Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, maio 31, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº152


Estudo de forma multidisciplinar; ajo de modo interdisciplinar e penso pela ótica transdisciplinar." (Benê Lima)

Opinião
SOBRAM QUEIXUMES, FALTAM INICIATIVAS


O futebol cearense está onde merece: pelo provincianismo de nossos meios de comunicação, pelo arcaísmo dos nossos dirigentes e pelo grau de alienação de parte de nossa população.

Chega de fazer média, a pretexto de sermos corteses com quem não merece cortesia. Basta de silenciarmos ante os arroubos de arrogância e vaidade de pessoas que ruminam o prato feito de idéias preconcebidas e retrógradas. Afinal, é tempo de pararmos de dar ouvidos a quem com nada contribuiu para o crescimento do nosso futebol.

Constitui mentira monumental a propagação de que temos torcida de primeira divisão. Partindo-se da premissa de que a qualidade do público também é fator preponderante, fica o questionamento que se segue. Se não temos nem dirigentes nem crônica esportiva nem times de primeira, como podemos ter torcida de primeira divisão? Como podemos encarar nosso torcedor como exceção, se a regra é mediocridade? Ou não somos todos a tecedura de um composto social corrompido e dilacerado?

Precisamos prementemente refundar os valores que orientam a administração do nosso futebol, seja no amador seja no profissional, seja no nível da prática seja no da concepção, sob pena de, em não o fazendo, estarmos condenando nosso futebol a uma morte lenta e gradual.

À falta de ética em nosso meio futebolístico já foram dadas um sem número de oportunidades, e isso se tem revelado como o mais rotundo fracasso. Por que, então, não darmos chance à cooperação da ética, em vez de permanecermos no atoleiro dos contra-valores?

Façamos todos, pois, uma mobilização de força intelectual, moral e espiritual, a fim de reformatarmos o produto futebol. Porém, sem que descuidemos de a ele agregarmos valores autênticos, axiomáticos, de comprovada eficácia. A razão básica para tal atitude está em darmos escopo de credibilidade ao produto, cuidando não só de sua tangibilidade, bem como de seu aspecto intangível.

O cliente do futebol precisa sentir não só o vislumbre, mas a garantia do respeito, a certeza de sua valorização, e atitudes representativas de seu acolhimento, tanto por parte do seu clube do coração, quanto da parte dos promotores do evento. E, vale lembrar, tudo isso dentro de uma relação que é, essencialmente, emocional. Daí ser bem mais fácil para um clube de futebol construir com seu simpatizante uma relação de fidelidade. Pena que nossos dirigentes não saibam trabalhar com esta vantagem mercadológica.

Pelo que se pode ver, para atrair o cliente do futebol não basta a mera discussão do patamar de preços de ingressos. Hoje, diria, que até a gratuidade do acesso às praças esportivas não representaria atrativo suficiente, no sentido de alterar significativamente os números da participação do torcedor.

O produto futebol cearense necessita incorporar os valores básicos inerentes a todo bom produto do gênero. Enquanto tais providências não forem atendidas, permaneceremos nesse estado de perplexidade diante de estádios praticamente vazios.

Portanto, compreendermos as causas do ‘fenômeno anoréxico’ do qual está acometido nosso pobre futebol cearense, coloca-nos mais próximos da formulação dos compostos regenerativos, já que perdemos o tempo da profilaxia.

Enquanto nossos meios de comunicação continuarem concedendo espaços mais que generosos a quem até aqui com nada contribuiu para o desenvolvimento do nosso futebol, como são os casos recentes dos atletas Ciel e Rodrigo Mendes, em detrimento de movimentos com caráter progressista como o 1º Seminário Cearense de Futebol, abrangendo as modalidades deste segmento, permaneceremos na obscuridade, aviltados, amofinados, decrépitos.

Cabe-nos, pois, reagirmos a esse estado de coisas.

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EFEMÉRIDES

Veja o depoimento de um torcedor de classe média e esclarecido, a que prefiro preservar a identidade.


Ontem à noite, após a partida (ABC e Fortaleza), simplesmente perdi o sono e demorei a dormir. Tive que tomar dois soníferos (duas doses de uísque) pra conseguir me acalmar, relaxar e pegar no sono, ainda que no "tranco". Hoje acordei às 05h34min, ainda com sono, mal-humorado e sem vontade de levantar da cama, sendo que a primeira coisa que me lembrei foi do resultado do jogo de ontem. De qualquer forma, tive que levantar pra acordar as crianças e levá-las à escola.

Sou nervoso por natureza, minha esposa chegou pra mim e disse: "Meu filho, procure alguma forma mais sadia de entretenimento, esse time que você torce está prejudicando você, sua saúde e até a nós".

O pior que é verdade, não tive como refutar tais alegações, tanto é que a primeira coisa que fiz quando cheguei pra trabalhar foi ligar para a central de atendimento da Sky e cancelar o premiere futebol.

Sinceramente, não acho que vale a pena acompanhar os jogos ao vivo, pelo menos desse time que é o pior do campeonato.

Qualquer momento desses posso enfartar, não que eu seja cardíaco ou possua uma predisposição para tal enfermidade, mas é de bom alvitre tomar as precauções necessárias. O Fortaleza Esporte Clube só acompanharei aqui pelo nosso site ( fortaleza.net). Jogos ao vivo, pelo menos por enquanto, não dá mais pra mim.


A Copa é boa

Passar no vestibular para a Copa do Mundo, por si só, já representa um feito notável para o Estado do Ceará, mais ainda para a Região Metropolitana de Fortaleza. De fato, algo que requer uma primeira comemoração.

São inegáveis os benefícios que a região de circunscrição do evento terá. Como destino turístico, é lícito esperarmos que nosso Estado experimente um boom jamais visto.

Oportunidade também para que nutramos a expectativa de alguns generosos dividendos na esfera sócio-econômica.

Na área de comunicação, teremos tempo para rever posturas, buscar capacitação, incorporar novas tecnologias, aperfeiçoar as já existentes.

Também é racional que pensemos no crescimento da atividade econômica desde já, notadamente na área da prestação de serviços.

Passado o vestibular, nossa próxima tarefa - esta mais longa e penosa - será a aprovação na faculdade da Copa 2014.
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domingo, maio 24, 2009

NOVOS TEMPOS


A nova mídia


Os jornalistas malandros e comprometidos com o sistema estão com seus dias contados.

