor da Revista Brasileira de Futebol, da experiência profissional, principalmente na área de fisiologia e treinamento.

Outro fator que contribuiu foi a história de envolvimento acadêmico com o futebol por parte da UFV - desde os anos 1970, por intermédio do professor Adalberto Rigueira, autor de diversos livros didáticos sobre esta modalidade.

Universidade do Futebol – Um dos alvos do estudo é o de auxiliar os clubes no planejamento de investimento para o aprimoramento das estruturas. Você já recebeu o contato de algum dirigente para comentar sobre possíveis mudanças nesse sentido?

João Carlos Bouzas – Sim. Vários clubes da primeira divisão de São Paulo já mantiveram contato para prestar consultoria, visando auxiliar na elaboração de um planejamento de construção ou reforma de seus CTs, buscando, assim, um nível de excelência.



Universidade do Futebol – Qual foi a metodologia utilizada nesse levantamento científico, bem como os instrumentos de avaliação e a dinâmica da coleta de dados?

João Carlos Bouzas – Houve uma preocupação em tornar o processo de avaliação com critérios totalmente objetivos. Para tal, foi criado um instrumento considerando o que seria um CT com 100% de perfeição.

O total de pontuação possível a ser atingido corresponde a 4.274 pontos. Esses elementos foram divididos em quatro principais eixos temáticos com pesos diferentes, sendo eles:

• Infraestrutura física: 50%
• Recursos humanos: 20%
• Recursos materiais: 20%
• Operacionalização e logística: 10%

Os itens avaliados foram considerados tomando como base vários elementos, tais como:

• Referencial bibliográfico existente sobre instalações esportivas, com bibliografia consultada produzida na Espanha, EUA e Russa;
• Normativas da Comunidade Européia sobre instalações esportivas;
• Normativas Espanholas para instalações esportivas;
• Normativas da ANVISA sobre higiene de ambientes fechados;
• Experiência profissional dos avaliadores.

Após uma profunda análise documental, foi possível gerar o instrumento de avaliação proposto. Cabe destacar que esta ação é inédita no Brasil, longe de ser perfeita, porém importante pela preocupação metodológica seguida, além de abrir a discussão para um aprimoramento do instrumento.

Dinâmica de coleta de dados

Os dados foram coletados pelos dois jornalistas do SporTV, Rafael Correa e Ligia Carriel, que após um período de treinamento e familiarização quanto ao uso do instrumento, percorreram mais de 20.000 km visitando pessoalmente cada CT.

Com um agendamento prévio, cada clube disponibilizou um funcionário específico para assessorar os profissionais, facilitando a visita ampla e irrestrita das instalações, bem como o contato com profissionais que ali trabalham. Esta fase correspondeu a 75 dias de viagens pelo Brasil. Cabe destacar que em alguns casos a receptiva dos clubes foi feita pelo próprio presidente.

Principais pontos analisados

• Infraestrutura física:

Representa um elemento fundamental do CT. Para sua construção, é necessário um investimento de milhões de reais, com planejamento de investimento em longo prazo. Sua composição deve estar atrelada não somente às normativas da construção civil, como também de sua funcionalidade para uma equipe de futebol, sendo este um grande desafio, tendo em vista que isto não está documentado.

A infraestrutura física foi o principal ponto de análise correspondendo a 50% da pontuação total. Os sub-tópicos analisados corresponderam à estrutura de treinamento principal, auxiliar, atendimento clínico, setor de apoio, área administrativa e, por último, área de lazer.

• Recursos materiais:

Os recursos materiais disponíveis no centro devem dar perfeitas condições de treino técnico, físico e tático para os atletas, assim como de avaliação, controle de treino, atendimento médico, fisioterápico e nutricional. Outro aspecto representa as ações de funcionalidade do CT, como, por exemplo, equipamentos de segurança também foram considerados.

Este item teve uma importância estimada de 20% na pontuação total. Os pontos considerados para avaliação dos recursos materiais foram relativos ao treinamento principal e auxiliar, atendimento clínico, setor de apoio, área administrativa e, por último, área de lazer. Foi observado não somente a presença destes recursos, como também sua condição de uso.

• Recursos humanos

Os RH são fundamentais para que o CT possa funcionar adequadamente. São dezenas de pessoas envolvidas neste trabalho, em que o técnico da equipe é a figura mais aparente. Contudo, existe um grupo de pessoas que trabalham diariamente e fazem um CT funcionar de maneira adequada, como, por exemplo, o agrônomo responsável pela qualidade da grama, ou o podólogo que cuida da saúde dos pés dos jogadores.

O grau de importância considerado neste item foi de 20% na pontuação total. Foram considerados seis grupos de pessoal envolvido em um CT, que correspondem à comissão técnica, avaliada quanto à sua titulação acadêmica e desempenho profissional com base nos títulos já obtidos; o corpo administrativo; o corpo clínico, avaliado quanto titulação acadêmica, bem como anos de experiência no futebol; corpo de apoio com titulação de ensino superior e técnico; por fim, corpo de apoio administrativo.

• Operacionalização e logística

Para avaliação total, foi creditado um total de 10% neste ponto de avaliação. Foram considerados oito elementos na avaliação, em que cada um deles possuía vários sub-elementos a serem observados. Um exemplo foi a questão de acesso ao CT, distância entre o CT e o estádio de jogo e aeroporto.

Universidade do Futebol – E em relação à estrutura dos locais de trabalho, quais foram os principais pontos analisados?

João Carlos Bouzas – O CT não pode ser avaliado somente por sua infraestrutura física, que é importante, sem dúvidas, porém outros fatores devem ser considerados, como os recursos humanos, recursos materiais, além da operacionalização e logística.

Assim, deve haver um planejamento amplo e um equilíbrio entre estes quatro eixos centrais de avaliação.

Universidade do Futebol – Como você vê o trabalho voltado à base e ao projeto social nas outras agremiações brasileiras? É possível se traçar um paralelo com o que ocorre nas principais forças européias, e quais são as particularidades?

João Carlos Bouzas – Quanto à questão da base, seria necessário fazer adaptações do instrumento elaborado, pois existem certas características específicas que devem ser atendidas.

Hoje, o Ministério Público tem prestado atenção em denúncias de exploração de menores que estão ocorrendo, havendo, assim, a necessidade de atender rigorosamente às leis sobre menores e adolescentes.

Particularmente, já estive na “Ciudad Deportiva Real Madrid”. É um CT realmente em condições de treinamento excepcional, contudo os centros dos quatro primeiros colocados, Atlético Mineiro e Atlético-PR, Cruzeiro e o São Paulo, possuem uma estrutura que beira a perfeição, sem dever nada ao do Real Madrid.

Universidade do Futebol – Em termos de pontuação, o estudo desenvolvido não se refere ao processo de capacitação, integração e aos aspectos multidisciplinares entre os variados profissionais ligados aos clubes. É possível mensurar essa importância? Qual a sua opinião sobre o tema?

João Carlos Bouzas – Quanto à primeira pergunta, não foi um foco da avaliação, e pode ser um ponto a ser considerado nas próximas avaliações. Eu considero muito importante haver um processo de acompanhamento da vida atlética de um jogador. Na Europa, foi criado o passaporte biológico, que é algo parecido com isto.

Em minha opinião, a CBF deveria ter um sistema integrado padronizado, no qual os clubes registrariam tudo o que ocorreu na vida esportiva do atleta, como suas avaliações físicas, histórico lesional, intervenção fisioterápica, médica nutricional, entre outros.

Assim, quando um jogador fosse negociado para outro clube, deveria apresentar este histórico ou “passaporte”, o que facilitaria bastante a vida de todos elementos integrantes da comissão técnica, sendo possível fazer um profundo diagnóstico da vida do atleta em curto espaço de tempo.

Universidade do Futebol – Muitos clubes comentam que a parte social representa um déficit nas contas mensais. Desta forma, uma parte das receitas do futebol é deslocada pra cobrir esse prejuízo. Dentro da realidade estrutural dos clubes brasileiros, como essa situação poderia ser mudada? Em um próximo estudo, seria interessante incluir este índice na mensuração?

João Carlos Bouzas – Eu vejo esta questão de prejuízo como um problema de falta de organização e planejamento. O Internacional e o Cruzeiro, por exemplo, possuem excelentes estruturas de base e fazem delas uma “fábrica” de jogadores para serem comercializados, às vezes antes mesmo de chegarem ao profissional.

O caso particular do Cruzeiro é muito interessante, pois trabalha com esta perspectiva desde os anos 1990. Isto faz com que os frutos deste trabalho de base possam gerar recursos para sustentar toda a estrutura.

Não é uma tarefa fácil, pois exige uma grande seriedade, organização e planejamento em longo prazo, algo que nem sempre é possível. Uma estabilidade política no clube auxiliaria muito este trabalho de longevidade, sem dúvidas.

Universidade do Futebol Em sua opinião qual a importância de um estudo como esse para o desenvolvimento e profissionalização dos clubes brasileiros?

João Carlos Bouzas – A importância é auxiliar os clubes em seu planejamento de investimento para comporem ou aprimorarem suas estruturas de CTs, visando, assim, melhorar a qualidade do desempenho do jogador.

Universidade do Futebol – Qual será a periodicidade deste estudo? Novas métricas serão acrescentadas no próximo levantamento?