O surgimento de novas mídias, como os blogs, twitters e assemelhados, estão levando ao público, cansados da mesmice e da covardia de alguns meios tradicionais, alternativas que mudaram a maneira até então sonolenta de se obter informações.

Grandes mídias são pautadas por um verdadeiro Exército Brancaleone de blogueiros que realizam seu trabalho sem os vícios e ingerências da profissão.

Com o tempo, o joio será separado do trigo e o leitor seguirá acompanhando aqueles que julgam dignos de serem lidos.

Temos os casos de blogs que são muitos lidos na internet e que são escritos por gente que tem pouco ou quase nenhum espaço “oficial na grande mídia.

Embora, na verdade, sejam leituras obrigatórias nas principais redações do país.

Paulinho, Rica Perrone, Larissa Beppler, Roberto Vieira, Fabian Chacur, entre outros, tornaram-se conhecidos por realizarem um trabalho independente e desprovido de amarras.

Pode-se até não concordar com eles – muitos são amados e odiados na mesma proporção – mas há de se respeitar o que escrevem.

Eu mesmo não compactuo com muitas de sua idéias, com alguns deles as divergências são enormes, mas os acompanho, pelo simples fato de saber que falam o que pensam.

Há os casos também de dirigentes esportivos que, com a coragem rara daqueles que podem se expor, sem se comprometerem, criaram seus espaços de comentários e tornaram-se exemplos de combate às mazelas do esporte, além de alternativas para o que se lê atualmente na imprensa oficial.

Roque Citadini e Alberto Murray são os melhores exemplos.

Enquanto isso jornalistas tradicionais começam a se aventurar pelos campos vastos da internet.

Diferente do que se vê na televisão, por aqui, somente os melhores se estabelecem.

Caso de Juca Kfouri, Vitor Birner, Barbara Gancia, José Roberto Torero, Dan Stulbach e os amigos do Fim de Expediente, Alberto Helena Junior, PVC, Benja, Lauro Jardim, Luis Nassif, Ricardo Noblat, apenas para citar alguns.

Os medíocres são ridicularizados pelo público e tornaram-se verdadeiras piadas cibernéticas.

Milton Neves, Edgard Soares, Edir Macedo, V(W)anderlei(y) Luxemburgo, Fernando Vanucci, Portuga, entre outros, demonstram, a cada dia, a incompetência de seus trabalhos.

Mas não incomodarão o público por muito tempo.

A “faxina” do público, aos poucos, dará conta dessa gente.


Fonte: Paulinho

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segunda-feira, maio 18, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº151

“Estudo de forma multidisciplinar; ajo de modo interdisciplinar e penso pela ótica transdisciplinar.” (Benê Lima)

Opinião
QUE FUTEBOL QUEREMOS?


A mesmice tem-nos deixado ‘desantenados’ da realidade circundante do futebol globalizado

Temos uma crônica em parte anacrônica que deseduca e desacata nosso povo, população essa que pelo benefício da democratização dos meios de informação, imagina-se imune às sandices e ao pior do maquiavelismo, que, diga-se, não é ruim de todo.

E o pior é que ainda há quem defenda o indefensável, a troco do quê não sabemos nem alcançamos com convicção, embora imaginemos o interesse não confesso.

A APCDEC precisa de um Conselho de Ética que funcione, e que ele seja formado por membros respeitáveis, a fim de que nele se possa acreditar.

Diante mão já assumo posição contrária a qualquer corporativismo canhestro, porque minha alma não está à venda, embora possua elevado espírito de equipe. Sou bom de negociação, pois prefiro um acordo ruim a uma boa demanda. Mesmo quando me vi sensivelmente prejudicado, ainda assim me mantive em posição sóbria, equilibrada, sendo até perdulário em minha generosidade.

Mas, para quem não sabe um homem honrado possui o adicional da força moral. E como diz um velho adágio, ‘de dois homens iguais na força, tem mais força quem tem razão’.

O objetivo da preambular é para destacar que sei do que estou falando e que não me curvo a ameaças. Portanto, luto e continuarei a lutar por uma crônica esportiva séria e competente tanto quanto possível, pois jamais quererei para mim um carma coletivo que posso, pelo menos em parte, evitar.

O futebol cearense precisa olhar para si, para tentar identificar suas deficiências e as relações causais de sua estagnação. E, ao nosso juízo, o imobilismo que tomou conta deste futebol perpassa pela falta de reflexão crítica da nossa crônica esportiva, que aceitou como paradigma um conservadorismo fundado no desvalor.

O futebol mudou, continua mudando e nossa crônica continua preconizando o mesmo receituário. O ídolo deu lugar ao operário, as relações entre clubes e atletas foram refundadas e boa parte dos comentaristas ainda não se apercebeu das mudanças. Ninguém é obrigado a aceitar a Teoria da Evolução da Espécie ou o Evolucionismo. Todavia, que se aceite ao menos na teoria da evolução das idéias. Que tal?

E é com base nas idéias e em suas conexões empírico-científicas que estamos na vanguarda das mudanças no cenário do futebol cearense. Com a organização do I Seminário Cearense de Futebol Feminino, uma iniciativa ousada da Liga Cearense de Futebol Feminino (LCFF), pretendemos anunciar que as precondições indispensáveis ao ambiente do futebol em nosso estado estão sendo criadas, a fim de que um impulso desenvolvimentista irrompa sobre nós, bastando para isso que os atores, produtores e gestores dêem prosseguimento ao processo, através de suas efetivas participações.

Criar uma relação sistêmica entre os diferentes níveis e categorias do futebol, de modo a colocarmos o futebol amador na base da pirâmide do profissional, corresponde, creio, a estabelecermos um salutar processo de retroalimentação.

Portanto, mais importante que priorizar a resolução dos problemas pontuais é adotarmos a idéia de implementação de todo o processo genérico, para em seguida trabalharmos as soluções passo-a-passo.

Eis, pois, uma oportunidade de nos antenarmos com o futebol como ele é, e não mais como ele era.


EFEMÉRIDES

EU JOGO, NÓS JOGAMOS

Creio que a diferença básica entre Ceará e Vasco está expressa na pessoa verbal. Ou seja, enquanto no Ceará predominou o EU JOGO, no Vasco o predomínio esteve no NÓS JOGAMOS.