João Carlos Bouzas – O Sportv foi quem financiou o estudo. Nós, aqui na Universidade Federal de Viçosa, não temos recursos financeiros para visitar os 20 clubes. Acredito que pelo sucesso da matéria haja um interesse de uma atualização em períodos regulares de no máximo dois anos.

Contudo, o Clube dos Treze ou a CBF também poderiam participar do projeto junto à UFV. Isso seria extremamente interessante para os clubes, pois significaria um planejamento financeiro de forma aguda sem desperdícios de recursos, tanto para a construção de novas instalações, como de reforma.

Universidade do Futebol – No livro "Código do Talento", o autor Daniel Coyle debate sobre ambientes (infraestruturas) simples que produziram grandes talentos (no esporte, na música, na ciência, etc.) graças a três elementos fundamentais - a dose adequada de prática, motivação e orientação. Em sua opinião, a infraestrutura é mais importante do que o método no desenvolvimento de atletas?

João Carlos Bouzas – A infraestutura física tem um peso importante, mas ela sozinha não resolve. As pessoas que trabalham no CT, desde o funcionário da limpeza até o técnico, possuem uma responsabilidade no processo de educação, conscientização e formação do jovem jogador.

É necessário buscar uma fórmula de equilíbrio, e para isto é fundamental ter um profissional responsável com conhecimento técnico, capacidade de gestão, relacionamento interpessoal e ética, de forma a propor uma filosofia de trabalho voltada para o sucesso.

Universidade do Futebol – Qual é a relevância da área acadêmica para o diálogo e para a melhoria da atuação da comissão técnica e das demais áreas em um clube de futebol?

João Carlos Bouzas – Hoje, a área acadêmica possui muitos profissionais extremamente capacitados para prestar assessoria ao mundo do futebol. Contamos com diversos cursos de especialização, mestrado e doutorado existentes no Brasil, os quais realizam pesquisas dando suporte ao desenvolvimento da modalidade. Contudo, eu não vejo o universo do futebol profissional tendo a mesma relação frente ao meio acadêmico, olhando geralmente para os pesquisadores com certa desconfiança.

O Brasil é um país de excelência no futebol na questão física, técnica, médica, fisioterápica e nutricional. Há muitos profissionais que fazem trabalhos brilhantes, como o caso dos professores Turíbio [Leite] no São Paulo, Emerson Silame no Cruzeiro e Paulo Figueiredo no Flamengo - são exemplos de profissionais relacionados ao meio acadêmico, mas que também trabalham no dia-a-dia do futebol. Este modelo pode ser perfeitamente reproduzido em outros clubes.

Tendo em vista que se trata de um mundo extremamente complexo, acredito que o futebol brasileiro poderia ainda evoluir muito na questão gerencial. Neste aspecto, tanto o conhecimento do mundo acadêmico, como do mundo empresarial, podem ainda colaborar e muito com a realidade esportiva.


Confira a classificação final:

1 – Atlético Mineiro – 3.538
2 – Atlético Paranaense – 3.509
3 – Cruzeiro – 3.465
4 – São Paulo – 3.447
5 – Santos – 3.142
6 – Palmeiras – 3.107
7 – Internacional – 3.032
8 – Goiás – 2.993
9 – Grêmio – 2.964
10 – Botafogo – 2.814
11 – Flamengo – 2.690
12 – Vasco – 2.650
13 – Corinthians – 2.439
14 – Fluminense – 2.297
15 – Avaí – 2.255
16 – Guarani – 2.252
17 – Atlético Goianiense – 2.156
18 – Vitória – 1.943
19 – Ceará – 1.705
20 – Grêmio Prudente - 395

Zico aceita cargo de diretor de futebol do Flamengo
Ex-jogador já fala em transformação na Gávea
Equipe Universidade do Futebol

Neste fim de semana, a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, concretizou as negociações com o maior ídolo da história do clube, Zico. O Galinho, como também é chamado, ocupará a vaga de diretor executivo do departamento de futebol, cargo livre desde a saída de Marcos Braz, em abril deste ano.

Até o momento, as ocupações estavam divididas entre Michel Levy, vice de finanças, e Walter Oaquim, colaborador do departamento de futebol, comandado por Hélio Ferraz, vice-presidente geral. Durante este período, o clube apresentava dificuldades nas negociações por reforços e também pela manutenção do elenco. Com a chegada de Zico este quadro deverá mudar.

"O Zico terá a missão de organizar toda a estrutura, desde a base até o profissional. Uma das coisas mais importantes que ele fará é captar recursos para a conclusão da reforma do nosso CT Ninho do Urubu. Ele estudará jogadores, treinadores e fará um papel de executivo para melhorar o departamento profissional do Flamengo", explicou Patrícia Amorim, em entrevista à Rádio Globo.