A verdade é que somos provincianos, e isso se evidencia tanto dentro como fora de campo.

O Vasco aqui veio para cumprir mais um jogo. Para os atletas do Ceará o jogo ganhou conotação diversa. Muito provavelmente, o grande prato midiático para suas projeções. Disto resultou a evidência dos projetos pessoais, sobrepondo-se aos interesses da equipe. Moral da estória: sucumbiu o time alvinegro cearense, ante o poder coletivo do adversário carioca.

Outro fator determinante para a ineficácia da produção do Ceará como equipe foi o açodamento de seu treinador, o Zé Teodoro, que não deu bola para o elemento entrosamento, arriscando todas as suas fichas na sobreposição da novidade(s) ao conjunto. Deu no que deu: jogo aéreo a cântaros, para uma defesa vascaína que se consagrava.

Jogadores como João Marcos e Reinaldo foram de uma obscuridade ofensiva a toda prova. Daí puxarem para baixo as produções de Wellington Amorim e Preto. Estes dois não são atacantes para resolverem os lances a partir do meio-campo. Precisam de aproximação, da assistência, do diálogo da bola com os companheiros.

De outra parte, faltou ao Ceará o que teve o Vasco, embora de forma minguada: um homem de armação. O Vasco contou com dois: Enrico no primeiro tempo, Léo Lima no segundo. Mais ainda, o Ceará não teve a válvula de escape chamada Ramon.

Mas foi só uma partida, e daquelas que podem ser descartadas, pois só há um Vasco na Série B, e esse Ceará que aí está tem potencialidade para crescer e aparecer.

Palavra de crítico.



POR QUE O FORTALEZA PREOCUPA

É visível certo descompasso entre o trabalho do departamento de futebol tricolor e o de seu treinador.

Já vi de outras vezes o treinador ser prejudicado pela inexperiência e incompetência da direção de futebol, mas não desta feita. Um caso marcante foi o de Dorival Júnior, atual técnico vascaíno, que em 2005 quando esteve no Pici, foi vítima do noviciado da época. Contudo, hoje quem desafina é o comando técnico da equipe.

É certo que as contratações de Renan, Papellim e Ocílio parecem modestas, algumas até superlativamente modestas: modestíssimas. Porém, independente dos resultados práticos, não temo em afirmar que a política, aprioristicamente, é acertada.

Pior é sabermos que a conversa entre Renan Vieira e Mirandinha, a julgarmos pelo discurso de ambos, de nada serviu.

Mirandinha acha que o que faltou foram explicações. Renan, por sua vez, em momento algum pós-conversa se mostrou convencido – sequer satisfeito – com as colocações de Mirandinha.

Se nos parece que falta pouco para a queda do já não tão comandante técnico do Leão. Mas vejo salvação à distância para ele, só não sei se ele terá tônus para vencer os enormes desafios.

Na verdade, o trabalho de Mirandinha jamais convenceu pelo quesito produção. Foram os resultados medianos e os pífios que o mantiveram.

Mirandinha precisa rever conceitos. Ser mais pragmático e menos estiloso é um bom início. Adotar um discurso menos megalômano (Ferrari) e mais humilde (Copersucar). Também comprar um pouco do espírito gregário, sociável e de equipe valerá mais que qualquer talismã ou amuleto.

Te cuida DINHA, que o MIRAN já se foi.


Benê Lima
benecomentarista@gmail.com
www.lcfutebolfeminino.blogspot.com
(85) 8898.5106

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sexta-feira, maio 15, 2009

Destaque Nacional


PORTAL DE SÃO PAULO DIVULGA EVENTO DA LIGA CEARENSE DE FUTEBOL FEMININO


CE terá seminário
sobre futebol feminino

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, em São Paulo


A Liga Cearense de Futebol Feminino (LCFF) vai organizar, nos dias 28 e 29 de maio, o I Seminário Cearense de Futebol Feminino, que abordará temas como a gestão e a profissionalização da modalidade. Para reforçar a mentalidade da entidade, a ligação do setor com o esporte amador deve ser um tema recorrente.

No primeiro dia, o professor Francisco de Assis inaugurará os painéis com uma palestra sobre a ética como fator vital para a construção de uma cultura corporativa.

Na sequência, o futebol cearense vai entrar em pauta, com um debate sobre as possibilidades de modernização do setor. Mauro Carmélio, vice-presidente e diretor jurídico da Federação Cearense de Futebol (FCF) e Benê Lima, presidente da Confederação Brasileira de Futebol Amador, serão os responsáveis pela discussão.

Para encerrar o dia, Marcos Gaspar, técnico da seleção sub-20 do Brasil e professor de educação física, falará sobre o atual panorama do esporte no país.

No segundo dia, Marcelo Marinho, coordenador administrativo e comercial do Instituto Wanderley Luxemburgo (IWL), falará sobre o futebol do passado e a relação deste com o presente. Logo depois, Renezito Júnior, coordenador do futebol feminino da UDM, discutirá a importância do futebol amador para o mercado.

Para encerrar, o encontro contará com a zagueira Aline Pellegrino, jogadora do Santos e um dos grandes destaques da atual geração da modalidade. A atleta falará sobre as novas perspectivas do futebol feminino.

O encontro acontecerá em Fortaleza, na sede da Faculdade Católica, e os interessados devem consultar o site oficial do evento para se inscreverem.

http://maquinadoesporte.uol.com.br/v2/noticias.asp?id=13046
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Informações: (85) 8898-5106 c/ Benê Lima
e-mail: benecomentarista@gmail.com
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O FUTEBOL COMO ELE DEVE SER

A responsabilidade científica do futebol

Nada se resolve só com especialistas, com a neutralidade do positivismo, mas com peritos que o são porque também conhecem o todo

Já o Sporting tinha sido excluído da Champions League, por duas derrotas descomunais e o Benfica, ainda na fase de grupos, sofrera igual tratamento porque mostrou, sem margem para dúvidas, que se encontrava corroído por uma espécie de cancro de que não se conhece a origem e eis que por causa de um erro do árbitro Lucílio Batista, na final da Taça da Liga, o mundo lisboeta do futebol rompeu em sanhudos debates, sustentando os sportinguistas que o árbitro os “roubara” propositadamente e os benfiquistas que a Taça lhes coube, em clara honradez de processos.