O ex-jogador, que deixou o clube em 1989, teve passagens como treinador na seleção japonesa, Fenerbahçe, Bunyodkor, CSKA Moscou e Olympiacos, mas estava desempregado desde janeiro. Neste domingo, Zico esteve reunido com a mandatária do Flamengo por três horas, até determinar as diretrizes de sua nova função.

“Essa é a minha área. Será um grande desafio. Mas conversei muito com a Patrícia Amorim e falamos sobre a transformação que precisamos fazer no clube. Quero dar a minha contribuição ao Flamengo”, afirmou.

O salário do novo diretor-executivo de futebol será pago pelos patrocinadores do clube Olympikus e BMG. A apresentação oficial ocorrerá na manhã desta terça feira às 11h.

“Literatura e Futebol”
A partir de 74, houve um rebaixamento na qualidade do futebol produzido pela indústria mundial da bola
Antônio Máximo de Medeiros da Rocha

Quase ninguém merece panegírico. No Brasil, vivo, Oscar Niemeyer; morto, Barbosa Lima Sobrinho, e é certo: Prestes, pela pureza, pela capacidade de trocar as vantagens pessoais, tanto que trocou o Brasil, que lhe veio de bandeja, em 30, pela fidelidade às convicções pessoais. Isso não é pouco: quantos de nós não nos mantemos puros apenas por falta de oportunidade?

Mas, no espaço em que é possível para um homem do povo, o nível correto de urbanidade deve sempre ser sacrificado em favor do senso de humor - este sim, irresistível.

Ligo a televisão, pulo para os canais institucionais, Senado, Câmara, Alerj, na esperança de um conduto para a demanda social do "movimento dos sem mídia".

Encontro um convênio entre a TV Alerj e a Academia Brasileira de letras. A ABL e a bola, ou "Literatura e Futebol".

Nunca soube que Marcos Villaça, presidente da ABL, tivesse qualquer ligação com o futebol, a não ser pela chefia da delegação da CBF na Copa América da Venezuela.

A conexão lexical entre a espontaneidade popular e a disciplina acadêmica, levantada pelo presidente da Academia, teria sido um lugar mais conveniente, um espaço mais confortável a um titular da Casa que, para mim, tem tanto significado, captura a síntese nacional a um ponto, até o ponto de um dia a ela vir me candidatar com um argumento mais do que razoável: "depois de um operário na Presidência da República, um camelô-desenhista para a ABL".

O frango, que o acadêmico Marcus Villaça esqueceu-se de citar, é certamente muito mais saboroso e revelaria muito de sua intimidade com o futebol do que a lista de expressões da bola que enumerou. Preferi-lo-ia à entronização de João Havelange como um dos maiores brasileiros do século passado. Por quê? Apenas pelo poder de negociar com um ramo da cultura popular, que progressivamente vem perdendo sua função esportiva e cada vez transformando-se mais numa modalidade da indústria cultural?

E aqui me desculpe a pretensão:

"Não passando de negócio, basta como ideologia."

A frase tem pedrigree, poderia estar presente à mesa, ao lado de Villaça, de Havelange, de Ricardo Teixeira. Foi dita por Adorno, da Escola de Frankfurt. Indústria cultural, segundo adorno, significa a padronização dos bens culturais e implica economia de escala e mercado ampliado, internacionalizada, unívoco. A conexão óbvia com o futebol impõe-se: como padronizar características tão distintas?

É certo que a habilidade do brasileiro teria de sucumbir ao pragmatismo do europeu. A consequência não é nem a mediocridade, porque, neste caso, a média, se exige o rebaixamento da habilidade brasileira, também exige, como contrapartida, a elevação do nível da habilidade do europeu - o que tem se provado difícil. O que houve, sobretudo pela contribuição de João Havelange, a partir de 74, foi um rebaixamento na qualidade do futebol produzido pela indústria mundial da bola.

Avanço sobre a hipótese de que a "Era Dunga", expressão desse futebol como bem de indústria cultural em substituição progressiva de um ramo da cultura popular, representa um futebol de resultado, um futebol de mercado, que exige maior segurança e é mais favorável à manutenção do ranking, a fim de que se mantenha limpo o fluxo dos contratos que a CBF estabelece.

Critérios de mercado, aplicados ao que se chama hoje, pernosticamente, de "mundo corporativo", têm sido usados por Dunga. Não é preciso nem recorrer ao futebol profissional. Basta que qualquer um se lembre de suas peladas de infância. As minhas, na Senador Soares,ou no futebol de salão no Maxwell, aqui em Vila Isabel ("Gigante", Zé Ricardo, Flávio, Antônio Máximo e Joãozinho. Com exceção do primeiro, cujo apelido se deve ao fato de, aos 12, 13 anos já ser muito alto, o resto não passa de um bando de desconhecidos. "Gigante era o apelido do Zé Carlos, nosso vizinho, goleiro do Flamengo, tetracampeão em 87, reserva do Taffarel na copa de 90, e que, infelizmente, morreu de câncer, no ano passado, na Beneficência Portuguesa, ali na subida do Alto). Éramos mais ou menos uns 20. Quantos desses garotos eram, de fato, "uma verdadeira família"? O que nos reunia e socializava era o gosto comum pela bola.

Aquele time do Flamengo de 81, campeão de tudo, vivia tendo problemas com o Tita, que queria, porque queria, o lugar do Zico. Eu me lembro bem da expressão "jogar pra arquibancada". Quando o Zico não jogava ( o que era raro), Tita aproveitava pra "arrebentar", "jogar pra arquibancada" cheia do lado esquerdo da tribuna de honra.

Outro caso notório foi o Toyota que o Nunes ganhou pelos gols na final em Tóquio e resolveu não cumprir o que o elenco havia combinado: receber o equivalente em dólares e ratear entre todos. Cismou de trazê-lo para o Brasil. Pagou o diabo, numa época em que a importação era praticamente inviável.

O que eu quero dizer é que esse papo de "grupo fechado", monolítico, só existe como uma adaptação ao futebol de critérios empresariais em que não se pode correr o menor risco, sob pena de prejuízos significativos. A indústria da bola é o futebol como negócio. À função esportiva, o prazer dos títulos, o gesto lúdico com a bola, inconsequente, até mesmo irresponsável (como era o caso do Uri Geller, ponta esquerda do Flamengo, no final dos anos 70 e que esquecia-se do jogo e discutia com o torcedor da geral), impõe-se uma estrutura de produção de jogadores, voltada para atender o mercado externo.

Na verdade, retomamos no futebol a condição de Brasil - Colônia.

Eis aí um bom tema, para o próximo seminário da ABL:

"Havelange e o futebol de exportação."

Sem psicólogo, Dunga diz comandar jogadores com sua filosofia
Treinador valoriza vontade de estar na seleção, de ajudar a equipe e de brigar por ela
Equipe Universidade do Futebol

Desde que entrou no comando da seleção Carlos Caetano Bledorn Verri, popularmente conhecido como Dunga, valoriza o comprometimento dos jogadores com a equipe nacional. Em 2006, foi justamente este ponto que virou foco de críticas após a derrota para a França e o fim do sonho de conquistar o Hexa naquele ano.

Ao que tudo indica, os jogadores absorveram bem o estilo patriota do treinador. Em todas entrevistas concedidas pelos jogadores durante o período de concentração no CT do Caju, em Curitiba, os atletas exaltaram o orgulho de vestir a “amarelinha”.

“Tenho certeza que estar na seleção já é uma motivação muito grande, ninguém aqui pensa diferente”, enalteceu Gilberto Silva.

Até os jogadores reservas mantiveram o discurso. Mesmo sem ter participar dos jogos com a mesma freqüência dos titulares, os jogadores transpareceram a alegria de compor o grupo.

“Trabalhei muito para ganhar essa confiança e vou trabalhar para ajudar”, diz Kleberson. O lateral direito Daniel Alves concordou. “O mais importante é estar aqui, fazendo parte desse grupo. Não importa onde eu jogue”.

Para explicar a ausência de um profissional especializado no acompanhamento psicológico de jogadores, Dunga disse trabalhar este fator nas atividades cotidianas da seleção. Para o comandante, os atletas já têm uma estrutura neste quesito.

“Trabalhamos com pessoas maduras, que sofreram a vida toda. Não será meia hora de conversa com um psicólogo que vai mudar a cabeça de alguém. É muito mais fácil fazer isso no dia a dia, adquirindo a confiança dos jogadores e mostrando que eles chegaram por méritos próprios. Isso, sim, funciona: mostrar algo positivo”, revelou.


Jogos da Copa serão transmitidos via web apenas pela Globo
Empresa não revenderá os direitos como fez para televisão
Equipe Universidade do Futebol

Os direitos de transmissão via internet da Copa do Mundo da África, que começa em 14 dias, serão de monopólio da Rede Globo. Diferente do que fez com a difusão de imagens do mundial pela TV, em que revendeu os direitos para ESPN Brasil e Bandeirantes, pela internet a empresa preferiu exercer exclusividade na transmissão.

Em 2006, durante a Copa da Alemanha, a medida foi a mesma. Contudo, este ano o internauta poderá acessar o conteúdo mesmo que não seja assinante do portal globo.com. O serviço, que deverá ampliar o número de acessos ao site, contará com todas as partidas do torneio, além dos melhores momentos.