Entretanto, o F.C. Porto assiste do pódio de campeão, piscando um olho discreto e vencedor, à conversa azeda entre os dois principais clubes da capital, que parecem viver em clima de marasmo, derrotismo, de verdadeira confusão mental.

Com efeito, o que é a Taça da Liga? No âmbito europeu
muito pouco! No âmbito nacional, é uma prova que serve, à maravilha, para o Sporting e o Benfica esconderem a sua gritante incapacidade à conquista do Nacional de Futebol e para se afirmarem no futebol europeu.

Não ponho em causa as poucas e lúcidas páginas que justificam a Taça da Liga. O que está aí, à vista de toda a gente, é que os principais clubes, ou olham para ela com um olhar lateral e sem interesse, ou fazem o que os actuais Benfica e Sporting (e digo actuais porque já os conheci, quando escreveram páginas imorredoiras, na história do nosso futebol) parecem ser especialistas: legarem à posteridade um retrato onde se surpreendem os tiques e os ridículos de uma macrocefalia que se fez acéfala.

E, no entanto, há no Benfica e no Sporting funcionários e técnicos (incluindo os de saúde) de eloquente competência e honestidade. Uma boa parte deles conheço-os, há largos anos. Alguns muito me ensinaram, quando foram meus alunos. O que se passa então, no futebol sénior destes clubes, que se encontra confuso e envolto em sucessivos falhanços, mascarados por longas
disputas e cansativas parlengas?

Há poucos dias, um daqueles técnicos, que não teme cotejo com o que de melhor apresenta, na sua área, o futebol inglês, ou o italiano, ou o espanhol, confessava-me, derramando uma sentida tristeza: “Professor, no campo da avaliação dos índices de fadiga e do controlo de treino e da recuperação física e da prevenção das lesões etc. e até no da observação e análise de jogo, estamos ao nível do que melhor se faz na Europa e por isso lhe pergunto: o que nos falta, no seu entender, para sermos uma equipa vencedora?”. Tinha o rosto carregado de ansiedade e prosseguiu: “Lembro-me, com frequência, do que nos ensinava nas aulas e muitas vezes dou comigo a repetir: é preciso saber mais do que futebol, para se saber de futebol. Professor, estou rodeado de gente que sabe de futebol e a prestação da equipa, que tem jogadores de classe, é um rosário de insucessos”.

Sempre tive receio de falar do que nunca fiz. Se bem que razoavelmente informado, designadamente no que à filosofia das ciências diz respeito, sou um modestíssimo filósofo. No entanto, não posso esconder que levo uma vida de convívio fraterno com treinadores desportivos de excepcional relevo, como o Mário Moniz Pereira, o José Maria Pedroto, o Mário Wilson, o José Mourinho. Leio, atentamente, os livros do Jorge Castelo, um teórico sem par no futebol europeu,
do Jorge Araújo, que realiza um incomparável (entre nós) trabalho interdisciplinar desporto-gestão, do José Neto que não se cansa de apontar-me os pontos mais salientes da vasta problemática do futebol. Escuto o que o Jorge Jesus me relata do seu dia-a-dia de treinador perspicaz e diligente. Acompanho, mesmo com entusiasmo, o futebol português e o internacional. Não me escusei, por tudo isto, à resposta que o meu interlocutor me solicitava:

Se todos sabem muito de futebol e a equipa, mesmo com jogadores de grande valia técnica, não é eficiente, a organização, que transforma um conjunto em sistema, não funciona.

Repito: é a organização que une e transforma os elementos em sistema. Mas esta união é mais qualitativa do que quantitativa. Um conjunto de bananas não faz um sistema. O conjunto é sistema, quando é corpo e alma, ou seja, quando o jogador corre e remata e defende e luta... porque acredita! Quando o seu desempenho, a sua atitude ganhadora resultam de uma totalidade que não se desmorona porque objectivos bem nítidos e fundamentados a informam. Um dos mais notáveis biólogos de todos os tempos pode ser ouvido, neste passo: “o que define uma máquina são as relações (...). A organização de uma máquina implica matéria, mas esta matéria não entra enquanto tal na definição de máquina” (Francisco Varela, Autonomie et
Connaissance. Essai sur le vivant, Seuil, Paris, 1992, p. 128).

Agora, meu querido amigo, sou eu a perguntar-lhe: todos os jogadores do seu clube acreditam no treinador e naquilo que ele determina ou propõe?... Redarguiu, sem dificuldade: “Nem todos”. E eu muito lépido: assim, as relações estão inquinadas e a máquina funciona mal, inevitavelmente! Os jogadores até podem ser muito profissionais, mas só se é vencedor quando se é mais do que profissional, quando se é, digamos a palavra: crente! Resumindo: quando, sem rejeitá-lo, se ultrapassa o próprio raciocínio lógico e dedutivo.

Na alta competição, o futebolista é, em todos os momentos, interpelado, convocado a dar uma resposta complexa, total às solicitações do jogo e da própria vida. A responsabilidade do futebolista (como do praticante de qualquer outra modalidade, em alta competição) é humana, bem antes de ser futebolística.

“Que hei-de eu fazer, professor?”. E a interrogação ficou a ressoar, expectante, na boca do meu antigo aluno. Respondi-lhe: leia os dois últimos livros de Edgar Morin, publicados pela Editora Piaget. Leia, sem receio, criticamente. O que embrutece não é a falta de instrução, mas a convicção da inferioridade da nossa inteligência. São duas obras de reduzida dimensão e, depois, voltamos a falar. A responsabilidade social do futebol reside aqui: em dizer ao mundo em que vivemos que nada se resolve só com especialistas, com a neutralidade do positivismo, mas com peritos que o são porque também conhecem o todo.

Como bem o mostrou Michel Serres, no seu livro La traduction. Hermes III (Minuit, Paris, pp. 81-83), o perito, à maneira antiga (e há uma praga desta gente, nas altas instâncias do futebol) tem um discurso parcial, limitado, reduzido a uma única problemática. Como se tudo não estivesse em rede com tudo! Ocorre-me o Imbelloni, ao tempo treinador do Braga, a sustentar que no futebol tudo estava inventado. Desconhecia o antigo jogador argentino que, numa compreensão complexa da realidade, a inércia é impossível, dado que tudo é processo, tudo se encontra em devir histórico. No desporto, a competição é tentativa de superação
é movimento! E o que é o progresso senão mudança contínua?

As crinas brancas das ondas emergiam à superfície da paisagem em que o nosso olhar se perdia. Almoçávamos tranquilamente, na Costa da Caparica...

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal


Perfil
Manuel Sérgio


É licenciado em Filosofia; doutor e professor agregado em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa; Medalha de Mérito Desportivo, concedida pelo Governo Brasileiro e Honra ao Mérito Desportivo, concedida pelo Governo Português; Medalha de Ouro do Conselho de Almada. É autor de 38 livros. Professor catedrático aposentado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa. É também presidente do setor universitário do Instituto Piaget (Almada). Antigo professor da Universidade Estadual de Campinas; sócio da Associação Portuguesa de Escritores e antigo Dirigente do Clube de Futebol "Os Belenenses".

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quarta-feira, maio 13, 2009

Tática para quem se liga nela

Referências para a ocupação do espaço sem bola

Ao optar pela marcação individual, aumenta-se o número de referências, sendo que essas (os jogadores) buscam a desestruturação da equipe que os marca

Leandro Calixto Zago
Considerada por Júlio Garganta (1997) uma competência essencial e inerente aos Jogos Desportivos Coletivos (JDC), a estruturação do espaço de jogo emerge como uma componente fundamental no processo de construção de uma equipe desde o nível individual, manifestada na compreensão e ocupação de espaços mais interessantes por parte do atleta a cada situação problema que o jogo apresenta e na gestão coletiva do espaço de jogo, onde a equipe estrutura-se em campo com o intuito de obter vantagem espacial e numérica pelo maior tempo possível nas mais variadas zonas do campo.
A ocupação do espaço não acontece de forma aleatória. Ela tem (ou pelo menos deve ter) um significado para o jogador e para a equipe que se auto-organiza o tempo todo em função dos objetivos do jogo. A Lógica do Jogo de Futebol (Leitão, 2004) é comum a todos os jogos e imutável, os caminhos para cumpri-la é que podem exigir meios diferentes e o que apresenta uma enorme variação é a forma como cada equipe se organiza em nível estratégico para vencer partidas e quais as referências que dão sustentação a essa organização estratégica.

Portanto, a criação de referências que norteará as decisões dos jogadores para que reajam em função de algo que seja comum a todos, possibilitando o jogo em equipe de forma concreta.


Figura 1 – Plataforma Tática 1-4-4-2 Zonal (vermelha)

Na figura acima, pode-se observar que a equipe que está sem bola (vermelha) respeita algumas referências para a ocupação do espaço quando sem bola. Algumas delas são:
- a posição da bola: independente da posição ocupada pela equipe azul quando em posse da bola, a equipe vermelha irá se comportar em função de seus próprios jogadores;
- lado fraco: a faixa contrária à bola fica desocupada momentaneamente para que mais jogadores ocupem uma área entre a bola e o gol (flutuação e compactação como princípios estruturais sendo realizadas nesse caso);
- quadrantes: a ocupação dos quadrantes se dá de forma equilibrada, porém prioritária (espaços de maior valor), permitindo criar superioridade numérica se necessário;
- linhas de marcação: a orientação para a estruturação da marcação por zona é a formação de linhas que permitem maior equilíbrio horizontal.

É importante frisar que as referências para a estruturação do espaço sem bola devem estar relacionadas com as referências para a estruturação do espaço com bola e com todas as outras referências (operacionais, por exemplo) de forma que interajam potencializando o efeito uma da outra e nunca atuando de maneira concorrente. Outro detalhe que vale a pena ressaltar é que essas referências citadas acima estão baseadas numa marcação por zona e, caso seja feita a opção por uma marcação individual ou mista, deve-se buscar outras referências.

Marcar em função da posição da bola (zona) para alguns treinadores é considerado desvantajoso pela grande velocidade que a mesma pode atingir. Porém, ao optar pela marcação individual, aumenta-se o número de referências (onze), sendo que essas (os jogadores) buscam a desestruturação da equipe que os marca. Independentemente das escolhas do treinador por esta ou aquela forma de jogar, só com referências bem definidas que o caráter coletivo da equipe será manifestado.


Bibliografia
Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado).
Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.
Leitão, R. A. A. (2004) Futebol: análises qualitativas e quantitativas para verificação e modulação de padrões e sistemas complexos de jogo. UNICAMP, Campinas.
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Governador do Rio de Janeiro critica administração dos clubes brasileiros

Para Sérgio Cabral, os departamentos de futebol das agremiações devem ser encarados à parte do restante da estrutura

Equipe Universidade do Futebol

Na última segunda-feira, foi realizado, no Palácio da Guanabara, um evento comemorativo ao tricampeonato carioca conquistado neste ano pela equipe do Flamengo. No entanto, Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, preferiu, no seu discurso, criticar a maneira como os clubes de futebol são administrados no Brasil.

“Tenho discutido futebol com todos os clubes do Rio. É evidente que temos o melhor futebol do mundo, esses rapazes têm um talento insuperável. Só que o futebol está se tornando um negócio internacional no Brasil e esse fenômeno é absolutamente natural no mercado capitalista. Somos o maior celeiro do mundo, mas falta profissionalização”, comentou o governador do Rio de Janeiro.

Além de apontar para a importante adequação das agremiações à realidade que se vive no futebol, Sérgio Cabral também criticou o processo eleitoral das entidades esportivas, e sugeriu que os departamentos de futebol deveriam ser vistos à parte do restante do clube.

“Sinceramente, acho que um clube como o Flamengo não pode ter o futuro definido por ‘meia dúzia’ de dois mil sócios, entre eles e eu. É uma injustiça. O futebol é um caso à parte. Assim como no meu Vasco da Gama e em outros clubes. Temos que ter uma estrutura profissional. Os sócios podem decidir, mas juntamente com uma estrutura profissional. O clube deve ser tratado como empresa”, alertou o político.

O governador do Rio de Janeiro apontou o São Paulo como um exemplo a ser seguido pelas demais agremiações brasileiras, e se colocou em oposição aos críticos da Lei Pelé.