A Globo também será responsável pela transmissão das partidas em 3D. Em parceria com o Cinemark, estarão disponíveis 25 salas de cinema da rede, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador e Porto Alegre.

“Profissionalização já!”

Consultor e professor de marketing esportivo, João Henrique Areias acusa o amadorismo pelo atraso no desenvolvimento do esporte brasileiro, mas aponta o caminho: “Talento nós temos de sobra”

texto DADDY MALLAGOLI

João Henrique Areias

foto: divulgação

João Henrique Areias é um homem ocupado. Superintendente de negócios do Avaí F.C. em Florianópolis, SC, conhece os caminhos dos investimentos em campeonatos, clubes, confederações e atletas como poucos – é considerado um precursor. Iniciou sua carreira no marketing esportivo em 1987, dirigindo o Clube dos 13, e na mesma época tornou-se vice-presidente de marketing do Flamengo. Desenvolveu inúmeros projetos de patrocínio, multiplicou vendas de ingressos para partidas, assessorou todos os jogadores da seleção tetracampeã em contratos de imagem. Em 1991, tornou-se sócio de Pelé na Pelé Sports e Marketing, parceria que duraria dois anos, e por sete atuou no exterior.

O também consultor e professor de gestão e marketing esportivo tem faro para os negócios na área, reconhece o potencial do Brasil, mas não esconde o desapontamento com a falta de profissionalização: “É necessário rever o modelo de gestão, baseado em dirigentes amadores”, defende.

Uma Bela Jogada – 20 Anos de Marketing Esportivo de João Henrique Areias

Autor do livro Uma Bela Jogada – 20 Anos de Marketing Esportivo, da Outras Letras Editora, conversou com a Revista Competir sobre Copa e Olimpíadas, desafios e estratégias, mercados norte-americano e europeu comparados ao brasileiro. Muito concorrido e correndo contra o tempo, João Henrique mostrou mais uma habilidade para conceder esta entrevista: a de driblar a própria agenda.

foto: divulgação

Revista Competir - Como você explicaria o fato de atletas passarem por grandes crises ou escândalos (como os casos do Ronaldo, do Corinthians e do Adriano, do Flamengo) e, ainda assim, conseguirem se reerguer, fechar grandes contratos e manter o respeito da mídia e de torcedores?
João Henrique Areias - Esta é uma pergunta para um sociólogo, mas vamos lá. Estes atletas são ídolos e alguns viram mitos; assim é que são vistos pelos torcedores. Como heróis, lhes é permitido alguns abusos às regras e padrões da sociedade. Existem empresas que, em alguns casos, preferem usar e associar a imagem de seus produtos a figuras contraditórias ou contestadoras. Quando erram, estes ídolos e mitos são perdoados, como se em determinados momentos lhes fossem dada a condição de seres humanos e, portanto, falíveis.

Competir - Poderia contar um pouco das estratégias de marketing traçadas por você no Clube dos 13?
JHA - Naquela época, praticamente não existia o marketing esportivo. A Copa União 87, organizada pelo Clube dos 13, com 16 clubes, foi o primeiro evento esportivo de porte, financiado exclusivamente pela iniciativa privada. Os clubes não queriam a transmissão de seus jogos pela TV. Como tínhamos de levantar recursos na ordem de 1 milhão de dólares para cobrir despesas de viagens e estadias dos clubes, elaborei um projeto em que a chave era a TV. Uma das estratégias para convencer os clubes era utilizar exemplos bem sucedidos no Brasil e no mundo. Aqui, a Xuxa, que na época já era a Rainha dos Baixinhos na TV Globo, foi o case de sucesso usado, assim como o esporte nos Estados Unidos, cuja parceria com a TV garantia estádios cheios e recursos da iniciativa privada na forma de patrocínios, licenciamento etc. Tudo graças à amplificação da visibilidade que saía de 20 mil pessoas, em média, no estádio para 20 milhões de telespectadores.

Competir - Como recuperar esse índice de 20 mil pessoas em um estádio, por partida, ou pelo menos, chegar perto dele? O que falta nos estádios, ou o que afasta as pessoas?
JHA - Essa média realmente nunca foi superada. É essencial ter um bom campeonato, o que agora temos, com 20 equipes, sendo 12 com chances de conquistar o título. O regulamento tem de ser de fácil entendimento pelo torcedor e os pontos corridos facilitam isso. Falta melhorar a experiência de ir ao estádio – que vai de coisas básicas, como facilitar a compra de ingressos, até a segurança e o conforto do torcedor.