“O São Paulo não chegou onde chegou à toa. Se não é o ideal, é quem mais se aproxima de uma estrutura profissional. O mercado se estrutura, os jogadores também, mas os clubes também têm que fazer isso. Os clubes não se prepararam. Alguns criticam a Lei Pelé. Acho que ela foi uma grande carta de alforria para estes atletas, que eram reféns de estruturas antigas de clubes que não se modernizaram. Essa é a verdade”, disse Sérgio Cabral

Por fim, o político garantiu que, em breve, pretende repassar a administração do estádio do Maracanã para o setor privado. “Vamos largar o osso e deixar para o setor privado. Não é tarefa do governo administrar o Maracanã. No mundo inteiro isso não acontece. A responsabilidade do governo é dar segurança ao Maracanã e conceder para o setor privado os investimentos que o estádio precisa”, concluiu.

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Cruyff aponta futebol sem espetáculo como causa do pequeno público na Itália

Para o ex-atleta e ídolo da torcida do Milan, o pensamento exclusivo no resultado do jogo faz com que a forma de se jogar no país seja desinteressante

Equipe Universidade do Futebol
O futebol italiano não conseguiu colocar nenhum dos seus principais clubes nem nas quartas-de-final da Liga dos Campeões da atual temporada. O futebol do país ficou bem aquém dos poderosos ingleses e dos ofensivos espanhóis.

De acordo com Johan Cruyff, ex-jogador e ídolo da torcida do Milan, um dos principais problemas do futebol italiano é a falta de público dentro dos estádios. Segundo o holandês, como a maneira como é praticada a modalidade na Itália não encanta, os torcedores não demonstram interesse de ir às arenas para acompanharem as partidas, o que também acaba por minar as receitas da bilheteria dos times.

"Não sei se o futebol italiano está em crise. Mas é inegável que o maior problema lá é a falta de público. Este deveria ser a maior preocupação dos dirigentes", comentou Cruyff.

O ex-jogador do Milan não defende a maneira como é encarado o futebol na Itália. A preocupação exclusiva com o resultado do jogo, e não com o espetáculo proporcionado ao público, seria algo a ser revisto, na opinião de Cruyff.

"O Barcelona, por exemplo. As pessoas gostam de ir ao estádio ver o time jogar porque a equipe dá espetáculo. Na Itália, entretanto, apenas o resultado interessa. Deveria ser dada uma maior importância ao tipo de futebol que é apresentado", comparou o holandês.
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sexta-feira, maio 08, 2009

Humanas e Sociais

Sobre as boas e velhas crônicas de futebol

Elas contavam com a autoria de um "poeta-repórter" que retira os acontecimentos do caldo da indistinção e lhes oferece "um encanto específico"

Diana Mendes Machado da Silva

“Houve um tempo, no passado do homem, em que o fato tinha, sempre, um Camões, um Homero, um Dante à mão. Por outras palavras: o poeta era o repórter que dava ao fato o seu encanto específico. Hoje, nós temos tudo: jornal, rádio e tevê. O que nos falta é, justamente, a capacidade de admirar, de cobrir o acontecimento com o nosso espanto
Nelson Rodrigues- Manchete Esportiva 12/05/1956[1]
Na opinião de muitos especialistas, as crônicas esportivas têm sofrido de maus tratos e certo saudosismo dos “tempos áureos” acompanha aqueles que as leem. Se considerarmos as palavras de Nelson Rodrigues, veremos que essa queixa existe há, pelo menos, 50 anos. Embora ele não trate especificamente do jornalista esportivo, sua afirmação não deixa de incluí-lo, principalmente se levarmos em conta os anos que dedicou à crônica esportiva. Desse modo, sua queixa nos apresenta um dilema. Estaríamos apenas diante do típico comentário “antigamente é que era bom”? Ou então, atribuindo o devido valor a uma observação do grande jornalista e dramaturgo, estaríamos diante de uma reação aos primeiros sinais de transformação no modo de fazer jornalismo?