Competir - Muitas vezes, o marketing no esporte é visto como algo supérfluo, utilizado por alguns para fazer dinheiro, algo pejorativo até. Por quê? Que atitudes o profissional ou a empresa interessada em se envolver com o esporte deve tomar para evitar esse tipo de imagem?
JHA - Às vezes, chamo o marketing esportivo de “marketing de emoção”. É um momento especial para o torcedor-consumidor, desprovido de barreiras de comunicação. Basta olhar as empresas que patrocinam os eventos esportivos, times e atletas para sentir o retorno de investimento que o esporte oferece. Do lado do produtor do esporte (times, federações etc) deve haver o compromisso com o torcedor, o praticante do esporte. Em seguida, é preciso embalar o evento ou a modalidade, de forma que permita às empresas atingirem aquele público de forma simpática e efetiva, que melhore ou reforce sua imagem ou aumente a venda de produtos.

Competir - Em 1995, você atuou no marketing da Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB), esporte hoje afastado da mídia e, aparentemente, da preferência popular. Outros esportes sofrem para emplacar no Brasil, o país do futebol? Que estratégias clubes e confederações poderiam tomar para fazer crescer e aparecer atividades não tão divulgadas e procuradas hoje?
JHA - O problema da CBB e de outras entidades esportivas é o mesmo: modelo de gestão ultrapassado. Enquanto não houver a profissionalização dos dirigentes, será difícil cobrar resultados e transparência. Somente a CBV - Confederação Brasileira de Vôlei - parece estar preparada seis anos antes dos jogos olímpicos no Brasil.

Competir - Quais as principais diferenças entre trabalhar com marketing esportivo no Brasil e no exterior – no caso, Estados Unidos e Espanha, onde você já atuou?
JHA - Os Estados Unidos, onde atuei de 1992 a 1994, estão anos na nossa frente. O esporte lá é visto e administrado como negócio. Isto não quer dizer que não exista o lado lúdico, a emoção. Com mais recursos financeiros, é possível ter os melhores atletas, melhores arenas. Já na Europa, os ingleses saíram na frente. A Premier League (campeonato inglês de futebol) é o evento com maior quantidade de recursos financeiros do mundo. Mas é na Espanha, onde vivi de 1999 a 2003, que tive a oportunidade de acompanhar de perto a transformação do Real Madrid em um modelo de gestão exemplar, que o transformou numa máquina de faturar (é o primeiro do mundo nos últimos cinco anos).

Competir - Quais caminhos o Brasil precisa trilhar para se tornar um exemplo no marketing esportivo?
JHA - Os Estados Unidos são os que melhor exploram o marketing esportivo disparadamente no mundo ocidental. Depois vem a Europa, onde são mais organizados do que marqueteiros. O Brasil está no caminho, tem um mercado publicitário forte, já passa a candidato para se tornar uma potência mundial, mas é necessário rever o modelo de gestão, baseado em dirigentes amadores. “Profissionalização já!” deveria ser nosso slogan, pelo menos para o esporte de alto rendimento.

Competir - De todos os projetos que já assessorou, qual classificaria como o mais difícil de negociar ou administrar e por quê?
JHA - O basquete. Em 1995, o ele não estava entre os dez esportes mais populares do País. Com a vinda do Oscar, o apoio da Hortência e um projeto inédito, conseguimos atrair a atenção do SporTV, Reebok, Molten, Unysis e Editora Panini. Em 1996, tivemos o melhor campeonato brasileiro de basquete da história do esporte no Brasil, com 2 mil pessoas em média por partida, contra 500 do ano anterior, e alcançamos o segundo lugar na preferência do público pelos índices de audiência do SporTV, perdendo apenas para o futebol e ocupando o lugar do vôlei, que então pulou para o terceiro lugar. Iniciamos uma nova forma de empacotar as propriedades do evento para patrocinadores, unindo os espaços publicitários da quadra aos de vídeo. Anos mais tarde, o futebol veio a adotar a mesma prática.

Competir - O Brasil conseguirá se preparar para receber a Copa? E as Olimpíadas? Como você acha que o custo Brasil pode interferir, sobretudo na captação de investimentos?
JHA - Acho que não estamos preparados para captar os recursos da iniciativa privada, principalmente pela falta de profissionalismo. O Rio de Janeiro vai sediar os jogos olímpicos de 2016 e, basta dar uma olhada, para vermos a quantidade de atletas com potencial olímpico no Estado. As federações esportivas não têm recursos, portanto não existem competições esportivas de bom nível que atraia a atenção do público, da mídia e, consequentemente, dos patrocinadores. Para agravar, não temos centros de excelência que recrutem, selecionem e formem atletas das diversas modalidades. Na Copa do Mundo de 2014, teremos estádios novos, reformados a alto custo, com pouca probabilidade de pleno aproveitamento depois que o evento terminar. Basta ver o exemplo do Estádio João Havelange, o “Engenhão”, que custou mais de 300 milhões de reais e apresenta uma série de problemas que dificultam sua viabilidade.

Competir - O Brasil, com as políticas atuais, se tornará uma potência olímpica?
JHA - Tenho a esperança de que a competência de [Carlos Arthur] Nuzsman e de seus colaboradores revertam as expectativas, que não são animadoras. Terão um grande desafio pela frente, mas podem alcançar este objetivo com muito planejamento e foco nos resultados. Talentos nós temos de sobra.

Competir - Qual a importância de criar marcas no esporte?
JHA - Olimpíadas e Copa do Mundo são dois exemplos de marcas poderosas, que estão entre as mais valiosas do mundo. São capazes de impulsionar outras marcas importantes, que querem estar nestes eventos, e proporcionam uma plataforma de comunicação que nenhum outro veículo oferece. As empresas têm publicidade garantida pela mídia espontânea e transmissão das partidas, mas também servem como ferramenta de relações públicas, eventos, promoções e endomarketing, como nenhum outro evento ou veículo de comunicação pode oferecer.

Competir – O quanto a falta de profissionalização, sobretudo nos clubes, atrapalha?
JHA - Diria que é o fator crítico de sucesso para o fortalecimento do esporte brasileiro. O governo teve uma chance única de exigir aos clubes de futebol devedores de impostos que se profissionalizassem, para obter benefícios que os ajudassem a pagar estas dívidas. Mas preferiu a Timemania, que não vingou até o momento.

Competir - Ricardo Teixeira (Confederação Brasileira de Futebol) e Carlos Arthur Nusman (Comitê Olímpico Brasileiro) estão eternizados no poder. Quão prejudicial é ao esporte no brasileiro as federações terem dirigentes jurássicos?
JHA - São modelos históricos, que criaram grandes marcas como as dos clubes de futebol e das próprias confederações. Mas perderam o timing ao não acompanharem as mudanças que o mercado exigia, desde o tratamento ao torcedor, até as reações com TV e anunciantes. O resultado aí está. No futebol, clubes endividados e, nos esportes olímpicos, entidades que dependem do governo e de suas empresas públicas para sobreviver.

Competir - Investigações e rastreamentos nessa área geralmente empacam. A CPI do Esporte não foi pra frente, e o livro do Silvio Torres sobre a CPI da bola foi censurado. Quem tem o interesse de coagir essas iniciativas?
JHA - O esporte, historicamente em alguns países, foi usado como instrumento político. No Brasil não foi diferente. Na época da ditadura, havia um slogan – “Onde a Arena [partido do governo militar] vai mal, mais um clube no nacional”. Também construíram vários estádios pelo Brasil afora que se tornaram verdadeiros elefantes públicos. Hoje ainda temos resquícios desta simbiose “Estado – esporte de alto rendimento” pelos rendimentos políticos que podem proporcionar.

Competir - O que você acha de ex-jogadores que se tornam políticos?
JHA - Se a intenção for boa, pode ser positivo. Como em qualquer outro setor, o esporte precisa de representantes para defender seus interesses e as mudanças necessárias para seu desenvolvimento.

Competir - É um erro estratégico termos craques saindo cedo do País?
JHA - Sem dúvida. Exportamos material-prima, ao invés do espetáculo. Somos agrários no futebol e em outros esportes.

Competir - Os grandes campeonatos do mundo compram os nossos craques. Não poderia ser diferente, ou seja, nós comprarmos os craques dos outros países para jogarem aqui? O Brasil não pode concorrer com os principais campeonatos do mundo pelos craques? JHA – Sim, o Brasil é uma das maiores economias do mundo, e temos um mercado publicitário capaz de carrear recursos dos anunciantes para o esporte. Pela falta de credibilidade e profissionalismo, isso acaba não ocorrendo, tornando a exportação dos diamantes não lapidados uma necessidade para os clubes.

Competir - Quais os desafios que você encontra no Avaí? Qual a estrutura do clube? Por que você resolveu assumir um projeto no clube? O esporte de Santa Catarina tende a crescer e ter destaque no País?

JHA - O Avaí pode se tornar um modelo de gestão esportiva. Em 2009, apesar de ter um dos quatro menores orçamentos do Campeonato Brasileiro (20 milhões de reais, contra 120 milhões do campeão Flamengo), chegou em 6º lugar. Isso ocorreu graças à visão de um empresário de sucesso de Santa Catarina, o Dr. João Nilson Zunino, que vem implementando modelos de planejamento estratégico e profissionalização do clube. Foi o que me atraiu à bela Florianópolis.