A segunda alternativa nos parece mais adequada e nos coloca novas questões: houve, de fato, um período áureo das crônicas esportivas no Brasil? E se houve, como eram as boas e velhas crônicas de futebol? Por último, em que consistiriam os maus tratos atuais? Sabemos que não é possível responder apropriadamente a todas as questões aqui. Contudo, gostaríamos de levantar alguns elementos para a discussão sobre a trajetória da crônica esportiva no país.
Comecemos com uma breve análise do texto de Nelson Rodrigues. O autor compara duas formas de lidar com os fatos, a do tempo “passado” e a do tempo presente (anos 50, no caso). De maneira bastante curiosa, ele afirma logo na primeira oração que o “fato tinha”, “no passado”, seus poetas, como se dissesse: no passado, os fatos dispunham de um Camões, Homero ou um Dante. Com a inversão do sujeito, uma vez que não são os poetas que dispõem dos fatos para criar seus poemas épicos, mas os fatos que contam com eles para lhes dar especificidade, o autor destaca a centralidade dos poetas – e não dos fatos, como poderia parecer.
Voltaremos a essa questão. Por ora, continuemos com a comparação. Se prosseguirmos com o raciocínio inicial de nosso autor, perguntaríamos a seguir: no passado, os fatos dispunham de poetas, mas, e nos dias de hoje (novamente, leia-se anos 50), de que dispõem os fatos? De “jornal, rádio e tevê”, seria a resposta. A essa altura, nossa compreensão do pequeno texto é ampliada. O autor trabalha com extremos para tornar aguda a sua crítica. De um lado, estão os fatos que dispõem do poeta, da autoria do poeta. E de outro, estão os fatos que contam somente com as mediações. Fatos anônimos, poderíamos dizer. Sua constatação está muito próxima daquela realizada por Walter Benjamin, 20 anos antes, em “O narrador” [2]:
Ela [a narrativa] mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador [...] Os narradores gostam de começar sua história com uma descrição das circunstâncias em que foram informados dos fatos que vão contar [...] Assim, seus vestígios estão presentes de muitas maneiras nas coisas narradas, seja na qualidade de quem as viveu, seja na qualidade de quem as relata.” (p.205)
As imagens usadas por Walter Benjamin e Nelson Rodrigues são muito semelhantes, embora o escritor alemão não estivesse falando de jornalismo ou jornalistas. Os fatos, as narrativas são, para eles, espécie de entidades a envolver os narradores, imagem que sugere certa fusão entre esses elementos. É evidente o jogo estabelecido entre matéria-prima e artista, ou melhor, artesão. Em outras passagens, Benjamin deixa claro que o narrador é o artesão da palavra. Figura que, coincidentemente, desaparecia no momento em que escreveu “O narrador”. Podemos concluir agora o problema da especificidade dos fatos, a partir de outro texto de nosso jornalista:
“Ora, o jornalista que tem o culto do fato é profissionalmente um fracassado. Sim, amigos, o fato em si mesmo vale pouco ou nada. O que lhe dá autoridade é o acréscimo da imaginação...” (Manchete Esportiva, 31/03/1956)[3].
Em síntese, para Nelson Rodrigues, as boas e velhas crônicas de futebol contavam com a autoria de um “poeta-repórter” que retira os acontecimentos do caldo da indistinção e lhes oferece, por meio da narrativa, um “encanto específico”, uma identidade, um nome, como fizeram os grandes poetas com suas epopéias, ou os narradores, como Nicolai Leskov, estudado por Walter Benjamin.
Tarefa levada a cabo, em certo sentido, pelos cronistas que antecederam a Nelson Rodrigues e de que falam Bernardo Borges Buarque de Hollanda, em O descobrimento do futebol. Modernismo, regionalismo e paixão esportiva em José Lins do Rego e Fátima Antunes, “Com brasileiro, não há quem possa. Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues”.
Publicados em 2004, seus trabalhos seguem como referências para os estudos sobre os primeiros anos da crônica esportiva em São Paulo e Rio de Janeiro. Para estes autores, José Lins do Rego, Mario Filho e o próprio Nelson Rodrigues aprimoraram a crônica esportiva como gênero literário, algo antes só “intuído” por nomes como Coelho Neto, Lima Barreto ou Graciliano Ramos, no início do século XX. Profundamente envolvidos com as discussões sobre o caráter nacional, respectivamente nos anos 20 e 30, 40 e 50, José Lins, Mario Filho e Nelson Rodrigues realizaram, por meio da crônica, o diálogo entre essas questões e a cultura popular. E o futebol foi o legítimo intermediário desse diálogo. Vejamos mais sobre esse aspecto na análise de Bernardo Buarque de Hollanda:
[...] os temas da crônica esportiva entrosavam com a vida de milhares de torcedores, não apenas como mais uma informação, dentre as inúmeras que sobejavam na metrópole, mas como o centro dos debates que mobilizavam de forma calorosa uma das primeiras marcas de identidade desses habitantes – ser Flamengo ou Vasco, ser Fluminense ou Botafogo, ser América ou Bangu.” (p.134)
Esses autores foram os herdeiros do tema modernista acerca da identidade nacional e os precursores da elaboração e difusão dessa idéia na imprensa e, mais especificamente, na imprensa esportiva. Escreveram sobre futebol, política e cultura em suas crônicas. Narraram os fatos futebolísticos oferecendo-lhes a singularidade de quem é movido por indagações sobre os sentidos e os rumos do esporte e do país.
Com essa questão, talvez fique mais clara a raiz do saudosismo de Nelson Rodrigues nos anos 50 e de, pelo menos, mais duas gerações de jornalistas e leitores da crônica esportiva. Seus antecessores eram brilhantes, sabemos. Mas foram brilhantes, é importante repetir, no trato de temas nacionais indubitavelmente ligados ao futebol e à cultura popular. Leram no futebol, leram pelo futebol, leram com o futebol as questões fundamentais para aquelas gerações. E conseguiram imprimir nos fatos a marca do narrador-artesão que não instrumentaliza seu objeto, funde-se com ele.
Por último, resta falar sobre os maus tratos sofridos pela crônica esportiva contemporânea. Seria muito simples e tentador atribuir os maus tratos à suposta apatia dos jornalistas na busca obsessiva pela objetividade dos acontecimentos. Tentador porque nos dispensaria de pensar acerca das circunstâncias da vida pública nacional, em que se inclui também nosso futebol, tão mercantilizado que está.
*Diana Mendes Machado da Silva é pesquisadora em História Social e membro do Gief e do Memofut.

Bibliografia

ANTUNES, Fátima M. R. Ferreira. Com brasileiro, não há quem possa. Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues. São Paulo: Ed. da UNESP, 2004.
BENJAMIN, Walter. O narrador in Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de. O descobrimento do futebol. Modernismo, regionalismo e paixão esportiva em José Lins do Rego. Rio de Janeiro: Edições Biblioteca Nacional, 2004.

RIBEIRO, André. Os donos do espetáculo: histórias da imprensa esportiva do Brasil. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2007.


[1] Apud Ribeiro, André. Os donos do espetáculo: histórias da imprensa esportiva do Brasil. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2007.
[2]BENJAMIN, Walter. O narrador in Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
[3] Apud ANTUNES, Fátima M. R. F. “Com brasileiro, não há quem possa”: futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues. São Paulo: Unesp, 2004.

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Comportamento e infraestrutura para a segurança nos estádios


Poder da proxêmica é extraordinário e poderia ser uma forma de implantar num estádio uma metodologia de prevenir esses comportamentos inadequados

Lilian de Oliveira

Não só no Brasil, mas em muitos países, a segurança nos estádios é uma questão que está sendo encarada como a prioridade na organização de campeonatos de futebol. A Uefa Champions League é a vanguarda nesta questão e realizou já alguns workshops de segurança envolvendo várias federações europeias e se disponibilizam a informar sobre design e técnicas de segurança na criação de novos estádios. Diversas formas de abrangência já foram estudadas, e destaques como a Espanha, Inglaterra e Itália já conseguiram reduzir drasticamente as manifestações violentas e de hooliganismo em seus estádios.
A Universidade de Leicester, por exemplo, tem um departamento que estuda somente questões relacionadas ao futebol, inclusive à segurança nos estádios. Conforme estudos feitos com primatas, foram aplicadas na Inglaterra novas técnicas para conter qualquer sinal de violência antes que as pessoas percebam.
O comportamento em massa é muito diferente do comportamento de qualquer manifestação individual. As atitudes e movimentações de multidões funcionam como bolas de neve e ganham proporções muito maiores com desgastes muito superiores. Para isso, o estudo em Leicester adotou a inserção de policiais a paisana no meio das torcidas, que estão treinados a identificar qualquer indivíduo-problema. Essa abordagem diminuiu drasticamente o número de pequenas manifestações que poderiam gerar grandes “guerras” dentro de estádios britânicos.
Na Itália, por exemplo, um prazo foi dado para que a “Tessera dei Tifosi” (os cartões de sócio-torcedor) fosse aderida por todos os times. Ainda há alguns que não estão usando, mas serão penalizados caso não adotem esse método dentro do prazo estabelecido. Alguns italianos torcedores do Milan, um dos primeiros times a tomarem o procedimento, já disseram sentir uma grande diferença na segurança, já que esse tipo de cartão de crédito registra a entrada de todos que entram no estádio e bane os torcedores que causam tumultos por cinco anos.
Além do registro que o cartão proporciona à segurança, ele também oferece benefícios aos que o possuem. Parcerias dos clubes com comércios dão descontos, há a prioridade da compra dos bilhetes para as partidas do time do qual a pessoa é torcedora, brindes, a possibilidade de reservar bilhetes, e também de comprar bilhetes para outras pessoas (claro que declarando esta pessoa antes do jogo). Para isso, no caso do AC Milan, é necessário para somente no momento da aquisição o valor de dez euros.
De outra forma, medidas de adequação e atualização de estádios e de seu entorno viabilizam uma limitação comportamental, por meio de barreiras ou até mesmo de organização dos horários de entradas e saídas das torcidas. Uma outra sugestão é que poderia ser feito um estudo de proxêmica, um ramo da arquitetura que influencia no comportamento por meio de estímulos que não são percebidos pela maioria das pessoas. Um exemplo básico desse estudo é a forma como livrarias se organizam para que as pessoas observem e percorram todas as estantes da loja. Mesas redondas são escolhidas de forma a alimentar um percurso. Sem que o cliente perceba, ele é induzido a percorrer a loja, atraído por cores, placas, formas e organização das estantes, altura dos produtos, preços, etc. O poder da proxêmica é extraordinário e poderia ser uma forma de implantar num estádio uma metodologia de prevenir esses comportamentos inadequados, mas acredito que este nunca foi um ponto estudado no setor de eventos de grandes massas.
Além de ser uma metodologia menos agressiva como o policiamento atual, ainda é mais econômico por ser algo que é feito uma vez e depois não são necessários manutenção ou gastos com funcionários.
A conscientização dos torcedores durante esses eventos e por meio de mídias como a televisão e a internet seriam de grande eficiência em longo prazo. Portanto, para uma Copa do Mundo no Brasil em 2014, essa ferramenta deveria ser utilizada desde já – não se conscientiza toda uma torcida de imediato. Essa fórmula, junto à imagem de ícones do futebol, também pode ser utilizada. Se não fosse eficaz, grandes marcas não adotariam esses ícones como imagem de seus produtos. Trata-se também de um comportamento mais ligado ao futebol, pois não estamos acostumados a ver esse mesmo tipo de comportamento em outros esportes de grande valor no Brasil, como vôlei, natação, etc. Portanto, é uma questão de hábito, que, por meio desse método, pode ser revertido.
As medidas preventivas já demonstraram ser as mais eficazes e mais baratas. No Brasil, o cartão do sócio-torcedor está em fase de implantação. No entanto, o que deveria ser feito é um conselho de segurança com profissionais de diversas áreas a fim de abranger todos os conhecimentos possíveis para prevenir atitudes violentas, dentro e fora dos estádios, sejam eles de urbanismo, arquitetura, marketing, técnicas de policiamento e de organização dos campeonatos, financeiros, de psicologia, sociologia, ou qualquer outro segmento que possa trazer, em conjunto, uma metodologia de ação e de política de tolerância zero para um sistema seguro ao torcedor. O segredo está na união de diversas atividades.
Bibliografia
Departamento de Sociologia da Universidade de Leicester: www.le.ac.uk/snccfr
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Campeonato Brasileiro de 2009 será laboratório para medidas que visam a Copa de 2014


O ministro dos Esportes, Orlando Silva, afirmou que além de investimentos, obras e arenas, para a copa, o Brasil precisa de uma torcida educada e bem comportada

Equipe Universidade do Futebol

No próximo fim de semana começará a disputa do Campeonato Brasileiro 2009. O torneio servirá como palco de experiências visando a Copa do Mundo de 2014, que acontecerá no Brasil.

Por conta disso, na última quarta-feira, foram anunciadas algumas medidas pelo Ministério do Esporte e pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para garantir mais segurança e conforto aos torcedores durante as partidas do torneio nacional. No entanto, não foram estabelecidas datas para a implementação dessas medidas.

Uma das propostas da CBF é implementar, em alguns estádios, o sistema de lugares marcados. A confederação irá designar alguns setores da arena para os quais haverá venda de ingressos com numeração fixa. Dessa maneira, o torcedor terá que sentar-se na cadeira com o número referente à sua entrada. A ideia é adequr-se ao que ocorre nos principais eventos europeus e da Fifa.

O principal objetivo de utilizar o Campeontao Brasileiro de 2009 como laboratório para a Copa de 2014 é acostumar os torcedores às medidas exigidas pela Fifa para a realização do evento de seleções. "Vamos começar a fazer isso em locais mais organizados, como o Estádio de Pituaçu, na Bahia", declarou Ricardo Teixeira, presidente da CBF.

Outras medidas que devem ser postas em prática são às referentes a questões de combate a violência nos estádios. O Projeto de Lei nº 451, aprovado, na última quarta-feira, pela Câmara dos Deputados, passará pelo Senado e, por fim, será encaminhado para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Só aí as medidas valerão legalmente.

"Endurecer a lei é fundamental para combater a violência. Torcedor com bomba caseira, pedaço de pau e que provocar briga nos arredores dos estádios pode ser preso de seis meses até dois anos", explicou o ministro do Esporte, Orlando Silva. "Se for réu primário, o torcedor pode ser solto, mas ficará banido dos estádios por algum período", completou.

Segundo o ministro, o governo vai investir na compra de câmeras para aprimorar o sistema de monitoramento dentro e nos arredores dos estádios. "Copa do Mundo requer obras, investimento, arenas, mas também uma torcida educada e bem comportada", alertou Orlando Silva.

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